Na Síria, com um conflito estagnado e uma economia em ruínas após dez anos de guerra, quais são as prioridades do presidente Bashar al-Assad, sancionado pela comunidade internacional e reeleito na quarta-feira (26/5) em eleições polêmicas?
Que mensagem pretende passar com uma vitória eleitoral recorde?
Em sua edição desta sexta-feira (28/5), o jornal Al Watan, apoiador do regime, aplaudiu o resultado obtido pelo presidente Bashar al-Assad nas eleições, em que obteve 95,1% dos votos, ainda mais do que nas eleições presidenciais anteriores em 2014 (88%).
Embora a reeleição de Bashar al-Assad não tenha surpreendido ninguém, as imagens de multidões comemorando os resultados em várias cidades do país, veiculadas pela mídia pública, foram um indicativo da importância que Damasco atribui à questão da legitimidade interna e a estas eleições, a segunda realizada no país desde o início da guerra em 2011.
Dos 18,1 milhões de eleitores na Síria e no exterior, mais de 14,2 milhões votaram, segundo dados oficiais, elevando a taxa de participação para 76,64%. E desses, mais de 13,5 milhões votaram em Assad.
Na Síria, as eleições foram realizadas em áreas controladas pelo regime, mas no exterior os milhões de deslocados ou refugiados como resultado do conflito não puderam votar.
Com esta reeleição, a mensagem de Bashar al-Assad, "tanto para a oposição síria quanto para os países que se opõem a ele", é que "seus sonhos de derrubá-lo morreram", disse Nicholas Heras, especialista do Instituto Newlines em Washington.
Nos últimos anos, depois de aceitar a ideia de que o presidente não deixaria o poder, a comunidade internacional optou por uma solução política para o conflito, na esperança de que talvez a estrutura do regime pudesse mudar.
Mas com seu "resultado implacável de 95,1%", essa solução também é "o enterro dos esforços diplomáticos internacionais voltados para a reforma da Síria", disse Heras.
É também uma "mensagem importante" da Rússia e do Irã, aliados de Damasco, "aos Estados Unidos e seus parceiros de que a Síria não tem futuro sem Assad", acrescentou o pesquisador.
Quais as prioridades?
Com o slogan "Esperança pelo trabalho", em um país com a economia em frangalhos e a infraestrutura destruída pelo conflito, Bashar al-Assad disse logo após sua vitória que "começaram os trabalhos" para reconstruir a Síria.
Segundo Heras, “durante a campanha eleitoral, ele reforçou sua posição como homem que ganhou a guerra, que tem grandes ideias para a reconstrução e que é o único capaz de estabelecer a ordem depois do caos” de um conflito que deixou mais de 388.000 mortos e obrigou mais da metade da população a abandonar suas casas.
No entanto, os países ocidentais não querem doar fundos para reconstruir o país sem uma transição política, então Assad e seus aliados buscam "doadores em potencial".
Para isto, devem apostar numa reaproximação com as ricas monarquias petrolíferas do Golfo, algumas das quais já restabeleceram laços diplomáticos ou iniciaram contatos com Damasco, após vários anos de tensão.
Além disso, antes das eleições, algumas autoridades sírias mencionaram que uma "grande mudança" estava para ocorrer nas relações com os Estados do Golfo.
No rádio, a conselheira presidencial, Bouthaina Shaaban, disse que “estão sendo feitos esforços para melhorar as relações com Riade".
Para o pesquisador sírio Shadi Ahmad, a próxima etapa será marcada pela "restauração da confiança" com os países do Golfo.
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