Realizada um dia depois da vitória do ultraconservador Ebrahim Raisi para a Presidência iraniana, a sexta rodada de negociação entre representantes do Irã e de potências mundiais na tentativa de salvar o acordo nuclear terminou sem definições. Segundo Enrique Mora, alto diplomata da União Europeia que preside os encontros, o grupo está “mais perto” de chegar a um consenso. “Mas ainda não chegamos lá”, declarou ontem, após o encontro em Viena.
A reunião faz parte das discussões regulares, que começaram em abril, com o objetivo de que os Estados Unidos voltem ao acordo histórico de 2015 e de que o Irã cumpra novamente os limites de seu programa nuclear. Em 2018, o então presidente estadunidense Donald Trump se retirou do pacto e voltou a impor sanções contra o Irã, que intensificou suas atividades nucleares a partir de 2019. As partes do acordo — Reino Unido, China, Alemanha, França, Rússia e Irã — têm se reunido, com participação indireta dos Estados Unidos, para salvá-lo.
A próxima rodada de negociações não teve a data divulgada. Segundo Enrique Mora, a expectativa é de que haja “a reversão das atividades nucleares do Irã, que têm se intensificado”. Antes da reunião de ontem, o enviado iraniano para as negociações, o vice-ministro das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, disse que os negociadores estão “mais perto do que nunca de um acordo”. “Mas não é fácil reduzir a distância que nos separa”, declarou à televisão estatal iraniana. “Nessa fase, estão claras quais áreas, quais ações são possíveis e quais não são. Portanto, é hora de todas as partes, especialmente nossos homólogos, tomarem sua decisão final”, completou.
Novo presidente
Enrique Mora aposta também que, no próximo encontro, os participantes terão “uma ideia mais clara do novo ambiente político” iraniano, fazendo referência à escolha do ultraconservador Ebrahim Raisi para a Presidência do país. Segundo Jake Sullivan, assessor de segurança nacional do presidente norte-americano Joe Biden, o resultado do pleito não afetará o rumo das negociações. Isso porque o guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, será quem decidirá o futuro do acordo nuclear. “A decisão final sobre se (o Irã) retornará ao acordo depende do líder supremo”, disse Sullivan em uma entrevista à ABC.
A avaliação é a mesma dos negociadores. Embora pertença a uma corrente política caracterizada pela rejeição aos Estados Unidos e ao Ocidente, Raisi reiterou, durante a campanha eleitoral, que a prioridade — de acordo com o estabelecido por Khamenei — é conseguir o levantamento das sanções americanas impostas pelo ex-presidente Trump. O clérigo sucederá o moderado Hasan Rohani em agosto e herdará um país imerso em uma grave crise econômica, consequência das medidas tomadas por Washington.