ESPIONAGEM

Ataque à Microsoft e malware Pegasus: pirataria cibernética coloca planeta em alerta

Mais de 50 mil pessoas foram alvo do malware, incluindo 180 jornalistas, 600 políticos e 85 ativistas dos direitos humanos

Rodrigo Craveiro
postado em 20/07/2021 06:00
Usuário segura iPhone diante da sede da empresa NSO, em Herzliya, perto de Tel Aviv -  (crédito: Jack Guez/AFP - 28/8/16)
Usuário segura iPhone diante da sede da empresa NSO, em Herzliya, perto de Tel Aviv - (crédito: Jack Guez/AFP - 28/8/16)

Dois escândalos de espionagem levaram indignação à comunidade internacional e ampliaram o debate sobre privacidade. Os EUA acusaram formalmente a China por um ataque cibernético massivo à Microsoft, enquanto Washington e aliados associaram Pequim a “atividade cibernética maliciosa”. A Casa Branca revelou-se “profundamente preocupada” com o fato de uma companhia de inteligência associada a Pequim ter contratado hackers para “operações cibernéticas não sancionadas em todo o mundo”. Isso incluiria extorsão e ransomware (ataques virtuais seguidos de pedidos de resgate em criptomoedas). Também ontem, surgiram detalhes sobre outro caso envolvendo o software malicioso Pegasus, fabricado pela companhia israelense NSO. Mais de 50 mil pessoas foram alvo do malware, incluindo 180 jornalistas, 600 políticos e 85 ativistas dos direitos humanos.

A alta comissária para os Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, defendeu uma melhor “regulamentação” das tecnologias de vigilância. “Sem estrutura regulatória que respeite os direitos humanos, há muitos riscos de que essas ferramentas sejam mal usadas para intimidar críticos e silenciar aqueles que discordam”, disse Bachelet.

Em abril, Szabolcs Panyi, 35 anos, soube por dois colegas que teve o celular hackeado durante sete meses. “Frederik Obermaier e Bastian Obsermayer, do jornal Süddeutsche Zeitung, pediram que criássemos uma linha de comunicação segura. Em maio, viajaram de Munique para Budapeste e me revelaram os detalhes”, relatou ao Correio o jornalista do Direkt36, um centro de investigação sem fins lucrativos. Panyi consta na lista de alvos do Pegasus.

Panyi experimentou sentimentos mistos. “Fiquei ofendido por ter sido tratado como criminoso. O Pegasus é permitido contra terroristas e bandidos. Mas o envolvimento do meu nome representou um distintivo de honra. Meu governo pensou que sou interessante. As autoridades queriam saber em quais histórias estou trabalhando e quais são mais fontes”, contou ele, que denunciou corrupção na cúpula do governo de extrema-direita do premiê húngaro, Viktor Orbán. A partir de agora, Panyi vai usar somente comunicação análoga e encontros presenciais. “

Em Baku, capital do Azerbaijão, o ativista Samed Rahimli, 31, busca respostas. “Soube que meu nome estava na lista desde 2019”, disse ao Correio o advogado responsável por levar mais de 100 casos de seus país à Corte Europeia de Direitos Humanos. “O governo azerbaijano está interessado em estabelecer um controle absoluto sobre a sociedade civil livre. O Pegasus foi uma boa oportunidade para que governos tivessem metas de controle total.” Ele espera levar o caso à Corte Europeia.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Invasão silenciosa

O malware Pegasus atua de modo silencioso. Uma vez inserido no celular, o programa exporta os dados do usuário (e-mails, mensagens, fotos etc) para páginas da internet criadas pela empresa israelense NSO. Esses sites são constantemente renovados para evitar a detecção pelos sistemas de segurança. Com mais de mil funcionários, a NSO vasculha falhas nos celulares para a invasão. Para dificultar a piraratia virtual, especialistas recomendam atualizar o sistema do telefone ou desligar o aparelho uma vez por dia.

Eu acho...

 (crédito: Andras Petho/Direkt36)
crédito: Andras Petho/Direkt36

“Fui espionado pelo Pegasus por sete meses. O Laboratório de Segurança da Anistia Internacional e o Laboratório do Cidadão da Universidade de Toronto confirmaram a espionagem, depois de duas análises forenses em meu iPhone. É um escândalo de proporções globais. Nos próximos dias, veremos mais nomes surgirem. Não somente de jornalistas, mas de chefes de Estado e de premiês.” Szabolcs Panyi, 35 anos, jornalista investigativo de Budapeste.

“Não tenho exata noção sobre como fui vítima de espionagem via Pegasus. Planejo enviar meu telefone para a análise. Desde 2019 estou envolvido com a política. Fui candidato nas eleições parlamentares de 2020. Fiz oposição ao governo e a expressei por meio do Facebook e do Twitter. Sou liberal clássico, libertário. Talvez por isso tenham interesse em invadir meus dados.” Samed Rahimli, 31 anos, advogado e ativista de direitos humanos.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação