Os Estados Unidos pediram a vários países europeus o adiamento do projeto de imposto digital que deverá financiar o plano de estímulo da UE, por medo de que atrapalhe as negociações internacionais para reformar a tributação global, segundo um documento americano consultado pela AFP.
Washington apresentou seus argumentos como parte de uma abordagem diplomática discreta para algumas capitais europeias, afirmaram fontes diplomáticas sob condição de anonimato.
O novo imposto europeu, que deve ser anunciado pela Comissão Europeia em 14 de julho, "ameaça os trabalhos desenvolvidos no processo OCDE/G20", diz o documento diplomático americano.
"Nós os exortamos a trabalhar com o Conselho Europeu e a Comissão Europeia para adiar o anúncio desse novo imposto", acrescentam os diplomatas americanos.
A publicação do projeto europeu "arriscaria inviabilizar completamente as negociações em um momento delicado".
Os Estados Unidos não veem com bons olhos o projeto europeu, que consideram uma medida discriminatória contra as gigantes americanas do setor de tecnologia, como Amazon, Google e Facebook.
As autoridades europeias rejeitam a acusação, ressaltando que estes grupos estão em grande parte isentos de impostos e que agora devem contribuir como as demais empresas.
Negociações envolvendo 139 países estão em andamento na OCDE para um acordo preliminar sobre tributação global, antes de uma reunião dos ministros das Finanças do G20, prevista para acontecer em Veneza em 9 de julho.
As negociações continuarão com a esperança de um acordo em alguns meses.
Fontes diplomáticas disseram à AFP que os argumentos americanos foram transmitidos em particular à Alemanha, Holanda e países nórdicos, mas as autoridades desses Estados se recusaram a confirmar oficialmente.
Estes países, assim como a Irlanda, que abriga as sedes de muitas multinacionais americanas de alta tecnologia graças a sua tributação atrativa, já provocaram o fracasso de um projeto tributário digital europeu anterior.
Embora ainda não tenha sido tornado público, a Comissão Europeia insiste que o imposto proposto estaria em conformidade com os acordos da OCDE e que afetaria milhares de empresas, incluindo as europeias.
O objetivo é ajudar a financiar o plano de recuperação pós-pandemia de 750 bilhões de euros da União Europeia.
"Ainda que apreciemos as declarações públicas sobre o assunto, seria necessário um adiamento para satisfazer importantes atores que se levantarão contra qualquer medida unilateral da Europa", afirma ainda o texto americano.
Em Washington, o Departamento de Estado e o Departamento do Tesouro, procurados pela AFP, não comentaram o pedido de adiamento.
"Os Estados Unidos estão focados em encontrar uma solução multilateral para uma série de questões tributárias internacionais importantes, incluindo impostos sobre serviços digitais", limito-se a comentar um porta-voz do Departamento de Estado.
Esse lobby americano ocorre duas semanas depois de uma cúpula UE/EUA, durante a qual o presidente Joe Biden e os líderes europeus concordaram em relançar as relações transatlânticas após quatro anos de crise sob a presidência de Trump.
Em particular, as duas partes anunciaram em Bruxelas um armistício de cinco anos para resolver o antigo conflito Airbus/Boeing. Mas outras questões delicadas permanecem, incluindo a recusa do governo Biden em reduzir suas tarifas sobre o aço e o alumínio europeus.