Pandemia

Vacinação com AstraZeneca emperra e Índia bate recorde de infecções

Vários países anunciaram nesta quinta-feira que vão limitar o uso da vacina da AstraZeneca

A desconfiança em relação à vacina AstraZeneca cresce apesar dos esforços de governos e autoridades internacionais, enquanto a Índia anunciou um recorde de infecções por coronavírus nesta quinta-feira(8).

Vários países anunciaram nesta quinta-feira que vão limitar o uso da vacina da AstraZeneca, um dia depois de vários relatórios terem confirmado uma ligação entre ela e casos de coágulos sanguíneos muito raros detectados em pacientes que a receberam.

As Filipinas suspenderam seu uso para menores de 60 anos e a Austrália, para menores de 50 anos.

Na véspera, Itália e Espanha anunciaram que o imunizante do laboratório anglo-sueco só será usado em maiores de 60 anos, enquanto a Bélgica reservou para maiores de 55 e o Reino Unido, para maiores de 30 anos.

França e Alemanha já haviam tomado medidas semelhantes. No entanto, a região espanhola de Castela e Leão (noroeste) decidiu suspender completamente o seu uso, como fez a Dinamarca.

Algumas decisões tomadas apesar da comissária europeia para a Saúde, Stella Kyriakides, apelar aos 27 países da União Europeia (UE) para "falarem a uma só voz" para não suscitarem a desconfiança em relação à vacina, com a qual Bruxelas conta em uma boa parte de sua campanha, atrasada em relação aos Estados Unidos e ao Reino Unido.

Alemanha discute sobre a Sputnik V 

A Alemanha anunciou nesta quinta-feira que quer conversar com Moscou sobre as possíveis entregas de sua vacina Sputnik V, sem esperar a autorização da UE.

"Expliquei ao Conselho de Ministros da Saúde da UE que discutiríamos bilateralmente com a Rússia, para saber quando e quais quantidades poderiam ser entregues", disse o ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, que também disse que a Comissão Europeia não quer negociar a compra do Sputnik V em nome do bloco comunitário.

A UE não é a única preocupada com os atrasos em sua campanha, já que a Indonésia relatou atrasos nas entregas de mais de 100 milhões de doses da vacina AstraZeneca, principalmente devido à imposição de restrições à exportação pela Índia.

Nova Delhi, que abriga o maior fabricante mundial de vacinas (IBS), decidiu priorizar a vacinação de sua população.

Nas últimas 24 horas, na Índia (1.300 milhões de habitantes) foram registrados mais de 126.000 novos casos de covid-19, enquanto até o momento apenas 87 milhões de doses da vacina foram administradas. Segundo a mídia local, há escassez do precioso soro em vários estados, como Maharashtra, onde fica Bombaim.

Pelo menos 708,4 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 foram administradas em todo o mundo, de acordo com uma contagem da AFP baseada em fontes oficiais.

O programa Covax, que visa garantir o acesso às vacinas anticovid para os países mais pobres, expressou seu apoio à AstraZeneca e ficou satisfeito por ter levado a vacinação para mais de 100 territórios ou países ao redor do mundo.

Desigualdades de acesso 

No entanto, existem fortes desigualdades entre os países de "alta renda", segundo os termos do Banco Mundial, onde se concentram mais da metade das doses administradas, e os países de "baixa renda", onde foram administradas apenas 0,1%. doses.

A África continua "à margem", com apenas "2% das vacinas administradas no mundo", denunciou nesta quinta-feira o diretor para a África da Organização Mundial de Saúde (OMS), Matshidiso Moeti.

Em contrapartida, nos Estados Unidos, o país mais sofrido pela pandemia, com cerca de 560 mil mortes, foram injetadas 3 milhões de doses diárias em média na última semana e a previsão é de que a partir de 19 de abril todos os adultos possam ser vacinados.

A pandemia já causou 2,89 milhões de mortes no mundo, segundo balanço da AFP.

Situação "preocupante" na América Latina 

Na América Latina, onde a pandemia causou 811.360 mortes e mais de 25,6 milhões de infecções, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) alertou na quarta-feira que a situação é "preocupante", pois "os casos [de covid-19] aumentam em quase todos os países."

Neste contexto, a Argentina anunciou um toque de recolher noturno a partir de sexta-feira, por três semanas. Cuba aplicará sanções e campanhas com mais rigor, depois que o vírus deixou registros diários de mais de 1.000 casos na última semana.

O coronavírus também bate recorde no Brasil (212 milhões de habitantes), segundo país do mundo mais atingido pela pandemia em termos absolutos, com 340.776 mortes.

O prestigioso instituto brasileiro de pesquisas Fiocruz alertou que, sem o "remédio amargo" das medidas de confinamento, "a pandemia pode permanecer em níveis críticos em abril".

Mas o presidente Jair Bolsonaro, que se opõe às medidas restritivas que alegam danos à economia, descartou: "Não haverá lockdown nacional", disse ele.