Em menos de 30 anos

Relatório climático indica prejuízos antes do esperado

O rascunho do relatório sobre mudanças climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU) destaca que o fenômeno remodelará fundamentalmente a vida na Terra nas próximas décadas, mesmo se a humanidade conseguir conter as emissões de gases que esquentam o planeta. O esboço do documento do painel de climatologistas da ONU, o IPCC, foi obtido e divulgado com exclusividade pela agência de notícias France-Presse (AFP).
Extinção de espécies, uma disseminação maior de doenças, calor insustentável à vida, colapso dos ecossistemas, cidades ameaçadas pelo aumento do nível do mar — esses e outros impactos estão se acelerando e devem se tornar reais em menos de 30 anos, adverte o IPCC. “O pior ainda está por vir e afetará as vidas dos nossos filhos e netos muito mais do que as nossas”, diz o relatório.
De longe o catálogo mais abrangente já feito sobre como as mudanças climáticas estão interferindo no mundo, o relatório destaca que, com um aquecimento de 1,1º C em curso, o clima já está mudando. Uma década atrás, os cientistas acreditavam que limitar o aquecimento global em 2º com base nos níveis de meados do século 19 seria suficiente para salvaguardar o nosso futuro. Porém, na tendência atual, estamos nos encaminhando para um aquecimento de 3ºC, na melhor das hipóteses.
O mundo precisa enfrentar essa realidade e se preparar para seus impactos, alerta o documento. Dezenas de milhões de pessoas a mais podem enfrentar fome crônica até 2050, e 130 milhões a mais poderão experimentar a pobreza extrema em uma década se permitirmos o aprofundamento da desigualdade.

Brasil

No futuro mais imediato, algumas regiões — leste do Brasil, sudeste da Ásia, o Mediterrâneo, centro da China — e as zonas costeiras em quase toda a parte serão atingidas por três, quatro ou mais calamidades de uma vez: seca, ondas de calor, ciclones, incêndios florestais, inundações. Mas os impactos do aquecimento global também são amplificados por todas as outras formas com as quais a humanidade destruiu o equilíbrio terrestre. Esses incluem “perdas de habitat e resiliência, superexploração, extração de água, poluição, espécies invasoras não nativas, e dispersão de pragas e doenças”, enumera o informe.
“Não há solução fácil para esse emaranhado de problemas”’, admite Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial. “O mundo está confrontado com um conjunto complexo de desafios entrelaçados”, diz Stern, que não contribuiu com o relatório. “A menos que você os enfrente juntos, não vai se sair muito bem em nenhum deles.”

“O pior ainda está por vir e afetará as vidas dos nossos filhos e netos muito mais do que as nossas”
Trecho do painel de climatologistas da ONU, o IPCC