IMIGRAÇÃO

Invasão a Ceuta abre crise entre Espanha e Marrocos

O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, prometeu manter a ordem e garantir a integridade territorial do país, depois que 8 mil imigrantes chegaram a Ceuta, na segunda-feira. A declaração foi dada durante visita do chefe de governo ao enclave espanhol situado no norte da África. Segundo a agência de notícias France-Presse, Madri convocou a embaixadora marroquina, Karima Beniyach, para consultas e para expressar seu “descontentamento” e sua “rejeição à entrada em massa de migrantes em Ceuta”. Para tentar estancar a crise, o reino do Marrocos tornou a fechar a fronteira.
O incidente também causou mal-estar entre o governo marroquimo e a União Europeia (UE). A comissária europeia do Interior, Ylva Johansoon, alertou a Rabat que “as fronteiras espanholas são fronteiras europeias”. “A Europa expressa sua solidariedade com Ceuta e Espanha. Necessitamos de soluções europeias comuns para gerir a migração. Podemos conseguir isso se alcançarmos um acordo sobre o novo Pacto sobre Migração”, pontuou Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, órgão executivo da UE.

Tema sensível

Em entrevista ao Correio, Nabil Adghoghi — embaixador do Marrocos no Brasil — explicou que o fenômeno da migração é de extrema sensibilidade na África. “Foi por isso que o Marrocos, com a União Africana, instalou em Rabat, em janeiro passado, o Observatório da Migração Africana, que cuida de coletar e de analisar todos os dados sobre os fluxos migratórios na África, no objetivo de lidar, com eficácia e pragmatismo, com esse fenômeno”, disse.
Segundo Adghoghi, a cooperação operacional entre Marrocos e Espanha na luta contra a migração clandestina sempre foi considerada como exemplar e como um modelo para inspirar outros países em posição geográfica similar. “A cooperação permitiu o desmantelamento de muitas organizações de crime organizado que atuam entre os países da África, no Sul do Saara, e as nações da União Europeia”, lembrou. O diplomata acredita que, “mais do que nunca, a Espanha e a UE deveriam ultrapassar o prisma que focaliza única e exclusivamente o país de trânsito e passar a abordar este fenômeno com os parâmetros de responsabilidade compartilhada entre os países de origem, os de trânsito e de destino, e os de solidariedade ativa, a fim de acabar com o crime organizado que prospera covardemente entre os jovens africanos”.
Adghoghi afirmou que, em termos concretos, “apenas 26 mil migrantes procedentes de países africanos conseguiram alcançar, a partir da costa marroquina, a Espanha em todo o ano de 2019, contra mais de 58 mil em 2018 — ou seja, uma queda de 54%”. “O Reino de Marrocos continuará cooperando, no mesmo espírito de confiança e de boa fé, tanto com a Espanha como com a União Europeia para que europeus e africanos possam conceber um marco transparente, eficaz e solidário da migração”, concluiu. (RC)