Seis semanas depois do ataque de grupos armados jihadistas em Palma, uma cidade no norte de Moçambique, centenas de refugiados exaustos continuam a fugir a pé, ou de barco, devido à insegurança na região.
Após o ataque surpresa e vários dias de combates que continuaram no final do março, deixando dezenas de mortos, o governo anunciou que o Exército havia recuperado o controle e restaurado a calma. Muitos no terreno questionam isso.
Entre as milhares de pessoas em fuga, muitos encontraram abrigo com familiares, ou em campos de refugiados; outros continuam sua jornada. Em Pemba, capital da província, os barcos continuam a partir.
"Agora que saí de Palma, respiro", disse à AFP Viaze Juma, 34, mãe de quatro filhos. Ela chegou na sexta-feira (30/4) à península de Afungi, onde milhares de deslocados se refugiaram após o ataque a Palma.
O número de deslocados chega a 36.000 em comparação com 30.000 na semana anterior, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
"Isto está piorando dia após dia", disse à AFP a diretora da OIM em Moçambique, Laura Tomm-Bonde.
É difícil ter uma ideia precisa da situação em Palma, pois o acesso à imprensa é estritamente controlado e restrito. As comunicações por meio de telefones celulares, interrompidas por várias semanas, foram retomadas.
O aumento constante do número de refugiados corrobora a impressão de que a situação está longe de se apaziguar.
Disparos noturnos, casas queimadas
"A situação em Palma é muito instável, há disparos regularmente à noite", diz um trabalhador humanitário que garante que cerca de 40 famílias chegam todos os dias a Mueda e Nangade.
Testemunhas falam de incêndios em casas e no mercado. Duas semanas atrás, um homem que voltou para casa após fugir do ataque foi encontrado decapitado, segundo a polícia local.
E Issa Mohamede, que vive em Pemba, confirma que sua família, que se hospedou em Palma, diz que no final de abril houve "tiros noturnos e casas queimadas".
"A situação é claramente volátil", disse um trabalhador humanitário de Pemba, acrescentando que, se "as pessoas continuam fugindo, é porque algo está errado".
Para que "as pessoas abandonem suas casas", apesar de não haver ataques no momento, "elas precisam ter boas razões: elas não se sentem seguras", disse o diretor de emergências da OIM, Jeff Labovitz, à AFP, na semana passada.
"Muitas pessoas continuam chegando" a vários campos de deslocados em um raio de 200 km a sudoeste de Palma, confirma um oficial da ONG Médicos sem Fronteira (MSF).
"Com apenas uma via de saída possível, estamos preocupados que as pessoas não consigam deixar essas áreas", afirmou o Alto Comissariado para Refugiados na semana passada.
Pelo menos 454 menores desacompanhados foram contabilizados nos caminhos do êxodo, segundo Chance Briggs, diretor da ONG Save the Children, que coloca alguns menores em famílias de acolhida.
Há poucos dias, o presidente Filipe Nyusi prometeu "restaurar a situação" e pôr fim aos ataques terroristas "bárbaros" e "malévolos".
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