O Iraque denunciou, nesta segunda-feira (28/6) os ataques mortais dos Estados Unidos contra posições das milícias pró-Irã em seu território e na vizinha Síria, enquanto a poderosa coalizão paramilitar iraquiana Hashd al-Shaabi ameaçou vingar seus combatentes assassinados.
Segundo o Pentágono, os ataques mataram vários combatentes e foram uma represália por ações semelhantes contra interesses americanos no Iraque nos últimos meses, as quais os Estados Unidos atribuem a facções iraquianas leais ao Irã, inimigo de Washington.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que os ataques no Iraque e na Síria devem enviar uma mensagem "forte" de dissuasão para que não continuem atacando as forças americanas.
"Esta ação em legítima defesa para fazer o que é necessário para prevenir novos ataques é uma mensagem muito importante e forte", disse Blinken à imprensa em Roma.
Os ataques ocorreram paralelamente aos esforços para que o governo dos Estados Unidos retorne ao acordo nuclear com o Irã, que ofereceria a Teerã um alívio das sanções em troca de seu compromisso de não desenvolver armas nucleares e de reduzir drasticamente seu programa nuclear.
Em Bagdá, o primeiro-ministro iraquiano Mustafah al-Kazimi denunciou em um comunicado uma "violação flagrante da soberania" de seu país e pediu para "evitar a escalada".
Também reiterou sua rejeição ao uso do Iraque como "território de ajuste de contas".
Há anos, Bagdá alerta sobre o risco de que seus dois principais aliados, Irã e Estados Unidos, usem seu território como campo de batalha para ajustar contas, em um contexto de contínua tensão pela questão nuclear.
Na madrugada desta segunda-feira e por ordem do presidente americano Joe Biden, a aviação apontou para centros operacionais e depósitos de armas em dois lugares da Síria e um do Iraque, instalações usadas pelas milícias que contam com o apoio do Irã, anunciou o Pentágono.
Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), os ataques destruíram um armazém e uma posição dos milicianos iraquianos de Hashd al-Shaabi, perto da cidade de Bukamal no leste da Síria, próximo à fronteira iraquiana.
Ao menos sete combatentes iraquianos morreram, informou a ONG que tem uma ampla rede de fontes de informação na Síria, devastada pela guerra, onde várias milícias armadas estrangeiras lutam junto ao governo contra os rebeldes e os extremistas.
"Vingança"
A Hashd al-Shaabi, uma aliança paramilitar, confirmou a morte de quatro de seus membros em ataques na região de Al Qaim, no oeste do Iraque, perto da fronteira com a Síria.
Os combatentes estavam "cumprindo sua missão habitual de impedir a infiltração" de extremistas da Síria, disse Hashd al-Shaabi em um comunicado, no qual afirmou que "não estavam envolvidos em nenhuma atividade hostil à presença estrangeira no Iraque."
"As posições bombardeadas não abrigavam nenhum depósito, ao contrário das alegações dos Estados Unidos", acrescentou.
O Pentágono afirmou que os alvos eram "instalações" usadas pelas milícias envolvidas em "ataques com veículos aéreos não tripulados (UAV) contra funcionários e instalações americanas no Iraque".
Não ficou claro de imediato se as quatro mortes anunciadas pela Hashd estavam incluídas ou não no número de mortos do OSDH.
A Hashd al-Shaabi nega ter agido fora do Iraque, mas algumas de suas facções com base no leste da Síria lutam - em seu próprio nome - junto ao governo de Assad.
"Vingaremos o sangue de nossos mártires (...). Já dissemos que não nos calaremos diante da presença das forças de ocupação", ameaçou a Hashd em outro comunicado.
Drones
De acordo com analista, a Hashd, que se integrou há alguns anos às tropas regulares, tem um grande poder no Iraque, um país sobre o qual o Irã possui forte influência e onde os Estados Unidos ainda mantêm cerca de 2.500 soldados.
Após os ataques, o Irã acusou os Estados Unidos de "perturbar a segurança regional".
Por outro lado, o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Yves Le Drian reafirmou "o apoio da França à estabilidade e à soberania do Iraque", condenando os "ataques inaceitáveis (...) contra os interesses da coalizão", disse um porta-voz do Quai d'Orsay.
A operação americana é a segunda deste tipo contra as milícias pró-iranianas na Síria desde que Joe Biden assumiu o cargo em janeiro. Quase 20 combatentes morreram no primeiro ataque de fevereiro.
Desde o início de 2021, mais de 40 ataques com foguetes ou drones tiveram como alvos os interesses dos Estados Unidos no Iraque, e Washington culpa as facções pró-iranianas.
A Hashd se mostra contente com os atentados contra os Estados Unidos, mas não reivindica sua autoria.
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