Apenas nos cinco primeiros meses deste ano, 21,9 mil brasileiros foram detidos pelas autoridades americanas após cruzar ilegalmente a fronteira do México com os Estados Unidos.
O número de 2021, ainda parcial, já é o maior da série histórica iniciada em 2007, de acordo com os dados do órgão de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos.
O volume atual de brasileiros na rota migratória irregular supera, inclusive, a alta de 2019, quando 18 mil deles entraram irregularmente no país, o que justificou a decisão do então presidente americano, o republicano Donald Trump, de incluir os cidadãos do Brasil em um processo de deportação sumária, algo que não ocorria há décadas.
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Agora, o país é a oitava nação a mais enviar imigrantes irregulares aos EUA no mundo, à frente de países como a Venezuela e a Colômbia, por exemplo, e em patamar semelhante ao de Cuba. Para se ter ideia do tamanho desse fluxo, é como se os agentes de migração dos EUA encontrassem, em média, 150 brasileiros por dia tentando acessar o país a pé.
"Estamos testemunhando um dramático aumento da quantidade de brasileiros tentando acesso aos EUA pela fronteira com o México. Eles representam 5% de todas as detenções feitas em abril de 2021, por exemplo. E 60% deles estão em famílias completas, o que sugere ser um movimento de mudança definitiva de país", afirma Juan P. Angelo, especialista em migração e América Latina do Council on Foreign Relations. Há 10 anos, em 2011, apenas 472 brasileiros foram detidos na mesma condição.
Os EUA vivem uma grave crise migratória, com mais de um milhão de pessoas detidas por agentes americanos apenas no ano fiscal de 2021. Em sua primeira viagem internacional, esta semana, a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, esteve na Guatemala e exortou os migrantes a interromper o fluxo para o país. "Não venham", disse Harris.
"O Brasil, assim como a América Latina, passa por uma crise econômica, que se aprofundou com a pandemia, e provoca uma grande desesperança na população. Além disso, a chegada ao poder de (Joe) Biden acionou no imaginário dos migrantes uma noção de que esse seria um governo menos agressivo com quem quer migrar", explica Sueli Siqueira, socióloga da Universidade Vale do Rio Doce e especialista em migração de brasileiros para os EUA.
De acordo com Siqueira, o número de brasileiros que efetivamente entra em território americano sem ser notado pelos agentes de migração do país pode ser muito maior.
Apenas no último mês, 15 famílias do Brasil que ela monitorava em sua pesquisa acadêmica fizeram a travessia pelo México com sucesso.
A entrada de brasileiros tem sido motivo de críticas de opositores ao governo Biden. "Nossas fronteiras estão abertas para o mundo todo! Por exemplo, entre 1,2 mil e 1,5 mil brasileiros viajam a Tijuana toda semana… mas não é para turismo", afirmou em maio o congressista republicano Jody Hice, da Geórgia, em seu Twitter, em menção à cidade mexicana que faz fronteira com a Califórnia.
Autoridades americanas informaram à BBC News Brasil que mantêm contato direto com autoridades brasileiras sobre o assunto. Há poucas semanas, a gestão Biden enviou seu primeiro avião com brasileiros deportados a Belo Horizonte, em uma continuidade com a política de Trump.
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