No espaço

China lança primeiro módulo de sua estação espacial

Politicamente, isto simboliza o fortalecimento da concorrência entre Estados Unidos e China

A China lançou nesta quinta-feira (29) o primeiro dos três módulos de sua estação espacial, a "CSS", que será montada ao longo de 10 missões e deve ficar pronta no fim de 2022.

O módulo central Tianhe ("Harmonia Celestial"), o local onde os astronautas ficarão, foi impulsionado por um foguete Longa Marcha 5B a partir do centro de lançamento de Wenchang, na ilha tropical de Hainan (sul), de acordo com uma transmissão ao vivo do canal público CCTV.

A estação tem a sigla CSS em inglês (Estação Espacial Chinesa) e em chinês recebeu o nome Tiangong ("Palácio Celestial").

A CSS vai operar em órbita terrestre baixa (entre 340 e 450 km de altura) e será parecida com a estação russa "Mir" (1986-2001). A vida útil é calculada entre 10 e 15 anos.

A estação "será um grande avanço para as capacidades chinesas de de voos tripulados", afirmou à AFP Jonathan McDowell, astrônomo do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, nos Estados Unidos. "Isto deve permitir que tenham uma presença humana permanente no espaço e, portanto, aumentar de forma significativa a experiência de seus astronautas".

"Servirá de base para operações em maior escala: missões tripuladas à Lua, turismo espacial, ciência espacial ou inclusive aplicações concretas para os seres humanos", destaca Chen Lan, analista do site GoTaikonauts.com, especializado no programa espacial chinês.

Uma vez concluída, a estação deve pesar quase 100 toneladas. A modo de comparação, a Tiangong será três vezes menor que a Estação Espacial Internacional (ISS).

- "Concorrência" -

Com um comprimento de 16,6 metros e diâmetro de 4,2 metros, o módulo Tianhe lançado nesta quinta-feira também será o elemento central da futura estação e o posto de controle.

Para terminar a construção da CSS, a China terá que lança uma dezena de missões até o fim de 2022, algumas tripuladas, para transportar e acoplar os outros dois módulos. As autoridades do país não divulgaram um calendário.

Mas já foi revelado que o país pretende lançar uma nave de carga Tianzhou-2 em maio e em junho a missão tripulada "Shenzhou 12", que transportará astronautas a bordo da CSS em construção.

Com a CSS chinesa e a ISS liderada pela Nasa (agência espacial dos Estados Unidos), duas estações permanecerão em órbita ao redor da Terra.

"Politicamente, isto simboliza o fortalecimento da concorrência entre Estados Unidos e China", opina Chen Lan.

Mas por seu tamanho e suas cooperações internacionais limitadas no momento, a estação chinesa carece dos meios para disputar com a ISS, "que em geral é mais madura e eficiente", opina Jonathan McDowell.

Pequim se declara aberto a colaborações internacionais. Cientistas chineses e da ONU selecionaram experimentos de pesquisadores estrangeiros, que serão executados na futura CSS.

- Lua e Marte -

"Estes visitantes farão experimentos, mas serão mais turistas do que sócios no funcionamento da estação, ao contrário, por exemplo, do papel mais ativo que os astronautas japoneses e europeus têm na ISS", explica McDowell.

"Rússia e Paquistão serão provavelmente os primeiros sócios e poderiam ser seguidos pela Agência Espacial Europeia (ESA)", mas esta última colaboração é "bastante incerta porque o clima político mudou muito", destaca Chen, em referência às tensões sobre a região chinesa de Xinjiang, onde vive a minoria muçulmana dos uigures, e Hong Kong.

Os astronautas estrangeiros entrarão em algum momento na CSS? Talvez, mas não serão americanos, pois uma lei proíbe a Nasa de estabelecer vínculos com a China.

A China investe bilhões de dólares em seu programa espacial nas últimas décadas para tentar alcançar europeus, russos e americanos.

O gigante asiático enviou o primeiro astronauta ao espaço em 2003.

Uma sonda chinesa posou no lado oculto da Lua em 2019, algo inédito. No ano passado retornou com mostras.

Pequim pretende posar um pequeno robô com rodas em Marte em maio. A agência espacial chinesa também anunciou a intenção de construir uma base lunar com a Rússia.