Alimentos

Crises alimentares se agravaram em 2020 entre covid, conflitos e furacões

Segundo relatório, os conflitos continuarão a ser a principal causa das crises alimentares, enquanto a covid-19 e as medidas de restrições sanitárias, continuarão a exacerbar a insegurança alimentar

Agência France-Presse
postado em 05/05/2021 13:01 / atualizado em 05/05/2021 13:01
 (crédito:  Carlos Vieira/CB/D.A Press)
(crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

A insegurança alimentar aguda aumentou em 2020 devido a conflitos, crises econômicas exacerbadas pela pandemia de covid-19 e fenômenos climáticos, alertou nesta quarta-feira (5/5) a Rede Mundial Contra as Crises Alimentares, que prevê um ano 2021 "difícil".

No ano passado, 155 milhões de pessoas em 55 países estavam em situação de "crise" (fase 3 da escala internacional de segurança alimentar) ou "pior".

Isso representa 20 milhões de pessoas a mais do que em 2019, segundo o relatório publicado pela Rede, que reúne a a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a União Europeia e o Programa Alimentar Mundial (PMA).

A "escala terrível de insegurança alimentar grave revelada pelo relatório é um apelo à ação. Devemos agir juntos para evitar que a situação se deteriore ainda mais", disse o diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, durante uma videoconferência.

Devemos "atacar as causas profundas" da fome e "liderar uma transformação corajosa dos sistemas alimentares", acrescentou.

No ano passado, mais de 28 milhões de pessoas em 38 países - sendo República Democrática do Congo, Iêmen e Afeganistão os mais afetados - estavam em uma situação de "emergência alimentar" (fase 4).

E cerca de 133 mil pessoas estavam em uma situação de "catástrofe/fome" em 2020 (fase 5, a mais alta), em Burkina Faso, Sudão do Sul e Iêmen.

"Medidas urgentes foram tomadas para prevenir a mortalidade generalizada e um colapso total dos meios de subsistência", enfatiza o relatório.

"Esses números mostram a gravidade da situação e a importância de uma ação rápida e coordenada", declarou à AFP Dominique Burgeon, diretor da divisão de emergência e resiliência da FAO. "A resposta não deve ser apenas humanitária, mas também trabalhar nas raízes da insegurança alimentar".

"Para 100 milhões de pessoas enfrentando uma crise alimentar aguda em 2020, a principal causa estava relacionada a conflitos e à insegurança", ante 77 milhões em 2019, apontou Burgeon.

Esses conflitos levaram a seis das 10 maiores crises alimentares de 2020 na República Democrática do Congo, Iêmen, Afeganistão, Síria, Nigéria e Sudão do Sul.

Para 40 milhões de pessoas, as crises econômicas foram as principais responsáveis pela insegurança alimentar (eram 24 milhões em 2019).

"A pandemia exacerbou as vulnerabilidades" dos sistemas agrícolas "em todos os níveis", disse Burgeon. O impacto socioeconômico da covid-19 exacerbou as crises no Haiti, Sudão e Zimbábue.

Por fim, para 15 milhões de pessoas, os "choques climáticos" foram a principal causa de sua insegurança alimentar, menos do que em 2019 (34 milhões). Em particular, as tempestades tropicais, furacões e inundações agravaram os problemas alimentares na América Central e no Haiti.

Para 2021, os sinais não são bons. "Será um ano difícil", segundo Burgeon, devido aos conflitos que persistem e à fragilidade das economias devido à covid-19.

"Os conflitos continuarão a ser a principal causa das crises alimentares, enquanto a covid-19 e as medidas de restrições sanitárias que ela implica continuarão a exacerbar a insegurança alimentar aguda em economias frágeis", prevê o relatório.

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