Guinada

Eleitores chilenos falam em medo e esperança diante da constituinte

Em uma eleição inédita de dois dias, em que além de eleger constituintes, prefeitos, vereadores e, pela primeira vez, governadores regionais, tudo gira em torno dos 155 candidatos que farão a redação da nova Constituição que substituirá a de 1980, herança da ditadura de Augusto Pinochet

Santiago, Chile — “Esperamos conseguir um bom grupo de pessoas que trabalhe para todos”, afirma uma eleitora em Santiago que ecoa a esperança e também os temores despertados no Chile pelo processo de eleger os que redigirão a nova Constituição deste país fragmentado.

Em uma eleição inédita de dois dias, em que além de eleger constituintes, prefeitos, vereadores e, pela primeira vez, governadores regionais, tudo gira em torno dos 155 candidatos que farão a redação da nova Constituição que substituirá a de 1980, herança da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

“Esperamos conseguir um bom grupo de pessoas que trabalhe para todos, que todas as vozes possam ser ouvidas, que todos nós estejamos dentro desta nova Constituição e que os direitos e deveres sejam realmente justos para todos os seres humanos neste país”, disse à AFP Silvia Navarrete, economista de 35 anos, após votar com o companheiro e a filha nos braços.

Carlos Huertas, professor universitário de 40 anos, afirma que eleger os membros da Assembleia é a forma de "fazer uma mudança no país" e a oportunidade de estabelecer "os direitos sociais que o povo exige".

“Votei em candidatos que estão pensando no povo e que estão participando dessa revolução social”, que começou no Chile a partir dos protestos sociais iniciados em 19 de outubro de 2019 e canalizados por meio desse processo constituinte, acrescentou.

Medo da "esquerda"

A possibilidade de redigir uma nova Carta Magna surgiu do plebiscito de 25 de outubro de 2020, quando quase 80% dos eleitores optaram pela opção "aprovar" uma mudança constitucional por meio de uma assembleia eleita 100% pelo voto popular.

Apenas 20% da população foi favorável à alternativa da "rejeição", entre eles, Valentina González, produtora de eventos de 45 anos.

Hoje, ela deixou o centro de votação insatisfeita. Ela não queria ir devido à pandemia, mas "o dever cívico" e "a consciência de voto" acabaram por convencê-la.

“Eu votei 'rejeição', então não estou de acordo com a mudança da Constituição. Tenho muito medo de que seja mudada para uma Constituição de esquerda e levada para o marxismo”, diz ela.

Em sua opinião, “os constituintes não estão preparados”, por isso ela está “bastante preocupada” e espera que a nova Carta Magna “mude o menos possível” a atual.

Entre os 1.373 candidatos à redação da Constituição, estão políticos de partidos tradicionais, atores, lideranças de organizações sociais e moradores de rua.

Muitos candidatos

Mais de 14 milhões de pessoas têm direito a participar nestas eleições, que foram adiadas por cinco semanas em meio à pandemia do coronavírus.

As medidas sanitárias foram reforçadas, os locais de votação foram ampliados e muitas mesas estavam ao ar livre.

Com números diários que neste sábado chegaram a 6.769 infecções e 87 mortes, o Chile tem mais de 48,5% de sua população-alvo vacinada com as duas doses.

“Vieram mais pessoas do que eu esperava”, disse à AFP Karla Cortés, presidente de uma seção em uma faculdade de Santiago.

Diante do grande número de candidatos - mais de 16.000 nas quatro eleições e 1.373 apenas para constituinte - os chilenos tiveram que estudar para decidir sobre seus quatro votos.

“Foram muitos os candidatos e isso significou muito estudo e acho que os programas de cada candidato não foram suficientemente divulgados para o povo”, explica à AFP Lilian Lavánchez, assistente social de 65 anos.

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