Desde que os mísseis começaram a ser lançados perto da casa de sua família na Faixa de Gaza nesta semana, Najwa Sheikh-Ahmad está com medo de dormir.
"As noites são tão assustadoras para nós — para nossos filhos", diz Najwa, mãe de cinco filhos. "A qualquer momento, sua casa pode virar seu túmulo."
Durante todo o dia, ela pode ouvir o som dos caças israelenses voando sobre suas cabeças, junto com o som de explosões de mísseis e bombardeios aéreos. "Tudo está tremendo ao nosso redor", diz ela. "E também estamos tremendo de tanto medo."
Ela é um dos muitos residentes em Israel e Gaza que foram tomados pelo medo, enquanto os militantes palestinos e as forças israelenses continuam trocando tiros. A violência nas ruas entre judeus e árabes israelenses estourou em muitas cidades israelenses. Pelo menos 83 pessoas já foram mortas em Gaza e sete em Israel.
A BBC conversou com duas mães — uma palestina e uma judia israelense — que estão no meio dos piores combates que a região já experimentou nos últimos anos.
'Não é fácil esconder seus medos'
Enquanto centenas de mísseis israelenses atingiam Gaza na noite de quarta-feira (12/05), a família de Najwa Sheikh-Ahmad se abrigava no meio de sua casa no primeiro andar.
O medo de que a próxima bomba atingisse sua casa era apavorante além das palavras, disse Najwa.
"Você pode, a qualquer segundo, estar em um bombardeio ao seu redor, visando sua casa ou sua vizinhança", diz ela. "Isso pode transformar o lugar onde você deveria estar seguro em um túmulo para você e seus filhos, para seus sonhos, para suas memórias, para tudo."
Najwa mora com o marido e cinco filhos, de 11 a 22 anos, à beira de um campo de refugiados no centro da Faixa de Gaza — um pequeno pedaço de terra lotado no Mediterrâneo onde vivem 1,8 milhão de pessoas. Dezenas de civis, incluindo 17 crianças, estão entre os mortos nos últimos ataques israelenses contra o grupo islâmico Hamas, segundo autoridades em Gaza.
Israel diz que dezenas dos mortos em Gaza eram militantes e que algumas das mortes foram causadas por foguetes disparados de Gaza.
Os temores de Najwa só aumentaram com a possibilidade de uma ofensiva terrestre israelense em Gaza.
"Você não pode estar segura", diz ela. "Como mãe, é muito assustador, é muito desgastante para os meus sentimentos, para a minha humanidade."
Najwa não tem certeza do quanto deve contar aos filhos sobre a violência que está ocorrendo ao redor deles.
"Eu parei de falar qualquer coisa para eles", diz ela. "[Mas] não é fácil esconder seus medos. Porque você não sabe se este é um lugar seguro ou não."
Mas, apesar de seus esforços para proteger os filhos de conversas sobre brigas, Najwa sabe que é inevitável.
"Eles estão acompanhando as notícias o dia todo, mesmo que eu tenha dito a eles para não fazer isso", diz ela. "Está tudo no Instagram e nas redes sociais. É tudo destruição."
Najwa está preocupada com as repetidas crises de saúde mental para seus filhos. Seu filho mais novo, Mohammed, que está quase completando 12 anos, já viveu os confiltos de Israel-Gaza de 2008-2009 e 2014, que mataram milhares de civis.
"Não consigo imaginar quando ele crescer, quais são as lembranças que ele vai querer contar aos filhos?"
E como os ataques aéreos persistem, Najwa está ciente do efeito que isso está tendo sobre ela também.
"Você não consegue se acostumar com todos os horrores, não consegue se acostumar a ouvir sons de crianças chorando e gritando", diz ela.
'Estávamos com muito medo de ficar'
Quando uma violenta turba árabe-israelense chegou à rua em frente à sua casa na cidade de Lod na noite de segunda-feira (10/05), Tova Levy sabia que era hora de sua família judia israelense fugir.
Ao longo da noite, Tova leu atualizações preocupantes em seu grupo de WhatsApp da comunidade. Amigos enviaram mensagens avisando que uma "turba" havia deixado uma das mesquitas locais e estava causando tumultos em grande escala na cidade mista israelense árabe-judia, situada 15 km a sudeste de Tel Aviv.
Logo, diz ela, os manifestantes estavam perto de sua casa, onde ela mora com o marido e dois filhos pequenos.
"Eles começaram a queimar coisas. [Foi] muito, muito chocante ... Fiquei apavorado", disse Tova. "Eu pensei, 'O que os impede de subir e derrubar minha porta?'"
A família rapidamente empacotou alguns de seus pertences e fugiu para o sul, para a casa do cunhado de Tova, perto de Beersheba. "Saímos porque estávamos com muito medo de ficar", diz ela.
Desde que eles partiram, os combates de rua em Lod explodiram. Protestos de árabes israelenses na cidade se transformaram em tumultos em grande escala na noite de terça-feira. Os manifestantes entraram em confronto com a polícia e incendiaram carros e edifícios, um dia após o funeral de um homem supostamente morto a tiros por residentes judeus. O prefeito da cidade declarou: "A guerra civil estourou em Lod".
Tova pediu a um vizinho para tirar uma mezuzá, um pedaço de pergaminho com a oração Shemá inscrita, que muitas famílias judias fixam nas suas casas como um lembrete da presença de Deus. "Tenho muito medo de que as turbas invadam nossa casa", diz ela.
Tova está preocupada com o que vai sobrar quando eles voltarem.
"Não sabemos se vamos ter uma casa para onde voltar. Não sei se nossa casa vai ser bombardeada quando voltarmos."
Desde que a família de Tova deixou Lod, a cidade está sob ataque de foguetes. Dois árabes israelenses morreram quando um foguete disparado de Gaza atingiu seu carro na quarta-feira.
Enquanto sirenes de ataque aéreo soavam durante a noite, milhares de pessoas se abrigaram em abrigos antiaéreos, incluindo muitos dos vizinhos judeus de Tova que permaneceram em Lod. Eles tiveram que dividir os abrigos com vizinhos árabes, que eles acreditam estarem envolvidos nos distúrbios, aumentando seus temores.
"Algumas das outras famílias decidiram não ir para a escada", diz ela. "Alguns deles desceram um pouco e depois foram embora assim que puderam.
"À medida que as tensões aumentam, Tova não tem certeza de como explicar o que está acontecendo para seu filho de quatro anos e meio.
"Ele sabe que houve explosões por causa de pessoas más", diz ela. "Ainda sinto que não posso dizer a ele que são os árabes que estão fazendo isso conosco. Quero que ele possa viver em paz entre seus vizinhos. Não quero que ele cresça com esse medo dos árabes. "
Tova teme que sua família continue a se ver envolvida no conflito que se agrava.
"Somos todos civis e lutamos uns contra os outros", diz ela. "É assustador; é muito, muito assustador."
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