A Promotoria japonesa pediu, nesta sexta-feira (2/7), quase três anos de prisão para dois americanos julgados em Tóquio por ajudar o ex-magnata do setor automobilístico Carlos Ghosn a fugir do Japão no final de 2019, quando estava em liberdade sob fiança.
Os promotores solicitaram uma sentença de dois anos e 10 meses de prisão para Michael Taylor, de 60 anos, um ex-membro das forças especiais dos Estados Unidos que passou a trabalhar com segurança privada, e uma sentença de dois anos e meio para seu filho Peter, de 28 anos.
Os advogados de defesa pediram a suspensão das penas. O veredicto será anunciado em 19 de julho.
"Michael Taylor desempenhou um papel principal. Sua responsabilidade é extremamente séria", disse um dos promotores, que classificou a fuga "sem precedentes" de Ghosn em dezembro de 2019 de um "crime sofisticado e audacioso".
"O caso violou consideravelmente a justiça penal do nosso país", acrescentou.
Durante a primeira audiência do julgamento, em 14 de junho, os dois réus não questionaram os fatos.
Os Taylor foram detidos em maio de 2020 nos Estados Unidos com ordens de prisão emitidas pelo Japão. Depois de esgotados todos os recursos, eles foram extraditados para o Japão em março para serem julgados.
Em 31 de dezembro de 2019, o Japão acordou com a notícia da fuga para o Líbano de seu réu mais famoso, Carlos Ghosn, o CEO afastado da Nissan-Renault e de sua aliança automobilística.
Na ocasião, Ghosn estava em liberdade sob fiança à espera de um julgamento por suposta fraude financeira e estava proibido de sair do país.
Dois dias antes, o franco-libanês-brasileiro saiu discretamente de sua casa em Tóquio e seguiu até Osaka (oeste) a bordo do "shinkansen" (trem de alta velocidade). Ele usava boné, máscara e óculos para evitar ser reconhecido.
Os dois homens que o acompanharam foram identificados, graças a imagens de câmeras de segurança. Michael Taylor e George Antoine Zayek, um homem de origem libanesa que ainda não foi encontrado.
Os três homens seguiram para um hotel próximo ao aeroporto internacional de Kansai, ao lado de Osaka.
Os investigadores acreditam que Ghosn entrou em uma grande caixa de equipamento de som, com pequenos buracos para conseguir respirar.
Os dois cúmplices se fizeram passar por músicos e conseguiram embarcar o equipamento sem passar pela segurança do aeroporto, algo que era permitido no Japão, à época, para os aviões privados.
Os três homens voaram para Istambul, de onde Ghosn embarcou em outro avião privado com destino ao Líbano, onde mora desde então.
Peter Taylor, que estava em Tóquio pouco antes da fuga e se reuniu diversas vezes com Ghosn nos meses anteriores, deixou o país sozinho, em um avião com destino a China.
Os Taylor, que em uma audiência na terça-feira (29/6) disseram lamentar "profundamente" seus atos, voltaram a pedir desculpas nesta sexta.
Se ajudaram Ghosn, "não foi por dinheiro", assegurou Michael Taylor. "Estou cheio de remorso, sinto muito", afirmou.
"Peço desculpas ao povo japonês e lamento profundamente meus atos", declarou Peter.
A fuga de Ghosn não impediu, no ano passado, o início de um julgamento criminal em Tóquio sobre dezenas de milhões de dólares em indenizações que o executivo da Nissan receberia quando se aposentasse, mas que não eram mencionadas nos relatórios do grupo enviados para a Bolsa.
O americano Greg Kelly, ex-diretor jurídico da Nissan que foi detido no mesmo dia que Ghosn em novembro de 2018, é agora o único no banco dos réus, pois a Nissan está sendo julgada como pessoa jurídica.
Kelly pode ser condenado a até dez anos de prisão no julgamento, que deve ter a última audiência prevista para julho. A Nissan se declarou culpada.
E, em fevereiro, um tribunal de Istambul condenou três cidadãos turcos no caso da fuga de Ghosn: um executivo da empresa turca de aluguel de aviões privados MNG Jet e dois pilotos. Quatro pessoas foram absolvidas.
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