No dia mais sangrento desde o início da escalada de violência no Oriente Médio, em 9 de maio, o som das bombas se impôs à diplomacia. Pouco antes do nascer do sol, aviões de Israel dispararam vários mísseis contra casas da Rua Al-Wehda, no bairro de Al-Rimal, no centro da Cidade de Gaza. A operação, que visava a residência de Yehya Al-Sinwar, um dos líderes do movimento islâmico Hamas, deixou 42 mortos, entre eles oito crianças e dois médicos. Durante a madrugada de hoje, mais de 100 bombardeios voltaram a atingir a Faixa de Gaza. Um número recorde de 3.100 foguetes foram lançados da Faixa de Gaza em direção ao sul e ao centro de Israel. As cidades de Ashkelon e de Ashdod, próximas à fronteira com Gaza, foram alvos de impactos diretos dos artefatos, sem registro de feridos. Em Ashkelon, um foguete caiu sobre uma sinagoga, enquanto dois destruíram cinco carros e uma casa. Apesar da matança e da ameaça a civis, uma reunião do Conselho de Segurança da ONU terminou com troca de acusações e sem uma condenação unânime.
“Este ciclo insensato de derramamento de sangue, de terror, de destruição, deve cessar imediatamente”, advertiu o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Gutérres, ao abrir a sessão de emergência. Ele alertou sobre o perigo de uma “crise incontrolável” no Oriente Médio. O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, conversou com aliados do Catar e do Egito e também exigiu que a violência pare imediatamente.
Israel declarou que o Hamas “premeditou” a guerra e assegrou que o grupo pretende “tomar o poder na Cisjordânia”. “O Hamas optou por acelerar as tensões, usando-as como pretexto, para iniciar a guerra”, disse Gilad Erdan, embaixador israelense nos EUA e na ONU. O chanceler palestino, Riyad Al-Maliki, denunciou “a agressão” de Israel contra “o povo palestino”. “Alguns não querem usar essas palavras — crimes de guerra e crimes contra a humanidade — mas sabem que é a verdade”, disse o ministro.
Premiê
Em pronunciamento à nação, na tarde de ontem, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que “a campanha contra organizações terroristas continua com força total”. “Estamos cobrando preços muito altos do Hamas por sua agressão intolerável. As Forças de Defesa de Israel (IDF) atacaram mais de 1.500 alvos nos últimos dias. (…) O que o Hamas deseja alcançar, em primeiro lugar, é o maior número possível de israelenses mortos. O que eu gostaria de alcançar é, antes de tudo, salvar suas vidas”, disse. Ele reiterou que o prédio pulverizado por mísseis — que abrigava escritórios da rede de TV Al-Jazeera e da agência de notícias Associated Press, na Cidade de Gaza — era um “alvo perfeitamente legítimo”.
Até o fechamento desta edição, os bombardeios em Gaza tinham matado 209 palestinos, incluindo 56 crianças. Pelo menos 5.687 ficaram feridos e 17 mil fugiram de suas casas. Do lado israelense, 10 pessoas morreram em ataques do Hamas, entre elas uma criança, e 282 foram feridas. A Cruz Vermelha Internacional condenou o “conflito de intensidade sem precedentes”.
“Eu não tenho medo de morrer. Meu receio é de perder um parente ou um amigo”, desabafou ao Correio a jornalista palestina Maha Hussaini, 29 anos, que mora na parte oeste da Cidade de Gaza. “A situação tem piorado a cada hora. Bairros inteiros estão sendo arrasados. Israel atinge civis, e as pessoas não têm para onde ir sob intensos bombardeios”, relatou. Segundo Maha, não há como se proteger em Gaza. “Nós arrumamos as malas para fugirmos tão logo nossa casa esteja sob risco de bombardeio.”
Do outro lado da fronteira, de férias na casa da mãe, em Ashdod (sul), a estudante israelense Roni Ben Zikry, 27, contou à reportagem que as sirenes antiaéreas têm soado cinco ou seis vezes por dia. “Quando isso ocorre, nós temos que correr até um abrigo ou um lugar seguro. Nesse momento, escutamos explosões”, comentou. “Para nós, israelenses, esta é uma situação impossível. Temos que interromper a nossa rotina. Muitos de nós não podemos trabalhar, nossos filhos não vão à escola, as crianças sofrem com ansiedade.”