Os talibãs anunciaram nesta segunda-feira (10/5) um cessar-fogo de três dias no Afeganistão pela festa de Eid al Fitr, que marca o fim do Ramadã, dois dias após um atentado contra uma escola do qual negam a autoria.
Além das 50 pessoas que morreram no ataque, que as autoridades atribuem aos talibãs, outras 11 perderam a vida no domingo (9/5) em um atentado contra um ônibus na província de Zabul, horas antes do anúncio do cessar-fogo, informou o ministério do Interior.
"Se ordenou aos mujahedines dos emirados islâmicos (os talibãs) que cessem todos os ataques contra o inimigo em todo o país do primeiro ao terceiro dia do Eid", uma celebração cuja data depende da fase da Lua, afirma um comunicado divulgado pelos insurgentes.
"Mas se o inimigo realizar um ataque contra vocês nestes dias, estejam preparados para se proteger e defender com firmeza o território”, continua o texto.
O anúncio foi feito após o atentado mais violento em um ano no Afeganistão, contra uma escola para meninas.
Normalmente o governo responde declarando um cessar-fogo. Fraidon Khawzon, porta-voz do coordenador dos negociadores Abdullah Abdullah, afirmou mesta segunda-feira: "Aplaudimos este anúncio (...) a República Islâmica também está preparada e fará um anúncio em breve".
No sábado (8/5) foram registradas várias explosões diante de um centro escolar em um bairro de maioria xiita hazara, na zona oeste de Cabul, quando os habitantes faziam compras para o Eid al Fitr.
"Um ato desumano"
Os talibãs negaram qualquer envolvimento no ataque, que aconteceu no âmbito da retirada dos últimos 2.500 soldados americanos ainda presentes neste país abalado por 20 anos de conflito e ainda em plena violência.
Ao declarar um dia de luto nacional para terça-feira (11/5), o presidente afegão Ashraf Ghani questionou os talibãs em um comunicado.
"Este grupo de selvagens não tem a capacidade de enfrentar as forças de segurança no campo de batalha. Atacam barbaramente edifícios públicos e escolas de meninas", denunciou o presidente.
Os talibãs, que lutam contra as forças governamentais, negaram qualquer envolvimento e afirmaram que não executam ataques em Cabul desde fevereiro de 2020.
Naquele mês, os talibãs assinaram um acordo com o governo dos Estados Unidos que abriu o caminho para as negociações de paz e a retirada das últimas tropas americanas.
Mas o governo dos Estados Unidos adiou a retirada para 11 de setembro, data do 20º aniversário dos atentados da Al-Qaeda contra Nova York e Washington em 2001, o que provocou a irritação dos talibãs.
Seu líder, Hibatullah Akhundzada, advertiu no domingo que um adiamento na saída das tropas seria uma violação do acordo.
"Se o governo dos Estados Unidos voltar a violar seu compromisso, o mundo deve ser testemunha e responsabilizar (Washington) pelas consequências", disse Akhundzada.
"É um ato desumano", declarou o papa Francisco, ao mesmo tempo que a Índia defendeu o "fim dos santuários terroristas" e um cessar-fogo.
O Irã, país fronteiriço, acusou o grupo Estado Islâmico e sua "falta de humanidade".
No mesmo distrito de Cabul, em maio do ano passado, 25 pessoas morreram, incluindo 16 mães e recém-nascidos, quando homens armados atacaram uma maternidade apoiada pelos Médicos Sem Fronteiras.
Em 24 de outubro, um homem-bomba atacou um centro de formação no mesmo distrito e matou 18 pessoas, incluindo estudantes. O atentado não foi reivindicado.