A Rússia anunciou que começará na sexta-feira (23/4) a retirada de suas tropas das proximidades da fronteira com a Ucrânia e na Crimeia anexada, ao encerrar as manobras militares que provocaram grande preocupação da comunidade internacional.
Em outra demonstração de uma aparente desescalada, o presidente russo Vladimir Putin disse estar disposto a receber "a qualquer momento" seu homólogo ucraniano Volodir Zelenski em Moscou para abordar as tensas relações bilaterais.
Putin, no entanto, sugeriu que se quiser falar sobre o conflito entre as forças ucranianas e os separatistas pró-russos no leste da Ucrânia, deve procurar os líderes das duas repúblicas autoproclamadas pelos rebeldes.
A presença de dezenas de milhares de soldados perto da Ucrânia - que luta contra separatistas pró-russos no leste - alimentou as tensões e as críticas recíprocas entre Moscou, de um lado, e os ocidentais e a própria Ucrânia do outro.
"Escutamos o anúncio feito pela Rússia de que ia começar a retirar suas tropas da fronteira com a Ucrânia. Escutamos suas palavras, agora esperamos as ações", assegurou o porta-voz da diplomacia americana, Ned Price, garantindo que o país continuará "vigiando a situação de perto".
A Otan foi notificada do anúncio da retirada dos soldados russos, mas assumiu que permanecerá "vigilante", disse um responsável da Aliança.
Poucas horas antes do anúncio russo, o presidente ucraniano elogiou a retirada das tropas russas reunidas perto de seu país, já que "leva a uma redução proporcional da tensão".
"A Ucrânia continua vigilante, mas fica feliz com qualquer medida que possa reduzir a presença militar", tuitou o presidente ucraniano.
Kiev expressou o medo de uma "invasão" russa. Moscou afirma que não ameaça ninguém e denuncia provocações ucranianas e as atividades "ameaçadoras" da Otan em suas fronteiras.
"Defesa confiável"
"As tropas demonstraram sua capacidade de garantir uma defesa confiável", afirmou o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, em um comunicado, no qual explica que deu a ordem de retorno para suas "bases permanentes" a partir de sexta-feira.
Os soldados mobilizados na Crimeia devem partir até 1º de maio, segundo o ministro.
Shoigou visitou a Crimeia, península anexada pela Rússia em 2014, para acompanhar os exercícios militares em um momento de tensão com Kiev e com os países ocidentais.
O ministério da Defesa informou que as manobras envolveram 10.000 militares, a Aeronáutica, quase 40 navios, defesa antiaérea e tropas aerotransportadas.
A Rússia intensificou nos últimos dias os exercícios no Mar Negro e na Crimeia, depois de mobilizar dezenas de milhares de militares na fronteira com a Ucrânia, país com o qual mantém relações tensas desde 2014.
Moscou também limitou por seis meses a navegação dos navios miliares e oficiais estrangeiros em três regiões na costa da Crimeia, especialmente em torno da península de Kerch.
Esta região é muito polêmica pela sua proximidade com o Estreito de Kerch, que une o mar Negro ao mar de Azov, de importância crucial para as exportações de cereais e de aço produzidos na Ucrânia.
Essas limitações foram classificadas como uma "escalada" por Washington.
O conflito continua
No entanto, apesar da redução das tensões na retirada das tropas russas perto da fronteira com a Ucrânia, o conflito entre Kiev e os separatistas pró-russos no leste do país continua, deixando dezenas de mortos desde janeiro.
Pouco antes do anúncio do fim das manobras russas, militares ucranianos perto da cidade de Pisky, na periferia de Donetsk, um dos feudos dos separatistas pró-russos, expressaram suas dúvidas de que o conflito pudesse ser resolvido com o diálogo.
"É um beco sem saída, ninguém quer resolver o conflito pela via diplomática, mas também ninguém quer a guerra", disse o militar Kirilo, de 35 anos.
Kirilo expressa também o desejo de que seu país, a Ucrânia, se junte à Aliança Atlântica.
"Se nos juntarmos à Otan, a Rússia estará cercada pela Aliança em todos os lados e não poderá fazer nada", insiste outro soldado, que responde ao nome de guerra "Joker", de 24 anos.
O conflito no leste da Ucrânia deixa mais de 13.000 mortes desde 2014.