Teerã, Irã -
Os ultraconservadores do Irã comemoram, neste domingo (20), a vitória do clérigo Ebrahim Raisi na eleição presidencial como "uma nova era", enquanto os Estados Unidos denunciam uma eleição injusta e Israel diz que ele é o presidente "mais extremista até agora".
Raisi, de 60 anos, líder ultraconservador da Autoridade Judicial, foi declarado ganhador da presidencial no sábado, com quase 62% dos votos.
A eleição realizada na sexta-feira foi marcada por um alto nível de abstenção. Com 48,8%, a participação foi a mais baixa registrada em uma eleição presidencial desde a proclamação da República Islâmica em 1979.
Para o jornal conservador Resalat, a eleição de Raisi marca "o despertar de uma nova era".
Raisi, um hoyatoleslam (cargo inferior ao de aiatolá na hierarquia do clero xiita), era o favorito pela falta de concorrência real após a desqualificação da candidatura de seus principais adversários.
O clérigo, que vai suceder o moderado Hasan Rohani em agosto, herda um país imerso em uma grave crise econômica, consequência das sanções de Washington após a decisão do ex-presidente americano, Donald Trump, de abandonar em 2018 o acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano assinado em 2015 em Viena.
- "Propaganda inimiga" -
No sábado, o líder supremo Ali Khamenei disse que "a nação iraniana" é a "grande vencedora" das eleições, contra as convocações de movimentos opositores no exílio para boicotar a votação.
O jornal ultraconservador Khavan classificou o nível de participação como "aceitável e lógico", dado o "descontentamento com a situação econômica e a pandemia de coronavírus".
Outro veículo ultraconservador da imprensa, Kayhan, considera inclusive que a participação foi "épica", dadas as dificuldades diárias dos eleitores e a "propaganda inimiga".
Analisando os resultados das eleições de forma diferente, o Arman-é Melli, um jornal reformista, pediu a Raisi que "ganhe a confiança dos 70%" que não votaram nele.
No exterior, ele recebeu felicitações do presidente russo, Vladimir Putin, e de seu homólogo sírio, Bashar al Assad, assim como do presidente dos Emirados Árabes Unidos, Khalifa bin Zayed al Nahyan, e do emir do Catar, Tamim bin Halmad al Thani.
Também recebeu o apoio do movimento islamita palestino Hamas, no poder na Faixa de Gaza, e do movimento xiita libanês Hezbollah, ambos apoiados por Teerã.
Por outro lado, Washington lamentou no sábado que os iranianos tenham sido privados "de seu direito de eleger seus próprios líderes mediante um processo eleitoral livre e justo."
- "Sinal de última hora" -
O novo primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, disse neste domingo que Raisi "não foi eleito pelo povo iraniano e sim pelo aiatolá Khamenei".
"A eleição de Raisi é um sinal para que as potências acordem, uma sinal de última hora, talvez antes de voltarem ao acordo nuclear, para que entendam com quem estão lidando e qual tipo de governo vão escolher reforçar", disse.
O porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Lior Haiat, afirmou que a República Islâmica "elegeu seu presidente mais extremista" desde 1979.
Israel acusa o Irã de fabricar secretamente armas nucleares, algo que Teerã sempre negou.
Embora pertença a uma corrente política caracterizada pela rejeição aos Estados Unidos e ao Ocidente, Raisi reiterou durante a campanha que a prioridade -- de acordo com o estabelecido por Khamenei -- é conseguir o levantamento das sanções americanas impostas pelo ex-presidente Trump.
Portanto, sua eleição não deve afetar as negociações em curso para salvar o Acordo de Viena reintegrando os Estados Unidos ao pacto.
A solução poderia passar pelo levantamento das sanções americanas exigido pelo Irã, e em troca Teerã voltaria a aplicar plenamente o acordo.