ALERTA

Covid-19: um a cada sete adultos desenvolve nova doença após fase aguda

O problema é enfrentado por um em cada sete infectados pelo Sars-CoV-2, mostra estudo americano. Insuficiência respiratória crônica, diabetes e fadiga estão entre as complicações. Para especialistas, o resultado sinaliza a importância da assistência contínua aos recuperados

» Vilhena Soares
postado em 20/05/2021 06:00
 (crédito: Ernesto Benavides/AFP)
(crédito: Ernesto Benavides/AFP)

Estudo americano mostra que um em cada sete adultos infectados pelo novo coronavírus pode desenvolver ao menos uma nova condição médica que exige cuidados após a fase aguda — que dura três semanas — da infecção. Os pesquisadores chegaram a esses dados após avaliar registros médicos de mais de 200 mil pacientes. As conclusões foram apresentadas na última edição da revista British Medical Journal (BMJ) e, segundo os especialistas, servem como um alerta para a necessidade de fornecer assistência reforçada aos recuperados da doença desencadeada pelo Sars-CoV-2 durante um longo período.


Pequenos estudos anteriores sugerem que alguns sobreviventes da covid-19 desenvolvem condições clínicas de curto e longo prazos (sequelas), mas poucas pesquisas examinaram esse risco além do período de recuperação inicial. “Para preencher essa lacuna, decidimos avaliar os riscos de ocorrência de problemas de saúde após a fase aguda da infecção por coronavírus, cerca de 21 dias após a identificação da enfermidade”, ressaltaram os autores do artigo, liderados por Sarah E. Daugherty, do grupo de pesquisa OptumLabs, nos Estados Unidos.


Usando registros de seguros de saúde, os cientistas identificaram 266.586 adultos com 18 a 65 anos e diagnóstico de infecção por covid-19 entre 1º de janeiro e 31 de outubro de 2020. A equipe examinou se os pacientes também tinham, ao menos, um problema de saúde de uma lista de 50 doenças. “As condições avaliadas englobam vários órgãos e sistemas, incluindo coração, rins, pulmões e fígado, bem como complicações de saúde mental”, detalham no artigo.


Os infectados pelo Sars-CoV-2 foram comparados com outros dois grupos: pessoas que não tiveram covid-19 e um grupo com diagnóstico de outras infecções respiratórias virais. A análise dos dados revela que 14% dos infectados pelo novo coronavírus tinham pelo menos uma nova condição que exigia atenção médica após a fase aguda da doença. O número é 5% maior do que o registrado entre os sem covid e 1,65% maior do que o dos indivíduos com outro males virais respiratórios.


Problemas de ritmo cardíaco, amnésia, diabetes, insuficiência respiratória crônica, ansiedade e fadiga estão entre as complicações detectadas. Os pesquisadores também observaram que grande parte das enfermidades permaneceu por até seis meses após a infecção. Além disso, algumas características do perfil dos pacientes com covid-19 aumentaram o risco de ocorrência de condições que exigem cuidados médicos, como idade avançada e ter enfermidades anteriores. “Embora o risco de desenvolver novas condições durante a fase pós-aguda da doença tenha aumentado com a presença dessas características (…), adultos mais jovens, como 50 anos ou menos, aqueles sem doenças preexistentes e os que se recuperaram em casa também estavam em risco”, alertam.
Fardo

Os autores enfatizam que o estudo é observacional — por isso, não estabelece uma relação de causa e efeito. Também destacam que novas análises precisam ser conduzidas, já que se trata de um grande desafio a ser enfrentado. “É muito cedo para prever por quanto tempo as sequelas clínicas persistirão após a covid-19, mas esses sintomas claramente criam um grande fardo pessoal (…) Como tratar agora essas consequências de longo prazo é uma prioridade de pesquisa urgente”, afirma, em comunicado, Elaine Maxwell, pesquisadora do National Institute for Health Research, nos EUA, ao comentar o estudo em um editorial também divulgado pelo BMJ.


Luciano Lourenço, clínico geral e chefe da Emergência do Hospital Santa Lúcia, de Brasília, avalia que os dados da pesquisa refletem um cenário cada vez mais comum nos hospitais. “Grande parte dos pacientes com covid-19 que acompanhamos após a recuperação da doença tem demonstrado sofrer com alguma enfermidade que existia previamente, como diabetes e uma série de problemas pulmonares. Isso é algo que acontece, provavelmente, pela inflamação provocada pela doença no organismo. Ela pode desencadear alterações que geram consequências mesmo depois da cura”, explica.


Segundo o médico, o estudo alerta para a necessidade de criação de um sistema que ajude a cuidar das sequelas dos recuperados. “Temos o caso da anosmia, que é a falta de cheiro. Ela já permanece por seis meses em muitos pacientes. Isso precisará ser bem avaliado e acompanhado. Também estamos vendo pessoas com sintomas que não indicam uma doença já conhecida, como diarreias constantes, algo que ainda não compreendemos bem e precisará ser bem avaliado”, ilustra. “Por isso, é importante pensar nesse pós-covid. Devemos criar centros e ambulatórios com o objetivo de compreender melhor esses efeitos e como tratá-los.”

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Teste de dose extra

O governo do Reino Unido anunciou que milhares de voluntários receberão uma dose de reforço de vacinas contra a covid-19 em um novo ensaio clínico, cujo objetivo principal é avaliar se medida pode combater o avanço da variante do Sars-CoV-2 identificada, pela primeira vez, na Índia e que tem se espalhado rapidamente.
O país registrou ontem 2.967 casos da nova variante B1.617.2, segundo Matt Hancock, ministro da Saúde. O número representa um aumento de um terço em relação à última segunda-feira. Hancock também pediu que as pessoas se vacinem, “já que a nova cepa parece ser mais transmissível” do que a variante detectada, em dezembro, no sul da Inglaterra e que provocou um surto de casos no país e quatro meses de confinamento.
Hancock avalia que, como 70% dos adultos receberam a primeira dose de uma vacina e 40%, as duas esse impacto não deve se repetir. “Estamos convencidos de que as vacinas são eficazes contra a variante indiana”, frisou. “Isso significa que nossa estratégia é a certa: substituir com cuidado as restrições às nossas liberdades pela proteção oferecida pelos imunizantes.”
De acordo com o governo inglês 2.886 voluntários receberão uma terceira dose de reforço em 16 centros da Inglaterra e serão testados aos 28, 84, 308 e 365 dias após a aplicação. Os primeiros resultados sobre as respostas imunológicas são esperados para setembro.,

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação