A brasileira Raquel Oliveira, 41 anos, tenta controlar as emoções enquanto aguarda notícias do filho, Lorenzo, 5 anos, e do marido, Afredo Leone. O menino brasileiro e o pai italiano moravam no apartamento 512 do condomínio Champlain Towers, um prédio de 12 andares que desabou na madrugada de quinta-feira, em Surfside (Flórida). “A tragédia que aconteceu em Miami foi em meu prédio, e Lorenzo e Alfredo Leone dormiam no momento do colapso. Ainda não tenho notícias dos dois. (…) Nesse momento realmente não preciso de nada, só saber deles. Toda a minha vida estava naquele apartamento”, escreveu Raquel em sua página no Facebook, às 23h do mesmo dia, enquanto visitava a família no Colorado.
Por volta das 6h45 de ontem (hora de Brasília), Raquel tornou a publicar mais informações sobre o colapso. “Eu estou bem, estou calma. Mas estou evitando muito ficar pensando nos dois (…) e me focando mais em fazer o que precisa ser feito. Não posso ficar emotiva agora, senão eu vou desabar, e eu preciso estar atenta, alerta e rápida”, afirmou. A carioca contou que cedeu amostras de DNA para que as autoridades comparem com as de crianças não identificadas, à medida que forem encontradas. “Os pais do Alfredo vão enviar os deles da Espanha para ficar no arquivo. (…) Eu tenho muita sorte de estar viva e de ter vocês.”
O número de desaparecidos após o desmoronamento parcial, ocorrido à 1h30 de quinta-feira (hora local), subiu ontem de 99 para 159. Até o fechamento desta edição, quatro corpos tinham sido retirados dos escombros. Quase 55 apartamentos do edifício, em frente ao mar, ao norte de Miami Beach, foram afetados pelo colapso, segundo o vice-comandante do corpo de bombeiros de Miami-Dade, Ray Jadallah. Construído em 1981, o Champlain Towers tinha 130 apartamentos.
Outros brasileiros enfrentaram momentos de tensão e escaparam por pouco da morte. Segundo o jornal Miami Herald, Bruno Treptow, 62 anos, dormia no oitavo andar e imaginou que um raio tivesse atingido a estrutura do prédio. “Pensei comigo que o telhado estava desabando. Virei-me para a minha esposa, que acordou assustada. Disse que não podia ser. Eu a abracei e disse-lhe: ‘Escute, é isso. Vamos morrer’”, relatou.
Ainda de acordo com o Miami Herald, Bruno tentou espiar pela porta de seu apartamento. Tudo o que viu foi uma espessa névoa que cobria tudo. Ele, a mulher e um casal de vizinhos ficaram presos em um dos cantos do condomínio, à espera de socorro. O carioca e a esposa foram resgatados com a ajuda de uma escada dos bombeiros.
Outra família de brasileiros que morava quinto andar do Champlain Towers conseguiu fugir atravessando um apartamento do segundo andar e pulando da varanda que dava para a sacada, contou à Globonews Célia Rocha, mãe de uma das moradoras, que vive a três quarteirões do prédio. “A minha família conseguiu sair a tempo e se salvar, ilesa. Chegaram aqui cheios de pó, poeira e arranhões. Mas nada quebrado e nenhuma ferida, graças a Deus”, disse. Segundo ela, a filha está bem, mas chora muito.
Vítimas
“Estamos sem notícias de 159 pessoas. Além disso, confirmamos que o balanço de mortes subiu para quatro (...) tomei conhecimento ao acordar que retiraram três corpos dos escombros”, afirmou Daniella Levine Cava, prefeita do condado de Miami-Dade. “Sabemos o paradeiro de 120 pessoas, o que é uma notícia muito boa. (…) Continuaremos as operações de busca e resgate, porque ainda temos a esperança de encontrar pessoas com vida”, acrescentou.
Bombeiros e policiais, com a ajuda de drones e cães farejadores, trabalharam durante a madrugada, apegados às reduzidas probabilidades de encontrarem mais sobreviventes. Enquanto os socorristas trabalhavam com dificuldade sob luzes artificiais, os corpos recuperados foram cobertos por sacos amarelos e removidos do local, e detetives trabalhavam na identificação das vítimas. O presidente Joe Biden declarou emergência e ordenou o envio de ajuda federal para os trabalhos de busca.