O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, sofreu uma derrota nas eleições de domingo (6/6), que enfraqueceu sua maioria na Câmara dos Deputados, segundo uma contagem rápida oficial dos votos.
O partido Morena (Movimento Regeneração Nacional) perdeu a maioria absoluta (metade mais um dos 500 deputados) que tinha sozinho e passará a ter entre 190 e 203 cadeiras na Câmara, de acordo com a projeção do Instituto Nacional Eleitoral (INE).
Mas ainda deve manter a maioria com os três partidos aliados ao somar entre 265 e 298 cadeiras.
Porém, a coalizão governista perde a maioria qualificada de dois terços - necessária para aprovar reformas constitucionais -, que tem atualmente com 333 cadeiras na Câmara.
"É uma derrota de López Obrador, não esmagadora, mas o enfraquece, assim como seu projeto, porque precisa de reformas constitucionais", declarou à AFP o cientista político e historiador José Antonio Crespo.
A maioria qualificada é crucial para o programa antineoliberal do presidente de esquerda, que pretende devolver ao Estado o controle do setor energético, em sentido contrários às leis que abriram a porta para as empresas privadas em 2014.
A nova Câmara dos Deputados, eleita a cada três anos, iniciará o mandato em 1º de setembro. O Senado, também dominado pelo Morena, é renovado a cada seis anos.
No domingo (7/6) também foram eleitos 15 de 32 governados, além de mais de 21.000 cargos locais. O Morena teria conquistado ao menos oito governos, o que representa um progresso pois atualmente comanda seis estados, de acordo com as contagens rápidas.
Avanço da oposição
As eleições representaram um avanço para a oposição.
Os partidos Ação Nacional (PAN), Revolucionário Institucional (PRI) e Revolução Democrática, que estabeleceram uma aliança, terão entre 181 e 213 deputados. Atualmente somam 139.
"É um triunfo importante da oposição porque conseguiu capitalizar o descontentamento, mas na realidade as pessoas votaram contra López Obrador, não por eles", afirmou Crespo.
O partido Morena também perdeu o controle de várias prefeituras da Cidade do México que sempre havia controlado, segundo a apuração oficial preliminar. A esquerda governa a capital desde 1997, mas a prefeitura central não estava em disputa.
AMLO, como o presidente é chamado, tem uma popularidade superior a 60%, baseada em vários programas sociais, segundo as pesquisas. Ele foi eleito em 2018 para um mandato de seis anos.
Desde 1997, as eleições legislativas reduziram ou acabaram com a maioria dos partidos governantes.
As eleições aconteceram após os efeitos devastadores da pandemia e uma escalada de violência que registrou o assassinato de 91 políticos, incluindo 36 candidatos ou pré-candidatos, segundo a consultoria Etellekt.
No domingo (6/6), duas cabeças e pedaços de corpos foram colocados em locais de votação de Tijuana (noroeste, fronteira com os Estados Unidos), região muito afetada pelo narcotráfico, informou o MP.
No sábado (5/6), cinco indígenas que transportavam material eleitoral morreram em uma emboscada no estado de Chiapas (sul).
Apesar do medo em estados como Guerrero e Jalisco, a taxa de participação nas eleições ficou entre 51,7% e 52,5%, de acordo com o INE.
O México é um dos países mais afetados pelo coronavírus mas a perspectiva de um voto de castigo não era clara ante o retrocesso da epidemia, segundo as pesquisas.
O país, de 126 milhões de habitantes, acumula quase 229.000 mortes por covid-19 - quarto no mundo em números absolutos - e a taxa de mortalidade por 100.000 habitantes é a 21ª do planeta.
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