ELEIÇÕES NA FRANÇA

Domingo de muitas decepções nas urnas

Resultado das etapas regionais frustraram as expectativas da base governista de Emmanuel Macron. Partido República em Marcha não prevaleceu em qualquer das 13 regiões francesas. Le Pen também não teve sucesso na votação

Os resultados do segundo turno das eleições regionais francesas, realizadas ontem, foram uma decepção para a base presidencial, admitiu Stanislas Guerini, líder do partido de Emmanuel Macron.

O jovem partido República em Marcha, do presidente francês, não conseguiu prevalecer em nenhuma das 13 regiões metropolitanas do país europeu, pagando o preço de sua falta de implantação territorial.

Segundo consultas, o partido obteria apenas 7% dos votos, vendo-se relegado à quinta força política em nível nacional, atrás da direita, da esquerda, dos ecologistas e da ultradireita.

A abstenção foi a grande protagonista destas eleições, com um máximo histórico de cerca de 66%, muito superior àquelas registradas nas regionais de 2015.

“O que estamos vendo é a culminação de uma desconexão entre os eleitores e a classe política”, disse Jessica Sainty, professora de política da Universidade de Avignon, embora tenha admitido que a crise da covid-19 também influi na alta abstenção.

O grande vencedor destas eleições foi o partido da direita tradicional, Os Republicanos, que se tornam a primeira força política do país, com 38% dos votos, segundo as pesquisas.

Quatro anos depois de perderem as eleições presidenciais, os conservadores recuperam força e superam a união da esquerda e ecologista, em segundo lugar, com 34,5% dos votos.

Vários matizes da direita aproveitarão o impulso que esta vitória lhes dará para se posicionarem na corrida das presidenciais.

O fracasso da maioria presidencial alimenta os rumores de uma remodelação do gabinete. Trinta e dois por cento dos franceses são favoráveis a uma mudança ministerial “nas próximas semanas”, segundo uma consulta do instituto de pesquisas Ipsos.

A extrema direita de Marine Le Pen também fracassou na tentativa de conquistar, pela primeira vez, um governo local na França durante esse segundo turno das eleições regionais, de acordo com as estimativas iniciais da votação.

Seu candidato, Thierry Mariani, foi derrotado pelo rival conservador, Renaud Muselier, na região Provença-Alpes-Costa Azul (sudeste), a única onde o partido nacionalista podia aspirar a vencer nesse fim de semana.

Le Pen viu sua ideologia perder identificação com os eleitores na primeira etapa das eleições regionais, na semana passada; quando Macron também saiu desprestigiado.

Na contagem geral, 66,73% dos eleitores sequer foram às urnas. Tratou-se de um índice histórico de abstenção, superando o registrado de 2015, que ficou na casa dos 50,9%. Mais marcante, no entanto, foi a derrocada de Le Pen.

Considerava-se que Thierry Mariani sairia com uma vitória fenomenal na região da Provença, próxima da fronteira com a Itália. A projeção não se realizou. Resultados preliminares apontavam que ele conseguira 33% dos votos, com apenas três pontos percentuais à frente do conservador Renaud Muselier, do partido Os Republicanos.

“Esta noite, não ganhamos em nenhuma região”, admitiu Marine Le Pen, destacando que a França sofre uma “profunda crise da democracia local”. “A mobilização é a chave para as vitórias futuras”, disse, de olho nas presidenciais do ano que vem.

Há duas semanas, mais de 37 mil pessoas se manifestaram na França, segundo dados do Ministério do Interior, convocadas por organizações de esquerda para denunciar o aumento dos ataques contra as liberdades com a ascensão da extrema-direita e as leis liberticidas.

As organizações que convocaram a Marcha das Liberdades, realizada em 119 cidades, acreditavam que esta questão foi imposta à esquerda, tendo em vista a eleição presidencial no próximo ano e o avanço da extrema-direita.

UE tenta ganhar fôlego

Enquanto isso, o presidente russo, Vladimir Putin, disse apoiar a proposta franco-alemã de relançar os contatos diretos com a União Europeia (UE). Foi o que disse, na semana passada, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. “Recebemos esta iniciativa com satisfação. Putin é partidário da criação de um mecanismo para diálogo e contatos entre Bruxelas e Moscou”, afirmou Peskov.

Após o encontro entre o presidente russo e seu homólogo americano, Joe Biden, no início do mês, em Genebra, líderes europeus — como a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Emmanuel Macron — consideram necessário organizar reuniões com Putin para discutir temas de interesse da UE, segundo disseram fontes europeias.