Religião

Padres alemães desafiam Vaticano e abençoam casais do mesmo sexo

A Congregação para a Doutrina da Fé decidiu em março que as uniões de pessoas do mesmo sexo não podem ser abençoadas, apesar de seus "elementos positivos"

Agência France-Presse
postado em 10/05/2021 13:22 / atualizado em 10/05/2021 13:22
 (crédito: AFP / Denis LOVROVIC)
(crédito: AFP / Denis LOVROVIC)

Padres católicos alemães deram sua bênção a casais do mesmo sexo nesta segunda-feira (10/5), em protesto contra a recusa do Vaticano em aceitá-los.

Mais de 100 igrejas em todo país se inscreveram para organizar serviços religiosos neste dia 10 de maio, ou antes, sob o lema "o amor vence", como parte de um projeto lançado por padres, diáconos e voluntários.

Nos ofícios, todos os casais serão convidados a serem abençoados, independentemente de sua orientação sexual.

"Elevamos nossa voz e dizemos: continuaremos com nosso apoio àquelas pessoas que se comprometerem com uma associação vinculante e abençoem seu relacionamento", segundo nota no site criado para o projeto.

A Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), o poderoso órgão do Vaticano responsável por preservar o credo da Igreja, decidiu em março que as uniões de pessoas do mesmo sexo não podem ser abençoadas, apesar de seus "elementos positivos".

O órgão alegou, que embora Deus "nunca pare de abençoar todos os seus filhos peregrinos neste mundo (...) não pode abençoar o pecado".

Alguns padres alemães reagiram a esse anúncio com uma hashtag on-line pedindo "desobediência".

Embora alguns proeminentes bispos alemães apoiem a atitude do Vaticano, outros acusaram a CDF de buscar sufocar debates teológicos que têm sido muito comuns entre os católicos alemães nos últimos anos.

Em março, 2.600 padres e diáconos alemães assinaram uma petição, solicitando que a decisão da CDF fosse ignorada, assim como 277 teólogos.

A data de 10 de maio foi escolhida para essas bênçãos por estar ligada ao envio de um arco-íris, por parte de Deus, a Noé. Este é o símbolo usado pela comunidade LGBT.

Inspiradas por esta iniciativa, igrejas em cidades como Berlim, Colônia, Hamburgo, Frankfurt e Munique celebrarão missas tradicionais, assim como serviços ao ar livre e atividades on-line.

"Devemos reconhecer, finalmente, enquanto Igreja, que a sexualidade faz parte da vida, e não apenas no casamento entre um homem e uma mulher, mas em todos os relacionamentos amorosos, fiéis, dignos e respeitosos", disse Birgit Mock, copresidente do grupo de trabalho sobre sexualidade do Caminho Sinodal alemão.

Wolfgang F. Rothe, um padre de Munique, abençoou cerca de 30 casais no domingo, sob proteção policial após receber e-mails com ameaças.

"Sinto a necessidade de pagar a dívida da Igreja Católica para com os homossexuais que foram discriminados e excluídos durante décadas", disse o clérigo de 53 anos à AFP.

"A ressonância é enorme", afirmaram os organizadores do projeto, referindo-se aos muitos casais que responderam ao chamado. A iniciativa deve continuar nos próximos dias.

Tanja Hollas, gerente de sistemas, decidiu aproveitar a oportunidade para dizer sim na frente de um padre para sua companheira Claudia na igreja de Santa Agnès em Hamm, no oeste do país.

"Cada vez mais pessoas aspiram a uma Igreja mais aberta, mais livre e, acima de tudo, mais moderna", comentou a mulher de 47 anos à AFP.

"Nós duas somos muito religiosas (...) e é importante para nós que a nossa união não seja selada apenas na frente do prefeito", disse ela, acrescentando que "o amor não pode estar errado".

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