Pequim, China — O julgamento do escritor australiano Yang Jun, que está detido há mais de dois anos na China sob a acusação de "espionagem", começou nesta quinta-feira (27) em Pequim, em um contexto de tensões crescentes entre a China e a Austrália.
Como é costume na China em casos de espionagem, a audiência foi realizada a portas fechadas.
Yang Jun, de 56 anos, é um dos dois australianos detidos na China sob a acusação de espionagem, em meio à deterioração das relações entre Camberra e Pequim.
Romancista e blogueiro, defensor da democratização da China, Yang é um ex-diplomata chinês que obteve a cidadania australiana em 2002.
Conhecido por seu pseudônimo Yang Hengjun, foi preso durante uma viagem à China em janeiro de 2019, quando morava nos Estados Unidos.
"Há muito tempo estamos preocupados com este processo, em particular com a transparência", declarou o embaixador australiano na China, Graham Fletcher, que teve o acesso ao tribunal negado.
Em resposta a uma pergunta sobre o assunto, o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Zhao Lijian, considerou que a realização do julgamento a portas fechadas era "legítima", uma vez que nele seriam mencionados "segredos de Estado".
A imprensa foi mantida afastada, atrás de barreiras de segurança e de um importante dispositivo policial.
Pequim atribui a este escritor "atividades criminosas que ameaçam a segurança nacional", segundo fontes australianas.
Preso há 26 meses, Yang Jun garantiu em uma carta consultada pela AFP e escrita de sua cela que sua saúde piorou, mas que continua "espiritualmente forte".
"Vou enfrentar o sofrimento e a tortura com resistência (...), não tenho medo", diz.
A também australiana Cheng Lei, ex-apresentadora da emissora pública de televisão chinesa em inglês CGTN, está detida desde agosto passado por motivos de "segurança nacional".
As relações diplomáticas entre os dois países se deterioraram desde que Camberra pediu uma investigação independente sobre as origens da pandemia de coronavírus e proibiu a gigante das telecomunicações Huawei de participar da construção da rede 5G na Austrália.
No mês passado, Camberra revogou o acordo assinado pelo estado australiano de Victoria para se juntar às "Novas Rotas da Seda", o projeto faraônico de investimentos em infraestruturas lançado em 2013 pelo presidente Xi Jinping.
A China adotou, por sua vez, uma série de medidas tarifárias contra uma dezena de produtos australianos, como cevada, carne bovina e vinho.
Pequim também acusa Camberra de realizar batidas policiais nas casas de jornalistas chineses baseados na Austrália, realizadas como parte de uma investigação sobre uma suposta campanha de influência.
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