Jerusalém - Os adversários de Benjamin Netanyahu começaram, nesta quinta-feira (3), a se preparar para obter um voto de confiança no Parlamento, depois que alcançaram 'in extremis' um acordo para um governo heterogêneo.
Embora a data da reunião do Parlamento para definir o voto de confiança ainda seja desconhecida, Netanyahu escreveu desafiadoramente no Twitter: "todos os deputados eleitos com o apoio da direita devem se opor a este perigoso governo de esquerda".
Pouco antes do fim do prazo, à meia-noite de quarta-feira, o chefe da oposição israelense, o centrista Yair Lapid, informou ao presidente de Israel, Reuven Rivlin, que havia obtido o apoio necessário (61 deputados de 120) para uma coalizão que porá fim a dois anos de crise política, marcada por quatro eleições e nenhum governo estável.
As negociações que levaram ao acordo formal duraram vários dias. Mas para formar um governo, a coalizão deve obter o voto de confiança de uma maioria no Knesset, o Parlamento israelense.
A convocação para esta votação está nas mãos do presidente do Parlamento, Yariv Levin, do partido direitista Likud - de Netanyahu - e ele pode se sentir tentado a adiar a votação na esperança de que alguns deputados desistam da coalizão.
Os israelenses estão divididos entre aqueles que veem nesta aliança explosiva uma "traição" das ideias da direita e da esquerda, e aqueles que estão aliviados ao ver o primeiro-ministro na porta de saída após 12 anos no poder.
"Quase perdemos a esperança e esperamos que, após esses dois anos difíceis, finalmente teremos uma nova era", disse Chen Kostukovsky, morador de Tel Aviv.
- Partido árabe na coalizão -
Julgado por "corrupção" em três casos, Netanyahu é o primeiro chefe de Governo israelense a enfrentar acusações criminais no exercício do cargo.
Se deixar o poder, se tornará um simples deputado e perderá sua influência para tentar aprovar uma lei que o proteja de seus problemas judiciais.
A assinatura do acordo de coalizão alcançado pelos chefes de oito partidos - dois de esquerda, dois do centro, três de direita e um árabe - também marca uma virada na história política de Israel.
A última vez que um partido árabe israelense apoiou um Executivo - mas sem participar dele - foi em 1992, durante o "governo de paz" de Yitzhak Rabin.
Desta vez, a formação árabe Raam liderada por Mansur Abas assinou o acordo sem indicar se participará ativamente do governo.
"Este governo servirá a todos os cidadãos de Israel, incluindo aqueles que não são membros dele, respeitará aqueles que se opõem a ele e fará tudo ao seu alcance para unir os diferentes componentes da sociedade israelense", disse Lapid ao presidente Rivlin.
Os olhos também estão voltados a Naftali Bennett, ex-assistente de Netanyahu que se tornou rival. O líder da direita radical juntou-se ao bloco anti-Netanyahu no último minuto.
Bennett, chefe da formação Yamina, cujo apoio foi fundamental para atingir o número de 61 deputados, será o primeiro chefe de Governo, até 2023, para depois ser substituído por Lapid até 2025, segundo a mídia israelense.
A menos que essa coalizão heterogênea, dividida sobre questões econômicas, de segurança, relações com os palestinos e religião, seja estilhaçada.
Seu único terreno comum é o desejo de acabar com a era Netanyahu, que chegou ao poder há 25 anos e governou de 1996 a 1999 antes de retornar ao poder em 2009.
A caminho de Washington para discutir o caso iraniano, Benny Gantz, o ministro da Defesa e ex-rival de Netanyahu, aplaudiu uma "noite de grande esperança" no Twitter.
As negociações passaram quase despercebidas durante a espiral de violência entre manifestantes palestinos e a polícia israelense em Jerusalém Oriental e nas cidades mistas deIsrael, e a guerra de 11 dias entre o Exército israelense e o movimento islâmico palestino Hamas em Gaza.
Em uma coincidência de datas, os parlamentares elegeram na quarta-feira o sucessor de Rivlin, o trabalhista Isaac Herzog, de 60 anos, para este cargo essencialmente honorário.