Candidata única na disputa, a cidade australiana de Brisbane foi anunciada nesta quarta-feira (21/7) como sede dos Jogos de Verão de 2032, o que permite ao mundo olímpico preparar o futuro a dois dias da cerimônia de abertura dos Jogos de Tóquio, tão tumultuados que poderiam desestimular outras candidaturas.
Após um processo sem suspense, Brisbane foi escolhida pelos membros do Comitê Olímpico Internacional (COI), reunidos na capital japonesa para a 138ª sessão da entidade, e sucederá a Paris-2024 e Los Angeles-2028.
Esta é a primeira vez que a sede do evento esportivo mais importante do mundo é definida com 11 anos de antecedência, e sem disputa, depois de verdadeiras batalhas entre países candidatos durante décadas.
Mas a capital do estado de Queensland inaugurou um novo procedimento adotado em 2019, que permite assegurar a organização dos Jogos. O COI pode iniciar, desde já, um "diálogo" com uma candidata "preferencial". Isso equivale a abrir o caminho para sua designação oficial, com o objetivo de diminuir as dúvidas crescentes sobre a organização dos Jogos, reduzir os gastos e criar uma lista de futuras cidades-sede.
Na prática, trata-se do fim do custoso trabalho de "lobby", dos escândalos de compra de votos, como aconteceu nos Jogos de Inverno de Salt Lake City-2002, das delegações em clima de suspense e dos abraços e lágrimas transmitidos para o mundo inteiro no momento do anúncio da cidade vencedora.
Entre os raros países a participar de todas as edições dos Jogos Olímpicos de Verão, a Austrália é "uma imensa vila olímpica" com suas múltiplas nacionalidades, origens étnicas e quase 300 idiomas falados, destacou nesta quarta-feira o primeiro-ministro do país, Scott Morrison, por videoconferência.
O processo de escolha desagradou Doha (Catar), que também desejava receber os Jogos de 2032, assim como Seul e Pyongyang, que apresentaram uma candidatura comum das Coreias em abril.
Terceira edição na Austrália
Esta será a terceira edição dos Jogos Olímpicos de Verão na Austrália, depois de Melbourne-1956 e Sydney-2000.
Apoiada pela influência do vice-presidente australiano do COI, John Coates, Brisbane era favorita desde fevereiro para receber os Jogos.
Em junho, o presidente do COI, Thomas Bach, classificou a candidatura australiana de "irresistível", falou do "amor" dos habitantes deste país da Oceania por "seus esportes e seus atletas", assim como de sua capacidade "para apoiar os atletas do mundo inteiro e para recebê-los".
Visível nos Jogos de Melbourne-1956 e de Sydney-2000, este fervor é constatado, todos os anos, no Aberto da Austrália de tênis.
E, se os Jogos Olímpicos são um gigantesco evento para a televisão, a recepção do público local é importante para o clima.
Os Jogos de Tóquio, que terão sua cerimônia de abertura nesta sexta-feira (23) e prosseguirão até 8 de agosto, praticamente não devem contar com torcedores, pela primeira vez na história olímpica, devido à pandemia de covid-19 e ao estado de emergência na capital japonesa.
Brisbane promete "84% de locais já construídos", um critério-chave desde que o COI iniciou um trabalho para evitar instalações novas que depois deixam de ser utilizadas.
Custos controlados?
A designação confirma ainda o tradicional rodízio continental decidido pelo COI, com Tóquio-2020 (Ásia), Paris-2024 (Europa) e Los Angeles-2028 (América), enquanto a África ainda aguarda seus primeiros Jogos Olímpicos.
Esta cidade de 2,3 milhões de habitantes espera ganhar notoriedade internacional com os Jogos. Brisbane ainda é vista, por muitos turistas, como mera porta de entrada para Grande Barreira de Corais.
"Em todos os locais por onde viajo, as pessoas sempre perguntam onde fica Brisbane, e me vejo obrigada a pegar um mapa para mostra que fica a uma hora de avião de Sydney", afirmou a presidente do Conselho Olímpico de Queensland, Natalie Cook.
"Isto vai mudar e estou entusiasmada", completou.
A candidatura prevê um orçamento de 4,5 bilhões de dólares australianos (US$ 3,297 bilhões), justificado pelas infraestruturas existentes e consideravelmente inferior aos US$ 15,3 bilhões gastos para Tóquio-2020.
Millicent Kennelly, especialista em Turismo e Esporte na Universidade Griffith (Brisbane), considera, no entanto, que as previsões devem ser tomadas "com um pé atrás", devido às dificuldades recorrentes dos organizadores para cumprirem os orçamentos previstos.
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