A eleição presidencial de quarta-feira (26/5) na Síria confirmará o poder do clã Assad ao longo de meio século, ao proporcionar o quarto mandato a Bashar al-Assad, que se proclama o homem da reconstrução do país após 10 anos de guerra civil.
As eleições, chamadas de "puro teatro" pelo Ocidente, que não as considera "nem livres nem justas", serão o segundo pleito desde o início do conflito em 2011.
A oposição síria fala de "farsa" eleitoral.
Bashar al-Assad, de 55 anos, conseguiu reverter o curso da guerra com a ajuda dos aliados - Rússia, Irã e o grupo Hezbollah libanês -, ao encadear uma série de vitórias desde 2015 que permitiram recuperar dois terços do território do país, ao custo de um balanço sangrento.
"A esperança por meio do trabalho": este é o slogan da campanha eleitoral de Assad, em um país com uma economia devastada e com as infraestruturas destruídas por um conflito que deixou mais de 388.000 mortos e provocou o exílio de milhões de sírios.
"Os sírios que saem para votar o fazem para expressar lealdade a Bashar al-Assad e ao sistema", resume o analista Fabrice Balanche, da Universidade Lumière Lyon 2. A vitória de quarta-feira, que permitirá outro mandato de sete anos, acontecerá nas regiões sob controle de seu exército.
Na capital Damasco, seus retratos dominaram as ruas. Também há outros, muito mais discretos, dos outros dois candidatos. o ex-ministro Abdallah Sallum Abdallah e Mahmud Marei, membro da oposição tolerada. Mas são meros comparsas, acusam os críticos.
A lei eleitoral exige que os candidatos tenham morado na Síria por 10 anos consecutivos antes da eleição, o que exclui de fato as figuras da oposição no exílio.
Pária
Bashar al-Assad chegou ao poder em 2000, como sucessor do pai, Hafez, que faleceu depois governar o país por 30 anos.
Antes das eleições, Assad decretou anistia para milhares de presos. O vídeo de sua campanha começa com imagens de explosões, de habitantes em fuga de bairros devastados, antes de adotar uma retórica de reconstrução: um professor que cobre um buraco de granada em sua classe, um agricultor que faz o mesmo em seu terreno, uma empresa que volta a funcionar.
Mas depois de virar um pária internacional, sua margem de manobra para reconstruir o país parece limitada, levando em consideração as sanções que afetam o próprio Assad e o país, assim como a dramática situação econômica, com mais de 80% da população em estado de pobreza, segundo a ONU.
Um relatório recente da ONG World Vision calcula o custo econômico da guerra em mais de 1,2 trilhão de dólares.
"A campanha de Bashar destaca seu papel de homem que venceu a guerra, que tem grandes ideias para a reconstrução, o único capaz de instaurar ordem após o caos", explica Nicholas Heras, do Newlines Institute de Washington.
Agora, o objetivo do regime sírio é atrair "grandes investidores e credores", como os países do Golfo, com os quais Damasco restabeleceu contato após uma ruptura, acrescenta o analista.
No país dividido, os territórios autônomos curdos do nordeste vão ignorar as eleições. E o último grande reduto insurgente de Idlib (noroeste) não participará no pleito.
Na eleição de 2014, Assad recebeu mais de 88% dos votos, segundo o resultado oficial.