Nova Délhi, Índia - A Índia, que luta para conter uma das ondas mais graves de contágios de coronavírus no mundo, com quase 400 mil novos casos registrados neste domingo (2/5), recebeu mais ajuda internacional, em um momento de protestos contra as restrições sanitárias em vários países.
O aumento de contágios no Brasil e no Canadá também mostra a ameaça persistente da doença. A covid-19 já provocou quase 3,2 milhões de mortes em todo o planeta, segundo um balanço da AFP com base em números oficiais dos países.
A Índia, com 1,3 bilhão de habitantes, ampliou no sábado o programa de vacinação para todos os adultos, mas muitos estados sofrem com a falta de doses, apesar da suspensão das exportações dos fármacos.
Durante o fim de semana foram registradas longas filas nos centros de imunização das cidades de todo o país, com pessoas desesperadas para receber a vacina contra uma doença que provocou o colapso de hospitais, cemitérios e crematórios.
"Chegamos cedo para receber a vacina", declarou Megha Srivastava, 35 anos, em uma clínica particular da capital Nova Délhi. "Agora é uma necessidade. Estamos vendo que muitas pessoas testam positivo", completou.
As redes sociais estão repletas de pedidos desesperados de pessoas em busca de cilindros de oxigênio, medicamentos e leitos de hospital. O ritmo acelerado de contágios provoca uma escassez generalizada no país.
A Índia informou neste domingo que registrou mais de 392.000 novos casos e quase 3.700 mortes por covid-19 nas últimas 24 horas. Diante da situação crítica, vários países, como Estados Unidos, Reino Unido e França, enviaram vacinas, máscaras e concentradores de oxigênio.
Um avião com 28 toneladas de equipamentos médicos fretado pela França pousou neste domingo em Nova Délhi, onde as autoridades prolongaram o confinamento por uma semana para combater a pandemia.
A França enviou oito grandes geradores de oxigênio medicinal e 28 respiradores. A Alemanha enviou 120 respiradores no sábado e o Reino Unido prometeu enviar outras 1.000 unidades.
O assessor médico da presidência dos Estados Unidos, Anthony Fauci, recomendou a adoção imediata na Índia de um confinamento nacional de várias semanas, mas o governo indiano está indeciso.
Uma lista crescente de países suspendeu ou limitou os voos com a Índia. A Nigéria proibiu neste domingo a entrada de passageiros não nigerianos que estiveram no país, assim como no Brasil e na Turquia, nas últimas duas semanas.
Os sinais de alerta foram registrados em outros países do superpopuloso sul da Ásia. O Sri Lanka contabilizou no sábado um recorde de contágios e as autoridades anunciaram novas restrições de deslocamentos e para algumas atividades.
"Cansados e esgotados"
Os contágios registrados oficialmente em todo o mundo superam 152 milhões. O Brasil, país mais afetado da América Latina, superou durante a semana a marca de 400.000 mortes por covid-19 - o segundo maior balanço, atrás apenas dos Estados Unidos.
No Canadá, o epicentro da doença está na província de maior população, Ontario, onde a onda de contágios é tão intensa que o governo enviou o exército e a Cruz Vermelha para ajudar os pacientes em estado crítico.
"Estamos no limite", declarou à AFP Farial Faquiry, enfermeira da UTI do hospital Humber River de Toronto. "Estamos cansados e esgotados. Simplesmente esgotados", completou.
Muitos profissionais da saúde estão frustrados com os cidadãos que não seguem as recomendações médicas. "Penso que todos sentimos que a sociedade nos decepcionou um pouco", disse o médico Jamie Spiegelman.
A vacinação no Canadá enfrenta problemas de abastecimento, ao contrário do vizinho Estados Unidos, onde mais da metade da população adulta recebeu pelo menos uma dose dos fármacos anticovid.
Protestos contra as restrições
Apesar da ameaça de covid-19 persistir, muitas pessoas ao redor do mundo estão cada vez mais cansadas das medidas contra a pandemia.
Manifestantes contra as restrições se reuniram no sábado em vários países da Europa como Finlândia, Suécia, Bélgica e Alemanha, no momento em que o continente começa a flexibilizar as restrições.
A polícia de Berlim anunciou a detenção de mais de 250 pessoas por distúrbios em várias manifestações no sábado, enquanto a polícia belga efetuou 132 detenções depois de dispersar uma festa proibida em um parque de Bruxelas.
Milhares de brasileiros também participaram no sábado de manifestações em apoio ao presidente Jair Bolsonaro, desafiando qualquer distanciamento físico. Alguns pediram uma "intervenção militar" para reforçar os poderes do presidente.