Sob ameaça de abandonar o poder, depois de 12 anos no comando de Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu reagiu à formação da coalizão opositora e pressionou deputados da direita a votarem contra a aliança para um governo de unidade nacional. “Todos os membros da direita do Knesset (Parlamento) devem se opor a este perigoso governo de esquerda”, escreveu o premiê em seu perfil no Twitter. Ele também acusou o ex-aliado Naftali Bennett, potencial sucessor, de vender a região do Negev para o partido conservador islâmico árabe-israelense Ra’am, liderado por Mansour Abbas. Foi a primeira manifestação de Netanyahu após oito partidos de centro, de direita, de esquerda, além do Ra’am, uniram forças para derrubá-lo. O destino político do premiê está nas mãos do Knesset.
Enquanto Netanyahu apressa os parlamentares da direita a bloquearem a coalizão, os membros da aliança pressionam o Knesset a submeterem o voto de confiança o mais rápido possível — um procedimento protocolar para a oficialização do novo governo. Netanyahu aposta em uma tentativa de sabotagem de Yariv Levin, presidente do Parlamento e também membro do partido direitista Likud. Cabe a Levin convocar os legisladores para a votação.
Avi Halevy, o advogado do Likud enviou uma carta ao centrista Yair Lapid, que divide a liderança da coalizão com Bennett, e solicitou que os detalhes do acordo de coalizão fossem publicados ainda ontem. “Há oito diferentes partidos nessa coalizão, e, enquanto escrevo esta carta, vocês não publicaram acordos com nenhum deles”, afirma a mensagem, divulgada pelo jornal The Jerusalem Post.
Para Ofer Kenig, pesquisador do Israel Democracy Institute (em Jerusalém), um governo liderado por Bennett e por Lapid, caso seja confirmado pelo Knesset, enfrentará “desafios enormes”. “Israel jamais teve um governo de coalizão com alcance ideológico tão amplo: da extrema-direita à extrema-esquerda, assim como um partido islâmico. Não acho que seria mais conservador do que o governo de Netanyahu”, disse ao Correio.
Kenig acredita que a sobrevida do próximo governo dependeria do abandono de temas contenciosos, como a causa palestina e os direitos da população LGBTQIA+. “Em vez disso, teria que se concentrar em um plano de recuperação do país, depois da crise provocada pela covid-19, e manter o foco na economia, na saúde, na educação e nos transportes. Lapid substituiria Bennett no posto de premiê em agosto de 2023”, comentou. O especialista não se surpreendeu com o destino político de Netanyahu. “Ele perdeu a confiança de aliados em potencial que poderiam manter suas promessas. Ninguém acredita mais nele.”
Eu acho...
“Se realmente perder o poder, Benjamin Netanyahu será lembrado com um orador brilhante, um político carismático, um estadista habilidoso, um premiê razoável, mas um líder fraco. Sua liderança carecia de visão clara, de responsabilidade e de exemplo pessoal. Temo que, mais do que qualquer coisa, ele seja lembrado como um líder divisionista, que deixou a sociedade israelense terrivelmente polarizada.”
Ofer Kenig, pesquisador do Israel Democracy Institute (em Jerusalém)
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