REPRESSÃO NA CHINA

Mesmo com risco de prisão, milhares vão às ruas contra massacre em Hong Kong

Manifestantes lutam para realizar vigília que relembra o massacre da Praça Tiananmen de 1989. Principal ativista pró-democracia, Chow Hang Tung, foi presa no local

Trinta e dois anos após o massacre da Praça da Paz Celestial, no qual a repressão da polícia chinesa em um protesto pró-democracia em Pequim matou cerca de 3 mil manifestantes, a China vivencia outro momento tenso na luta democrática.

De acordo com o The Wall Street Journal, milhares de pessoas, nesta sexta-feira (4/6), foram às ruas em Hong Kong para realizar a tradicional vigília em memória dos manifestantes mortos na capital chinesa. O ato, no entanto, foi proibido pelo governo local com a justificativa de evitar o contágio da covid-19. Mesmo assim, os manifestantes afirmaram, nas redes sociais, que a proibição é uma forma de silenciar os protestos.

A multidão de manifestantes se manteve na noite da sexta-feira (4/6), horário da China, em torno do Victoria Park, local em que a vigília ocorre todos os anos, pois fora impedida de entrar no parque por uma massiva presença policial.

EPA - Policiais seguram cartazes com aviso de risco de prisão e processo judicial caso haja manifestação

 

Prisões

Duas pessoas foram presas pela manhã após publicarem posts nas redes sociais sobre a vigília. Em coletiva, a polícia de Hong Kong afirma que os dois “foram encontrados abusando das contas das redes sociais para anunciar uma reunião pública que havia sido proibida”. 

Uma das pessoas presas é a organizadora da vigília, a ativista e advogada Chow Hang Tung. Dias antes do evento, que ocorre sempre entre os dias 3 e 4 de junho, Chow afirmou ao jornal Bloomberg Quicktake que preferia à prisão do que não poder falar sobre o memorial. “A vigília é um ato que preserva o movimento que ainda quer a democracia na China. Ela faz parte da identidade do povo de Hong Kong”, disse.

Este é o segundo ano que Hong Kong proíbe o evento. Em junho de 2020, Pequim implementou uma Lei de Segurança Nacional em Hong Kong, ato que rendeu a prisão de sete pessoas em menos de 24 horas após a promulgação do texto. Na ocasião, a polícia da cidade afirmou que os detidos participaram de assembleias não autorizadas e promoveram outras ofensas relacionadas.

Para a ativista Chow Hang, o ato faz parte da nova forma de atuar do governo. “É assim que Hong Kong é agora. Se você luta pela democracia sob um regime autoritário, ser presa é inevitável. Que venha. Estou disposta a pagar o preço por lutar pela democracia", disse à BBC no fim de maio.

Prisões estão se tornando comum na cidade

Em 30 de maio, Alexandra Wong, ativista de 65 anos, foi detida pela polícia de Hong Kong ao fazer um ato, sozinha, em memória da repressão da Praça da Paz Celestial. A justificativa da força policial foi que Wong participava “de uma reunião ilegal”.

Em 2019, Alexandra foi um dos rostos conhecidos durante a mobilização popular que ocupou o centro financeiro da cidade em protestos pró-democráticos.

Junto a ela, 47 opositores estavam sendo processados pelo governo. Um dia após a prisão de Wong, a Promotoria de Hong Kong afirmou a possibilidade de definir prisão perpétua para ativistas pró-democracia.  As repressões são contínuas e se agravam desde o adiamento o adiamento das eleições da cidade, em julho de 2020.

Massacre de 1989: tiros a esmo e tanques esmagando manifestantes

Em 4 de junho de 1989, tropas do exército chinês invadiram a Praça Tiananmen (Praça da Paz Celestial) contra os manifestantes pró-democracia, na maioria estudantes desarmados, protestavam por democracia e abertura política. A força militar começou a disparar a esmo enquanto os tanques de guerra esmagavam aqueles que não conseguiram fugir. 

Na época, a China afirmou que 300 pessoas morreram. No entanto, a imprensa estrangeria registrou entre 2 e 3 mil mortos. Este número também foi confirmado pela Cruz Vermelha Chinesa. O Correio entrevistou sobreviventes do massacre no aniversário de 30 anos da data. Leia os relatos aqui

 

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