Mais de 2 mil foguetes palestinos foram disparados contra 70% do território israelense. Em resposta, as Forças de Defesa de Israel (IDF) mantiveram intensos bombardeios à Faixa de Gaza, numa escalada do conflito que remonta à de 2014, quando 2.104 palestinos morreram. Até o fechamento desta edição, 109 palestinos tinham perdido a vida durante os ataques aéreos, incluindo 27 crianças e a adolescentes. O número de feridos passava de 621. Do lado de Israel, sete morreram e dezenas sofreram ferimentos. De acordo com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a campanha militar, chamada de Operação Guardiães da Muralha, “durará o tempo que for necessário”.
Tanques, soldados e unidades de artilharia de Israel foram posicionados ao longo da fronteira. Durante a madrugada, o movimento fundamentalista islâmico Hamas, alvo da operação, intensificou o lançamento de foguetes rumo ao sul de Israel. Mais cedo, três artefatos disparados a partir do sul do Líbano foram interceptados e caíram no mar. Um pequeno grupo militante palestino é suspeito.
Enquanto isso, em várias cidades israelenses, ocorriam distúrbios entre árabes e judeus. O gabinete de Netanyahu descarta um cessar-fogo antes de amanhã. O Correio apurou que os bombardeios de ontem se concentraram na infraestrutura financeira do Hamas, nas oficinas e armazéns de foguetes e nas unidades de lançamento dos artefatos. “Eu disse que cobraremos um preço muito alto do Hamas. Estamos fazendo isso e continuaremos a fazê-lo. A última palavra ainda não foi dita, e esta operação continuará pelo tempo que for necessária”, avisou o premiê. No início da madrugada (hora local), as IDF publicaram no Twitter que tropas invadiram a Faixa de Gaza, apoiadas pela aviação. No entanto, a informação foi desmentida pouco depois pelo próprio Exército israelense, citando um problema de “comunicação interna”.
“A situação está pior do que ontem. Os palestinos que moram perto da fronteira com a Faixa de Gaza saíram de suas casas, por causa do pesado bombardeio e do uso de gás lacrimogêneo. Israel não parou de atingir casas. Eles as varreram, levando famílias inteiras. Nem sequer advertem sobre os bombardeios”, disse ao Correio o jornalista palestino Muhammad Smiry, morador de Khan Younis, em Gaza.
Em Ashkelon, no sul de Israel, a britânica Beverley Jamil classificou a situação como “tensa”. “Eu dirigia a ambulância, quando as sirenes antiaéreas soaram duas vezes. Tive que buscar um abrigo antibombas público. As pessoas estão amedrontadas. Esperamos que as tropas não invadam Gaza, pois não queremos mais perdas de vidas. Durante todo o dia, pudemos escutar os bombardeios. Meu pulso está acelerado”, contou à reportagem. No campo diplomático, os EUA, a Arábia Saudita e o Egito negociam um cessar-fogo, sob a condição de que o Hamas suspenda o disparo de foguetes. A Casa Branca pediu aos americanos que evitem viajar para Israel.
Distúrbios
Situada a apenas 15 minutos de carro de Tel Aviv, Lod conta com uma população de 80 mil habitantes — 30% de árabes e 70% de israelenses. Desde domingo, a cidade é palco de uma explosão de violência entre jovens árabes e grupos extremistas judeus. Netanyahu esteve no local, ontem, e prestou solidariedade irrestrita à polícia e às forças de segurança. “Não vamos tolerar a anarquia”, advertiu. Ele anunciou o reforço de policiais e soldados, além de utilizar equipamentos e efetuar prisões, para a restauração da ordem em todas as cidades do país.
“A situação por aqui é extremamente tensa. Nós sentimos o medo em todos os lugares. Quase todos nós enviamos nossas esposas e filhos para fora de Lod. Ficamos apenas os homens adultos. Há vários policiais israelenses espalhados pelas ruas, especialmente nos bairros atacados. Helicópteros sobrviam a cidade o tempo todo. Árabes têm atacado judeus”, afirmou ao Correio o autônomo Yoel Frankenburg, 34 anos, 12 dos quais vivendo em Lod.
Segundo Yoel, carros, casas, escolas e sinagogas foram incendiadas na cidade. “Hoje (ontem), começaram a usar armas de fogo. Acredito que cerca de 30 pessoas ficaram feridas. Para nos proteger, evitamos sair de nossas casas depois das 20h e rezamos para Deus”, relatou. Ele comentou que muitas sinagogas foram queimadas, mas todas elas estavam vazias.
Tali Gottlieb é uma exceção. Aos 32 anos, a empresária preferiu permanecer em Lod. “Nós lidamos com uma onda de violência sem precedentes. Mais de 30 carros foram incediados e vários outros tiveram os vidros quebrados por pedras e barras de ferro. Coquetéis Molotov também foram lançados dentro de sinagogas e casas, destruídas”, desabafou. Ela testemunhou o que considerou uma “catástrofe” da varanda de sua casa. “Vimos um grupo de árabes invadindo prédios onde moram judeus. Um dos homens disparou para o alto, matando um dos vândalos e ferindo dois. A polícia demorou 45 minutos para enviar uma viatura, tamanha a sobrecarga.” Em outro incidente, um homem abriu fogo contra um grupo de judeus, ontem, ferindo uma pessoa. O ministro da Defesa israelense, Benny Gantz, ordenou reforços “maciços” em cidades mistas, onde árabes e judeus convivem.
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“A coexistência entre árabes e judeus está sob ameaça. Provavelmente, a convivência entre os dois povos em minha cidade jamais será a mesma. Vivo aqui há 12 anos e nunca senti, nem de perto, o medo de hoje. Eles não atiravam em nós durante o dia, não andavam com facas nem nos ameaçavam com pedras ou garrafas. Isso agora ocorre em todos os lugares. Tentam nos matar todos os dias, de todas as formas, em nossa própria cidade.” Yoel Frankenburg, 34 anos, autônomo, morador de Lod (centro de Israel).
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“A situação por aqui está cada vez pior. O número de mortos aumenta. As casas e os prédios estão sendo derrubados. Alguns com aviso antecipado, outros, não. As ruas estão horríveis, e minha cidade está ficando assustadora. Tudo o que foi destruído em três dias precisará de anos para ser reconstruído. Brige, uma cidade vizinha, foi atacada. Uma família inteira morreu:
mãe, pai e três filhos.” Huda Al Assar, 55 anos, professora, moradora de Deir Al Balah (centro da Faixa de Gaza).