O conflito no Oriente Médio se agravou nas últimas horas, com a morte de manifestantes na Cisjordânia, protestos de 2 mil palestinos na Jordânia, disparo de foguetes lançados pela primeira vez a partir da Síria em direção a Israel, além do uso de peças de artilharia na fronteira com a Faixa de Gaza. Um membro da milícia xiita libanesa Hezbollah também foi morto por disparos de obuses de Israel na divisa entre os dois países. A aviação israelense intensificou os bombardeios nas últimas horas, forçando mais de 10 mil moradores do enclave palestino de 365km2 a abandonarem suas casas.
Soldados judeus dispararam contra palestinos em Jericó, Nablus, Jenin, Hebron, Ramallah (capital da Cisjordânia) e Siloé, deixando 11 mortos e 150 feridos. A violência prossegue nas “cidades mistas”, onde árabes israelenses e judeus conviviam pacificamente até domingo passado. Mais de 400 pessoas foram presas, e quase 1.000 policiais da fronteira se deslocaram até Lod, Acre e outras localidades.
Até o fechamento desta edição, os bombardeios de Israel sobre a Faixa de Gaza tinham matado 126 palestinos, incluindo 31 crianças e 20 mulheres, e ferido 950. Do lado israelense, os foguetes disparados pelo Hamas deixaram oito mortos, incluindo um soldado. O “Domo de Ferro” (escudo antimísseis) interceptou 90% dos 1.800 foguetes. O Correio recebeu a confirmação de que a notícia divulgada, e depois desmentida, pelas Forças de Defesa de Israel (IDF) de que a ofensiva terrestre à Faixa de Gaza tinha começado na noite de quinta-feira foi uma manobra diversionista. Com a informação sobre a invasão, militantes do Hamas correram até um complexo de túneis construído pelo movimento fundamentalista, no norte do enclave palestino. Israel bombardeou o local, destruindo a infraestrutura. Os túneis eram usados para que combatentes e líderes do Hamas atravessassem a Faixa de Gaza sem serem detectados pelas câmeras dos aviões israelenses.
Dos três artefatos lançados da Síria, dois caíram em áreas abertas ao sul das Colinas do Golã e um em território sírio. Ninguém ficou ferido. Entre as 7h e as 19h de ontem (pelo horário local), 140 foguetes tinham sido disparados da Faixa de Gaza rumo a Israel. Casas em Sderot e em Ashkelon, no sul de Israel, foram atingidas, sem que houvesse vítimas. Também houve ataques contra Beersheva, no Deserto do Neguev. O Conselho de Segurança da ONU deve se reunir amanhã, em caráter virtual, para debater o conflito.
Morador da Cidade de Gaza, o escritor palestino Ahmed Abu Artema, 36 anos, contou que os bombardeios de ontem foram os mais intensos desde 2014. “Nós sentimos medo, mas, ao mesmo tempo, dignidade por causa da resistência à ocupação. Israel ataca lugares para causar danos às pessoas. Há poucos minutos, um amigo recebeu um telefonema para que abandonasse a própria casa, pois seria atacada. Isso aconteceu e tem ocorrido a cada hora”, disse à reportagem. “Há poucos minutos, eles bombardearam um casarão com muitos civis, incluindo crianças. Haverá muitas vítimas”, acrescentou, às 2h de hoje (20h em Brasília). Ele crê que um cessar-fogo deverá ser assinado nas próximas horas.
Intifada
Professor de relações internacionais da Universidade de Nova York e especialista em Oriente Médio, o iraquiano Alon Ben-Meir admitiu o risco de uma terceira intifada (levante palestino). “Especialmente se a atual conflagração continuar, com número crescente de baixas, especialmente entre os palestinos. Eu não acredito que o Hamas e a Autoridade Palestina queira ver tal escalada, sabendo muito bem que, embora ela possa infligir dano sobre Israel, eles não serão capazes de sustentar uma retaliação massiva de Israel, especialmente agora, que os israelenses preparam uma invasão a Gaza.”
Para Ben-Meir, o real propósito da intensificação de bombardeios sobre Gaza é dissuadir o Hamas de manter os disparos de foguetes contra Israel. “Creio que, da perspectiva do Hamas, eles já alcançaram o seu objetivo como o defensor final de Jerusalém e podem reduzir seus ataques com foguetes antes de Israel lançar uma ofensiva terrestre”, avaliou. Ele considera o disparo de foguetes a partir da Síria como uma terceira frente no conflito”. “As forças israelenses certamente retaliarão, mesmo de forma desproporcional. Essa provocação pode muito bem ter vindo do Irã e não das forças sírias. O governo do presidente sírio, Bashar Al-Assad, não está interessado em um confronto militar com Israel.”
Eytan Gilboa, professor de comunicação política da Universidade Bar-Ilan, em Ramat Gan (Tel Aviv), disse ao Correio que, desde o cancelamento das eleições legislativas palestinas, o Hamas tenta tomar a Cisjordânia e transformá-la em uma Gaza. “Ativistas do Hamas começaram os distúrbios na Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém. Fortemente golpeado, o movimento está convocando os seus ativistas a abrirem uma segunda frente contra soldados israelenses na Cisjordânia”, comentou. “Não vejo o perigo de uma terceira intifada. O que o Hamas pretende é eliminar o Fatah e controlar a Cisjordânia, como fez em 2007.”
» Os dois lados
“Aviões atacam em todos os lugares. Eles alvejaram vários bancos, para deteriorar ainda mais a crise. Muitas casas são atacadas, o que aumenta o número de civis mortos. Tenho medo de morrer, mas estamos lutando por nossa liberdade.”
Ahmed Abu Artema, 36 anos, escritor e ativista palestino, morador da Cidade de Gaza
“O Hamas deseja trégua imediata. Israel decidirá quando encerrará a operação, e só o fará quando as perdas do grupo forem suficientes para impedi-lo de atacarem o país. Isso deve levar dias.”
Eytan Gilboa, professor da Universidade Bar-Ilan, em Ramat Gan (Tel Aviv)
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