Aquecimento Global

Países do Ártico mostram unidade ante tensões e aumento das temperaturas

Nos últimos anos, a Rússia aumentou, de modo constante, sua capacidade militar no Ártico, reabrindo e modernizando várias bases e aeródromos abandonados desde o fim da era soviética

Agência France-Presse
postado em 20/05/2021 13:53 / atualizado em 20/05/2021 13:54
 (crédito: NASA/Goddard/Operation IceBridge/Divulgação)
(crédito: NASA/Goddard/Operation IceBridge/Divulgação)

Os países do Ártico se comprometeram, nesta quinta-feira (20/5), a lutar contra o aquecimento global, três vezes mais rápido no Grande Norte do que em todo planeta, assim como a preservar a paz, apesar da crescente disputa geopolítica na região.

"Nos comprometemos a promover uma região do Ártico pacífica, na qual prevaleça a cooperação em matéria de clima, meio ambiente, ciência e segurança", disse o secretário de Estado americano, Antony Blinken, em Reykjavik, no Conselho Ártico, que também reúne Rússia, Canadá, Islândia, Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia.

"A competição estratégica que caracteriza o Ártico chama a atenção do mundo", mas "sua marca registrada deve continuar sendo a cooperação pacífica", acrescentou.

Trata-se de uma advertência à China, país que, embora tenha "status" apenas de observadora neste fórum, não esconde seu interesse por este vasto território de condições extremas em torno do Polo Norte. Rico em recursos naturais, sua exploração se vê facilitada pelo avanço do degelo e pelo desenvolvimento do transporte marítimo.

Também foi um recado para a Rússia, outro grande rival dos Estados Unidos, após as tensas trocas que antecederam o encontro na capital islandesa sobre o risco de "militarização" do Ártico.

Manobras militares 


Nos últimos anos, a Rússia aumentou, de modo constante, sua capacidade militar no Ártico, reabrindo e modernizando várias bases e aeródromos abandonados desde o fim da era soviética.

O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, voltou a acusar os ocidentais, nesta quinta-feira, de "brincarem com as palavras", ao colocarem uma presença militar dos Estados Unidos às portas da Rússia "em rodízio, em vez de permanente", para burlar os textos que regem as relações entre Moscou e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

"Não vemos razão para conflito aqui e, menos ainda, para um desenvolvimento de programas militares de um bloco, ou de outro", declarou Lavrov à imprensa.

Principal fórum da região, o Conselho do Ártico foi criado há 25 anos, para tratar de temas consensuais, como a preservação do meio ambiente. Seu mandato exclui, explicitamente, a segurança militar.

Lavrov voltou a defender a reativação dos encontros regulares entre os chefes de Estado-Maior da zona para "estender nossas relações positivas à esfera militar".

A Rússia substitui a Islândia, nesta quinta, na presidência rotativa desta instância regional.

Os encontros mencionados por Lavrov estão suspensos desde 2014 e da anexação da Crimeia por Moscou.

Ele insistiu, porém e sobretudo, no "espírito de cooperação", propondo organizar uma cúpula de chefes de Estado e de governo nos próximos dois anos.

Blinken, que teve ontem um primeiro encontro com Lavrov, também destacou a "cooperação" com Moscou e com os demais países-membros, mais do as tensões existentes. A reunião bilateral foi descrita como "construtiva" por russos e americanos.

Com o fim da Presidência de Donald Trump - que abalou a região ao propor a compra da Groenlândia em 2019 e ao multiplicar as declarações contra as ambições russas e chinesas -, a nova linha de seu sucessor Joe Biden é acompanhada de perto.

Blinken insistiu na luta contra o aquecimento global, enquanto seus homólogos celebraram, nos últimos dias, o "retorno" dos Estados Unidos à linha de frente deste desafio planetário.

"A crise climática é nossa maior ameaça de longo prazo, com o Ártico enfrentando um aquecimento três vezes mais rápido do que o planeta inteiro", alertou o ministro canadense das Relações Exteriores, Marc Garneau.

O programa de monitoramento e avaliação do Ártico divulgou dados alarmantes, nesta quinta-feira. Entre eles, o aumento do risco de que o emblemático gelo marinho da região desapareça completamente no verão, até voltar a se formar no inverno.

Blinken na Groenlândia 


Na reunião anterior do grupo, na Finlândia, em 2019, o ceticismo climático do governo Trump impediu, pela primeira vez, a adoção de uma declaração conjunta do Conselho. Naquele momento, os Estados Unidos se recusaram a incluir a mudança climática no texto.

Desta vez, a declaração conjunta foi aprovada sem problemas e, pela primeira vez, com um "plano estratégico" para os próximos dez anos.

Sinal do interesse confirmado de Washington, ainda que a questão de uma aquisição tenha caído no esquecimento, Blinken viaja para a Groenlândia na tarde desta quinta, onde encerra a viagem iniciada no último domingo, na Dinamarca.

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