"O povo chinês se ergueu" e sua ascensão, depois de mais de um século de subdesenvolvimento e invasões, é "irreversível". Um forte patriotismo e reflexões indiretas sobre o Ocidente marcaram nesta quinta-feira (1/7) o discurso do presidente Xi Jinping por ocasião do centenário do Partido Comunista.
"O tempo em que o povo chinês poderia ser pisoteado e oprimido acabou para sempre!", declarou Xi Jinping do Portão de Tiananmen (Praça da Paz Celestial), de onde seu distante antecessor Mao Tsé-Tung proclamou a República Popular em 1949.
Depois de fazer referência às Guerras do Ópio, ao colonialismo ocidental e à invasão japonesa (1931-1945), Xi Jinping elogiou o Partido Comunista da China (PCC) por melhorar os padrões de vida e restaurar o orgulho nacional.
"O povo chinês não permitirá nunca que forças estrangeiras o intimidem e o oprimam. Quem tentar, corre o risco de ser aniquilado diante de uma Grande Muralha de aço construída por 1,4 bilhão de chineses", afirmou diante de uma uma multidão de jovens e integrantes do partido reunidos na Praça Tiananmen, ao celebrar as centenas de milhões de chineses que saíram da pobreza em poucas décadas.
"O grande renascimento da nação chinesa entrou em um processo histórico irreversível", elogiou.
"A China se proclama cada vez mais uma superpotência. Xi Jinping envia uma mensagem forte ao Ocidente: qualquer iniciativa de bloquear a passagem da China está destinada ao fracasso", afirmou Willy Lam, professor na Universidade Chinesa de Hong Kong.
Fundado por alguns militantes em julho de 1921 em uma Xangai ainda dividida por concessões estrangeiras, o PCC lidera a segunda potência mundial e tem a firme intenção de continuar se impondo no cenário internacional.
Na manhã desta quinta-feira, 100 tiros de canhão foram disparados em Pequim para marcar o centenário. A brigada acrobática da Força Aérea sobrevoou a Praça Tiananmen, desenhando raios vermelhos, amarelos e azuis no céu.
Alguns helicópteros formaram o número "100" no céu e outros exibiam a bandeira do partido, com o martelo e a foice amarelos sobre fundo vermelho.
"Tudo está melhor"
"Graças ao partido temos uma sociedade como esta e o país conseguiu se desenvolver rapidamente. Temos que agradecer", declarou Li Luhao, um estudante de 19 anos, na Praça da Paz Celestial.
"Quando eu era pequeno havia cortes de energia elétrica todas as noites", disse Wang, morador de Pequim. "Comida, roupas, educação, transporte... Hoje tudo está melhor", afirma. Ele atribui os avanços ao PCC.
O centenário do partido motivou há meses uma intensa campanha de propaganda, que culminou na segunda-feira com um grande espetáculo ao estilo norte-coreano no Estádio Olímpico de Pequim, com referências à revolução chinesa e à gestão da pandemia da covid-19.
A imprensa chinesa atribui o sucesso no controle do vírus ao sistema autoritário em vigor e o contrapõe ao caos epidêmico das democracias ocidentais.
Poucas vozes questionam as ações do regime, que tem aumentado a repressão aos dissidentes sob o mandato de Xi Jinping, à frente do partido e, portanto, do país, desde o final de 2012.
"O PCC busca vincular sua sobrevivência à da China e do povo chinês", declarou Wu Qiang, ex-professor de Ciência Política da prestigiada Universidade Tsinghua em Pequim, demitido em 2015 após apoiar publicamente os protestos em Hong Kong.
"Imagem deteriorada"
Como era de se esperar, as dezenas de milhões de mortes nas campanhas econômicas e políticas de Mao, do Grande Salto Adiante (1958) à Revolução Cultural (1966), não foram abordadas durante a comemoração do centenário do partido.
Com crescimento exponencial nos últimos 40 anos, o PCC pode se orgulhar de ter tirado a China do subdesenvolvimento. Mas os líderes chineses enfrentam uma desaceleração econômica global, desafios climáticos e envelhecimento da população.
No cenário internacional, entre a covid-19, a repressão da minoria muçulmana em Xinjiang (noroeste) e as ameaças contra Taiwan, a imagem da China caiu nos últimos dois anos ao menor nível entre a maioria dos países ocidentais, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira pelo centro de pesquisa americano Pew.
As celebrações do centenário acontecem um ano depois de Pequim impor uma lei de segurança nacional em Hong Kong, o que reduziu consideravelmente a oposição política na ex-colônia britânica.
Na semana passada, o jornal pró-democracia deste território Apple Daily foi obrigado a encerrar as atividades depois que seus ativos foram congelados.
Nesta quinta-feira (1/7) também é aniversário, de 24 anos, da devolução do território à China, uma data que geralmente é motivo de protestos contra Pequim.
A polícia de Hong Kong proibiu este ano as concentrações, alegando razões sanitárias, e mobilizou 10.000 agentes para garantir o respeito à proibição, segundo a imprensa local.
Mas a situação era calma em Hong Kong nesta quinta-feira e a única manifestação foi protagonizada por quatro ativistas pró-democracia que se reuniram em um local próximo à cerimônia que celebrou a devolução.
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