Um bombardeio que matou oito crianças e dois adultos da família palestina Abu Hatab, no campo de refugiados de Shaati; os disparos de mísseis contra um prédio de 13 andares que abrigava a mídia internacional, na Cidade de Gaza; e novos lançamentos de foguetes contra Tel Aviv ampliaram a pressão da comunidade internacional pela desescalada do conflito. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, telefonou para o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netayahu, e observou que o “atual período de conflito custou tragicamente as vidas de civis palestinos e israelenses, incluindo crianças”. Biden levantou preocupações sobre a segurança dos jornalistas e reforçou a necessidade de garantir a proteção da imprensa.
O democrata também conversou com o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, e reforçou a necessidade de o movimento fundamentalista islâmico Hamas interromper os ataques contra Israel. Ontem, um foguete matou um israelense de 50 anos em Ramat Gan, subúrbio de Tel Aviv. Na madrugada de hoje (hora local), a região central de Israel voltou a ser alvo do Hamas. Até o fechamento desta edição, a ofensiva israelense sobre a Faixa de Gaza tinha deixado 148 mortos, incluindo 41 crianças e 23 mulheres, além de 1.100 feridos, entre eles 313 menores, segundo o Ministério da Saúde da AP. Do outro lado, 10 israelenses morreram. Desde segunda-feira, mais de 2.300 foguetes partiram da Faixa de Gaza em direção a Israel.
Os esforços diplomáticos para pôr fim ao conflito têm se intensificado. Hoje, o Conselho de Segurança das Nações Unidas voltará a se reunir, em caráter virtual. O chefe de Assuntos Palestinos e Israelenses do Departamento de Estado dos EUA, Hady Amr, deve se encontrar com líderes de Israel e visitar Ramallah, na Cisjordânia, onde conversará com representantes do governo palestino. O Egito espera que a visita de Amr impulsione seus esforços pela obtenção de uma trégua humanitária.
A Torre Al-Jalaa, onde estavam escritórios da rede de TV Al-Jazeera (do Catar) e da agência de notícias Associated Press, foi pulverizada pela aviação israelense. Em nota, as Forças de Defesa de Israel (IDF) afirmaram que o prédio abrigava “recursos da inteligência militar do Hamas”. “O edifício continha escritórios da mídia civil, nos quais o Hamas se escondia e utilizava jornalistas como escudos humanos”, escreveu o Exército no Twitter. Na conversa com Biden, Netanyahu ressaltou que havia “alvos terroristas” na Torre Al-Jalaa.
Pânico
Minutos depois de o prédio vir abaixo, Safwat Kahlout, jornalista Al-Jazeera, falou ao Correio, por telefone. “Eu trabalhava na Al-Jalaa havia 11 anos. Meus colegas se preparavam para mais um dia, arrumando as câmeras e carregando as baterias. De repente, uma pessoa que morava no mesmo prédio (o imóvel também era residencial) veio até o nosso escritório e disse ter recebido um telefonema dos israelenses. Na ligação, os interlocutores ordenaram que todos deixassem o edifício em um prazo de uma hora”, relatou o repórter, que no momento estava em uma cobertura, ao vivo, em outro ponto da Cidade de Gaza. “Imediatamente, meus colegas entraram em pânico e começaram a abandonar o local. É claro que uma hora não é suficiente para retirar os móveis. Eles tentaram pegar tudo o que era importante e pequeno, como laptops, câmeras e o que pensávamos ser necessário para a cobertura.”
De acordo com ele, pouco mais de uma hora depois, caças israelenses dispararam “mísseis imensos”. “Tudo desmoronou. Tivemos de deixar muita coisa para trás”, disse. Ao ser questionado se a Torre Al-Jalaa abrigava escritórios do Hamas, Safwat respondeu que, em Gaza, as facções palestinas são parte essencial da estrutura da sociedade. “Eles são irmãos, amigos, vizinhos, colegas. Quando você diz ‘Hamas’, não se trata de gente que vem do céu e vive de forma isolada”, afirmou. “Eu trabalhei por 11 anos nesse prédio e nunca vi ninguém do Hamas carregando uma arma ou um míssil. Posso lhe dizer que nunca vi um escritório do Hamas.”
“Israel está fazendo todo o possível para proteger nossos civis e manter os civis palestinos fora de perigo”, declarou Netanyahu, em pronunciamento à nação, em inglês. “Nós demonstramos isso novamente hoje (ontem), quando alertamos civis a desocuparem o prédio usado pela inteligência de terror do Hamas. Eles o abandonaram antes que o alvo fosse destruído.”
Susto e morte
Por volta do meio-dia (6h em Brasília), o fotógrafo gaúcho Bruno Treiguer, 33 anos, viveu momentos de terror. Morador de Ramat Gan, cidade vizinha a Tel Aviv, contou que ele e o irmão quase foram alvos de um ataque palestino. “Nós estávamos em um supermercado, em Ramat Gan. Naquele momento, ocorreram dois ataques. Tivemos que correr para dentro do bunker do estabelecimento. Escutamos vários barulhos. Quando saímos à rua, vimos que o Domo de Ferro (escudo antimísseis) havia interceptado cinco foguetes bem acima de nós”, disse ao Correio, por telefone.
Na volta para casa, um novo ataque. “Tivemos que parar o carro no meio da rua, descer correndo e entrar no primeiro prédio que vimos. Ficamos no meio das escadas. Uma idosa chorava. Escutamos barulhos altos de bomba e um foguete caiu muito perto de nós, a uns 500m, matando um homem”, acrescentou Bruno, que está há três meses em Israel. Depois do susto, ele e o irmão se dirigiram para o apartamento de um amigo, no centro de Tel Aviv, provido de um bunker. “É desesperador. Cada vez que você ouve um barulho, tudo treme. As pessoas daqui estão apavoradas.”