Crime cibernético

O ataque de hackers a maior oleoduto dos EUA que fez governo declarar estado de emergência

O duto transporta mais de 2,5 milhões de barris de óleo por dia, o que corresponde a 45% do abastecimento de diesel, gasolina e querosene de aviação da costa leste dos EUA

Especialistas temem que, se o serviço não for restaurado antes de terça-feira, o impacto econômico possa ser maiorColonial Pipeline

O governo dos EUA declarou estado de emergência em algumas regiões do país no domingo (09/05) depois que a maior rede de gasodutos do país sofreu um ataque cibernético na noite de sexta-feira, paralisando o fluxo de combustível.

Um grupo de hackers desconectou completamente a rede e roubou mais de 100 GB de informações do oleoduto da empresa Colonial. O duto transporta mais de 2,5 milhões de barris de óleo por dia, o que corresponde a 45% do abastecimento de diesel, gasolina e querosene de aviação da costa leste dos EUA.

Analistas do mercado de petróleo dizem que, como consequência, os preços dos combustíveis devem subir entre 2% e 3% nesta segunda-feira. Mas o impacto será ainda pior se o "apagão" do oleoduto continuar por muito mais tempo.

Os EUA trabalharam na noite de domingo para restaurar o serviço, mas devido às constantes falhas nas linhas principais, o governo decidiu decretar o estado de emergência para facilitar o transporte de combustível por outros meios, principalmente rodoviários.

"Esta emergência é uma resposta ao fechamento inesperado do sistema de dutos da Colonial devido a problemas de rede que afetam o fornecimento de gasolina, diesel, querosene de aviação e outros produtos petrolíferos refinados nos Estados afetados", disse o Departamento de Transportes, em nota oficial.

O estado de emergência abrange 17 Estados do país e suspende as restrições de horário para o transporte rodoviário de combustíveis.

O que se sabe sobre o ataque cibernético?

Várias fontes confirmaram que o ataque cibernético foi causado por um grupo de hackers chamado DarkSide, que se infiltrou na rede da Colonial na quinta-feira.

"Pouco depois de tomar conhecimento do ataque, a Colonial desligou de forma proativa certos sistemas para conter a ameaça. Essas ações interromperam temporariamente todas as operações do oleoduto e afetaram alguns de nossos sistemas de tecnologia, que estamos ativamente em processo de restaurar", disse a empresa.

A empresa de energia disse em um comunicado que está trabalhando com as autoridades policiais, especialistas em segurança cibernética e o Departamento de Energia para restaurar o serviço.

BBC
A DarkSide já realizou outros ataques antes e pediu somas milionárias

No comunicado, a Colonial especifica que embora as suas quatro linhas principais permaneçam fora de serviço, algumas linhas laterais menores entre os terminais e os pontos de entrega já estão funcionando.

"Estamos em processo de restauração do serviço para outras laterais e colocaremos todo o nosso sistema online novamente somente quando julgarmos seguro fazê-lo e em total conformidade com a aprovação de todas as regulamentações federais", esclareceu.

O analista independente de mercado Gaurav Sharma disse à BBC que, como resultado do ataque, agora há muito combustível encalhado nas refinarias do Texas. Com o estado de emergência, os produtos petrolíferos poderão ser enviados por caminhões-pipa para Nova York, mas ainda assim isso não ficaria abaixo da capacidade do oleoduto.

"A menos que eles resolvam tudo até terça-feira, eles estarão com um grande problema", diz Sharma.

"As primeiras áreas a serem afetadas serão Atlanta e Tennessee, e depois o efeito cascata chegará a Nova York", disse ele.

O ataque cibernético ocorre em um momento em que as reservas dos EUA estão diminuindo e a demanda, especialmente por combustíveis para veículos, está aumentando. Os consumidores estão voltando às estradas na medida em que a economia dos EUA tenta se recuperar dos efeitos da pandemia.

Como o ataque aconteceu?

De acordo com a Digital Shadows, uma empresa de segurança cibernética com sede em Londres que rastreia criminosos cibernéticos globais, o ataque ocorreu porque os hackers encontraram uma maneira de penetrar no sistema se aproveitando do grande número de engenheiros que acessam remotamente os sistemas de controle do oleoduto.

Colonial Pipeline
O ataque cibernético afetou uma das maiores redes de oleodutos dos EUA

James Chappell, cofundador e diretor de inovação da Digital Shadows, acredita que a DarkSide obteve detalhes de login de programas de acesso remoto, como TeamViewer e Microsoft Remote Desktop.

A pesquisa inicial da Digital Shadows sugere que os hackers provavelmente estão baseados em um país de língua russa.

Chappell diz que é possível que qualquer pessoa procure os portais de login de computadores conectados à Internet em mecanismos de busca como Shodan e, em seguida, hackers continuem tentando combinações de nomes de usuário e senhas até que alguma delas funcione.

"Estamos vendo muitas casos assim agora, este é um problema sério", diz Chappell.

"Todos os dias há novas vítimas. Há muitas pequenas empresas que são vítimas disso — está se tornando um grande problema para a economia global."

Como a DarkSide opera?

Embora a DarkSide não seja a maior dessas gangues de hackers, o incidente destaca o risco crescente que o ransomware (em que um bloqueio online é feito por criminosos, que cobram um pagamento, geralmente em criptomoedas, para liberar o acesso) representa para a infraestrutura industrial de segurança, e não apenas para o mundo dos negócios.

A DarkSide costuma dar golpes do tipo ransomware. As vítimas de um ataque DarkSide recebem um pacote de informações informando que seus computadores e servidores estão criptografados.

A quadrilha lista então todos os dados que roubou e envia às vítimas o link para uma "página de vazamento pessoal" onde os dados já estão carregados, aguardando a publicação automática, caso a empresa ou organização se negue a pagar o resgate.

De acordo com a Digital Shadows, a DarkSide opera de forma profissional, como se fosse uma empresa.

A quadrilha desenvolve seu próprio software usado para criptografar e roubar dados, e depois treina agentes "afiliados", que recebem um kit de ferramentas contendo o software, um template de ransomware por e-mail e treinamento para realizar ataques.

Os cibercriminosos afiliados então pagam à DarkSide uma porcentagem de seus ganhos de quaisquer ataques de ransomware bem-sucedidos.

Em março, quando lançou seu novo software que podia criptografar dados mais rápido do que antes, a gangue chegou a divulgar um comunicado à imprensa e convidou jornalistas para entrevistar seus integrantes.

Os hackers têm um site na dark web onde se orgulham de seu trabalho e fornecem detalhes sobre suas operações, listando todas as empresas hackeadas e o que foi roubado. Eles também têm uma página com um "código de ética", listando quais organizações a gangue se compromete a não atacar.

A DarkSide também funciona com "access brokers" (intermediários de acesso) — que são hackers que trabalham para coletar os detalhes de login para o maior número possível de contas de usuários em diversos serviços.

Em vez de invadir essas contas, esses intermediários de acesso vendem esses dados de usuário e senha para quem pagar mais — em geral, outras gangues de cibercriminosos que usam esses dados para cometer crimes muito maiores.


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