O governo espanhol bloqueou o iminente leilão de um quadro atribuído ao círculo do pintor José de Ribera, por suspeitar de que seria, na realidade, do mestre italiano Caravaggio - anunciou o Ministério da Cultura nesta quinta-feira (8).
Fontes do Ministério destacaram à AFP que o quadro foi declarado não exportável da Espanha "como medida cautelar", após um relatório do Museu do Prado que aponta "evidências documentais e estilísticas suficientes" para considerar que a obra seria de Michelangelo Merisi da Caravaggio.
"Vamos ver se é, de fato, um Caravaggio", afirmou o ministro da Cultura, José Manuel Rodríguez Uribes, que defendeu a decisão como "muito adequada, porque o quadro é valioso".
O quadro em questão é "A coroação de espinhos", um "ecce homo" que seria leiloado à tarde pela casa madrilena Ansorena.
A casa de leilões confirmou à AFP que o quadro foi retirado da venda e que foi efetivamente "declarado não exportável e não pode sair da Espanha". A Ansorena acrescentou que vários especialistas estão examinando a obra para verificar sua autoria.
Fontes do Ministério espanhol da Cultura confirmaram que, com o quadro retirado do leilão, agora acontecerá um estudo técnico e científico profundo, com o debate acadêmico para determinar se a "atribuição a Caravaggio é verdadeiramente plausível".
A obra é um óleo sobre tela de 111x86 cm e datada no catálogo da Ansorena como do século XVII, com um preço inicial fixado em modestos 1.500 euros (US$ 1.800).
Maria Cristina Terzaghi, professora de História da Arte Moderna na Universidade de Roma III, havia expressado dúvidas sobre a autoria da obra e afirmou ao jornal italiano La Repubblica que poderia ser de Caravaggio (1571-1610).
Ela disse que o manto púrpura que veste o Cristo deste quadro "tem a mesma qualidade que o vermelho de 'Salomé'" com a cabeça de São João Batista, outro quadro de temática religiosa exposto no Museu do Prado.
Como recorda o jornal italiano, Caravaggio pintou em 1605, em Roma, um "ecce homo" para o cardeal Massimo Massimi.
Um quadro sobre o mesmo tema, cuja descrição corresponde à obra que teve a venda bloqueada em Madri, foi repertoriado em 1631 na coleção de Juan de Lezcano, embaixador espanhol na Santa Sé.
Em 1657, a obra continua na Itália, desta vez, na coleção de García de Avellaneda y Haro, vice-rei espanhol de Nápoles.
A "Salomé" de Caravaggio exposta no Prado também pertenceu à coleção deste vice-rei. Os dois quadros teriam saído da Itália, rumo à Espanha, com seu proprietário em 1659.
O caso faz recordar, em parte, o de outra tela descoberta em 2014, em um celeiro de Toulouse, no sul da França, e atribuída a Caravaggio por vários especialistas.
O quadro "Judith y Holofernes" seria leiloado com um preço de saída de 30 milhões de euros, em junho de 2019. A venda acabou sendo anulada horas antes, graças a uma operação de comum acordo com um colecionador americano ligado ao Metropolitan Museum of Art, segundo jornais.