O opositor russo Alexei Navalni anunciou nesta sexta-feira, 23, o fim de sua greve de fome iniciada 24 dias atrás para denunciar suas condições de detenção, o que provocou fortes preocupações sobre o agravamento de seu estado de saúde.
"Não retiro meu pedido de ver o médico, pois é necessário. Perdi a sensibilidade de partes de minhas mãos e de minhas pernas (...). Dada esta evolução e essas circunstâncias, começo a encerrar minha greve de fome", escreveu Navalni, em uma mensagem publicada em sua conta do Instagram.
Na quinta-feira, os médicos de Navalni pediram que ele encerrasse o quanto antes sua greve de fome para preservar sua vida e sua saúde, temendo "danos consideráveis" se continuasse com o protesto.
Navalni parou de comer em 31 de março, acusando particularmente a administração penitenciária de rejeitar seu pedido de visita de um médico, apesar de sofrer uma dupla hérnia de disco, segundo seus advogados.
Antes de sua greve de fome, o principal opositor ao Kremlin se queixava também de uma perda de sensibilidade nas pernas que, segundo ele, poderia ser consequência do envenenamento do qual foi vítima em agosto e pelo qual acusa o presidente Vladimir Putin.
Segundo Navalni, os agentes prisionais também o torturavam mediante privação do sono, acordando-o a cada hora durante a noite.
Seu aliado Leonid Volkov disse na quinta-feira à noite que Navalni foi finalmente examinado esta semana em um hospital civil e seu histórico médico foi transmitido aos seus médicos.
"Graças ao enorme apoio de boas pessoas em todo o país e no exterior, fizemos grandes progressos. Há dois meses riam dos meus pedidos de assistência médica, não me davam nenhum remédio", disse Navalni.
O opositor de 44 anos está atualmente em um presídio em Vladimir, 180 km ao leste de Moscou, para onde foi transferido da colônia penitenciária de Pokrov, na mesma região.
O ativista anticorrupção foi preso em janeiro ao retornar para a Rússia após passar cinco meses de tratamento na Alemanha, onde se recuperou do envenenamento.
A Justiça ordenou a reativação de sua pena de 2 anos e 8 meses de prisão, acusando-o de ter violado os termos de sua condicional quando estava na Alemanha. No caso pelo qual foi condenado em 2014, Navalni e seu irmão foram acusados de roubar 500 mil rublos de duas empresas.
Liuv Sobol, uma colaboradora próxima ao opositor que também fez greve de fome em 2019, explicou que os próximos dias "serão muito difíceis" para Navalni.
Segundo Liuv, ele terá "muita vontade de comer algo normal", mas só poderá ingerir sucos e outros líquidos.
Cinco médicos, entre eles sua médica pessoal, Anastasia Vasilieva, pediram que Navalni seja transferido a um hospital "moderno" para que a saída da greve de fome seja acompanhado por profissionais adequados.
Pressão internacional
A prolongada greve de fome, embora arriscada para Navalni pessoalmente, manteve seu caso na agenda dos governos ocidentais, apesar do aumento militar russo na fronteira com a Ucrânia.
O conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, disse este mês que o governo russo enfrentaria "consequências se Navalni morresse". O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, também expressou preocupação e avisou o governo russo: "Há uma grande responsabilidade aqui para o presidente Putin", disse ele.
Na política interna, a greve de fome de Navalni e a deterioração de sua saúde geraram protestos de rua na quarta-feira em cidades da Rússia.
Os protestos levaram policiais de choque para as ruas das principais cidades russas em um dia em que Putin pretendia destacar em seu discurso sobre o estado da nação uma mensagem promissora de crescimento econômico à medida que o país emerge da pandemia do coronavírus.
No fim do dia, a polícia deteve cerca de 1,5 mil manifestantes em todo o país. COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS