Testes de diagnóstico diários, arquibancadas vazias, controles... As competições pré-olímpicas organizadas em Tóquio, apesar do estado de alerta sanitário, dão uma ideia de como serão os Jogos Olímpicos.
Os recentes eventos-teste organizados no Japão procuram convencer a população local de que as Olimpíadas, previstas para 23 de julho a 8 de agosto, podem acontecer "em absoluta segurança", quando muitas vozes se opõem a sua realização pela situação sanitária no país.
No domingo (9/5), mais de 400 atletas (nove deles procedentes do exterior) participaram de uma prova de atletismo com arquibancadas vazias no Estádio Olímpico de Tóquio.
Apesar de os alto-falantes do estádio transmitirem áudio gravado do público, o velocista americano Justin Gatlin considerou que "é estranho correr num estádio sem torcedores", depois de ter corrido os 100 metros.
Esse ambiente pode ser uma prévia do que os atletas encontrarão em agosto, já que os Jogos tiveram de ser adiados por um ano, devido à pandemia do coronavírus e os espectadores estrangeiros foram proibidos de entrar no Japão. Em junho, os organizadores decidirão se autorizam o acesso público local e em que condições.
Cerca de 100 pessoas protestaram no domingo (9/5) nos arredores do estádio contra a realização das Olimpíadas.
"O número de infecções em Tóquio e Osaka é muito alto, e há muitos casos graves", disse o manifestante Takashi Sakamoto. "Eu gostaria que o dinheiro (para os Jogos) fosse para os hospitais", comentou à AFP.
De acordo com pesquisa publicada nesta segunda-feira (10/5) pelo jornal Yomiuri, 59% dos entrevistados querem que os Jogos sejam cancelados, 23% são a favor de que sejam realizados sem público, e 16% que sejam realizados com lotação limitada. Esta enquete não perguntou sobre um novo adiamento.
Outra pesquisa realizada pelo canal de televisão TBS revelou que 37% são a favor do cancelamento, enquanto 28% dos entrevistados querem o adiamento dos Jogos.
"Mais que seguro"
O primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, defendeu-se nesta segunda-feira (10/5) no Parlamento, dizendo que nunca "colocou as Olimpíadas na frente" e que sua prioridade é "a vida e a saúde do povo japonês".
Apesar de uma petição on-line solicitando o cancelamento dos Jogos ter coletado mais de 315 mil assinaturas desde a última quarta-feira (5/5), os organizadores garantem que este evento mundial pode ser realizado sem perigos, respeitando regras rígidas para evitar contágios.
"Eu me senti mais do que seguro", afirmou Justin Gatlin. "Tenho feito testes todos os dias, tanto de saliva quanto nasal pela manhã. A bolha é muito eficaz. A única vez que estive no exterior foi quando entramos no ônibus para ir ao estádio".
Essas regras já foram aplicadas no último final de semana durante a Copa do Mundo de Saltos Ornamentais, que reuniu 200 saltadores de 50 países.
"Cuspimos em muitos tubos", declarou o saltador britânico Tom Daley. "Nós sabíamos como era aqui".
Mas, para o diretor esportivo alemão Lutz Buschkow, as restrições podem ser um pouco claustrofóbicas. "O mais frustrante é que não podemos respirar ao ar livre. É um fardo para atletas e treinadores".
Os organizadores relataram dois casos de coronavírus durante os eventos-teste: um treinador de saltos ornamentais que deu positivo na chegada ao Japão e um membro de uma equipe de remo, positivo durante a competição.
Estes dois casos não levaram à anulação das provas e, até o momento, não foram registrados mais resultados positivos.