O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, discursará nesta quarta-feira (28/4) pela primeira vez no Congresso, oportunidade em que deve ressaltar a sua vontade por reformas e em que também anunciará o fim dos cortes fiscais aos mais ricos, aprovado por seu antecessor Donald Trump.
Na véspera do dia em que completará os primeiros e simbólicos 100 dias de mandato, Biden apresentará seu projeto para as "famílias americanas", que o governo considera um "investimento histórico" na educação e na infância.
O discurso é muito aguardado porque deve explicar como Biden pretende financiar seus ambiciosos projetos, em particular com um aumento de impostos para a faixa 0,3% mais rica da população.
"O presidente vai propor uma série de medidas para assegurar que os mais ricos paguem os impostos correspondentes, resguardando ao mesmo tempo que ninguém que receba menos de 400.000 dólares por ano sofra um aumento de impostos", afirmou um alto funcionário do governo que pediu anonimato.
O plano vai exigir a aprovação de um Congresso muito dividido, com uma leve maioria democrata, mas que não garante a tramitação dos projetos.
Um dos eixos é o investimento na edução da pré-escola, creches, ensino superior e outras questões pontuais que, segundo o governo, representam a base para a reconstrução da classe média do país.
O projeto vislumbra um corte fiscal de 800 bilhões de dólares para as pessoas de baixa renda, além de um um trilhão de dólares para investimentos.
Para o alto funcionário, o plano vai gerar uma "economia forte e inclusiva para o futuro".
Vários meios de comunicação especulam que a taxa de impostos para os mais ricos pode até dobrar, passando de 20% a 39,6%.
Progresso "impressionante" contra covid
O discurso também vai marcar o início de um debate acirrado no Congresso, pois apesar de seu plano de alívio de 1,9 trilhão de dólares para uma economia muito abalada pela pandemia ter sido aprovado, o debate sobre seu gigantesco plano de infraestruturas e a reforma da educação gera mais divisões.
No Congresso, o presidente democrata provavelmente vai ressaltar o progresso "impressionante" do país na luta contra a covid-19, palavras que ele usou na terça-feira para descrever a rápida campanha de vacinação.
Quase 96 milhões de pessoas - 30% da população - receberam as duas doses da vacina e na terça-feira as autoridades de saúde recomendaram que as pessoas já imunizadas - ou seja, que desenvolveram anticorpos - não precisam usar máscara em locais abertos, exceto em eventos com muitas pessoas.
"O presidente está trabalhando neste discurso há várias semanas", revelou Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca. Ela disse ainda que Biden abordará questões da diplomacia.
A porta-voz indicou que Biden vai destacar sua determinação de que os Estados Unidos "recuperem seu lugar no mundo" e mencionará as relações com a China.
Os discursos presidenciais no Capitólio são marcados pela pompa e solenidade, uma tradição muito importante na política americana, mas este ano o evento, que começará às 21H00 (22H00 de Brasília), acontecerá em um ambiente particular, marcado pela pandemia.
Convidados "virtuais"
Ao invés das 1.600 pessoas que normalmente acompanham o discurso, a capacidade foi limitada a 200. E os congressistas receberam o pedido para apresentar uma lista de convidados, mas "virtual".
Presidente da Suprema Corte, John Roberts será o único representante do tribunal. Também estarão presentes o secretário de Estado, Antony Blinken, e o comandante do Pentágono, Lloyd Austin, mas os demais integrantes do governo terão que assistir o discurso pela televisão.
Com a pandemia não será necessário escolher o "sobrevivente designado", uma tradição segundo a qual um membro do gabinete permanecia escondido, para que em caso de ataque ao Congresso o governo tenha continuidade.
Outra novidade, mas não relacionada com a pandemia será que Biden estará escoltado por duas mulheres, a líder da Câmara de Representantes, a democrata Nancy Pelosi, e por Kamala Harris, a primeira mulher a ocupar a vice-presidência do país.