A viagem de Juan Pablo Ossa ao Rio de Janeiro se transformou em um pesadelo quando o governo colombiano fechou a fronteira aérea devido à variante brasileira do coronavírus. Enquanto isso, times de futebol viajam de um país a outro à vontade.
Com esposa brasileira e dois filhos, este editor de uma revista universitária faz um apelo para voltar a Bogotá. Sua única opção é pagar 750 dólares por um assento em um "voo humanitário" para a capital e, na chegada, pagar 14 noites de quarentena em um hotel.
Já os times brasileiros e colombianos que disputam as copas Libertadores e Sul-Americana recebem licenças excepcionais para se deslocar entre os países. Segundo o governo, porque são eventos de "interesse nacional".
Um teste de PCR negativo é suficiente para os atletas pousarem na Colômbia.
As delegações devem cumprir uma "concentração total (...) em isolamento de outras pessoas" de fora da competição, informou o ministro da Saúde, Fernando Ruiz.
"Sem dúvida (foi) uma notícia que me pareceu absolutamente injusta, pois os atletas recebem um tratamento diferenciado pelo fato de pertencerem a um time de futebol e fazerem parte de um espetáculo", denuncia Ossa à AFP, frustrado.
Ele também reclama de ter que arcar com despesas adicionais.
Seu caso não é único. Quase 400 colombianos pediram permissão para retornar desde janeiro, quando os voos para o Brasil foram bloqueados, segundo dados do ministério das Relações Exteriores.
Cerca de 120 já retornaram nas condições exigidas, mas para isso tiveram que entrar com uma ação judicial.
Antes, a passagem de ida e volta para o Brasil custava entre US$ 400 e US$ 500, lembra Ossa.
Nesta quinta-feira, o Fluminense enfrentará o Junior Barranquilla pelo Grupo D da Libertadores.
Os brasileiros esperam chegar à cidade litorânea sem problemas e conquistar uma vitória que encaminharia a classificação para as oitavas de final.
Na semana passada, o Flu enfrentou em Armenia (oeste) o Independiente Santa Fe, depois que Bogotá baniu o futebol da capital devido a uma terceira onda de covid-19. O Tricolor venceu por 2-1.
Mas "o ideal é que não viessem", afirma Herman Bayona, presidente do Colégio Médico de Bogotá.
"Conceder este privilégio é uma situação que pode estourar uma bolha e provocar maior circulação da variante brasileira do vírus", que os especialistas consideram mais contagiosa, alerta o especialista.
Além do Fluminense, La Equidad viajou para Porto Alegre para enfrentar o Grêmio; o Deportes Tolima visitou o Red Bull Bragantino em Bragança Paulista; e o América de Cali voou para Belo Horizonte para jogar contra o Atlético Mineiro.
Na volta, nenhuma equipe foi colocada em quarentena.
Escolas não, futebol sim
Além desses eventos, a pandemia colocou em xeque a realização da Copa América-2021 na Colômbia e na Argentina, prevista para meados do ano.
O presidente argentino, Alberto Fernández, afirmou recentemente estar "preocupado" com as viagens das equipes de seu país ao exterior.
Já o ministro da Saúde da província de Buenos Aires, Daniel Gollán, sugeriu recentemente que o futebol deveria dar o "exemplo" e parar.
"Com razão (...) às vezes irrita quando dizem 'bom, vamos suspender as aulas', enquanto (outros) estão jogando futebol", disse ele em entrevista ao canal Todo Noticias.
Apesar de os contágios continuarem dentro dos times, nas nações de Lionel Messi, Neymar e James Rodríguez, o futebol se recusa a parar.
Diversos rumores na imprensa especulam sobre a possibilidade de a Argentina decidir não receber o torneio continental que começa em 13 de junho.
Mas a Conmebol insiste em sua realização. O torneio deveria ter acontecido em 2020 e foi adiado devido ao início da pandemia.
Por sua vez, o presidente colombiano, Iván Duque, apoia a ideia de jogar o torneio sem público nos estádios, que estão fechados para os torcedores da liga local desde março de 2020.
A América Latina é um dos focos do coronavírus, com 28,7 milhões de infecções no continente e mais de 915.000 mortes, segundo contagem da AFP.
A Colômbia passa por uma nova onda letal da covid-19, com seu sistema hospitalar à beira do colapso e apenas 17% das unidades de terapia intensiva estão disponíveis.