O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, pediu à Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan) que acelere a adesão de seu país à organização, com o objetivo de enviar um “sinal real” para a Rússia. Moscou protestou imediatamente, em um contexto de crescente tensão entre os dois vizinhos. A adesão dos ucranianos à Aliança Atlântica é uma provocação que Kiev lança ao Kremlin há muito tempo. “A Otan é a única maneira de acabar com a guerra em Dombass (o território do leste do país em conflito com separatistas pró-russos)”, acrescentou Zelenski em tuíte dirigido ao secretário-geral da aliança militar ocidental, Jens Stoltenberg, depois de uma reunião por telefone.
Zelenski prometeu avançar em mudanças necessárias dentro do Exército para se unir à Otan. No entanto, ele alertou que “somente as reformas não deterão a Rússia”. O líder ucraniano reconheceu que o plano de ação para a adesão enviaria “um sinal real” à Rússia. O Kremlin advertiu que essa manobra pode agravar o conflito entre as tropas ucranianas e os rebeldes separatistas apoiados pela Rússia. “Duvidamos muito de que isso possa ajudar a Ucrânia a resolver seu problema interno. Do nosso ponto de vista, isso vai piorar ainda mais a situação”, alertou o porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov.
A escalada militar da Rússia na Ucrânia fez com que Stoltenberg expressasse “séria preocupação” com a situação, somando-se aos Estados Unidos, ao Reino Unido e à União Europeia (UE). Um responsável da Otan, que pediu anonimato, reduziu as expectativas de uma adesão rápida da Ucrânia, ao afirmar à agência France-Presse que Kiev deve “focar em suas reformas e reforçar sua capacidade de defesa conforme as normas” da Aliança.
O apelo do presidente ucraniano ocorre em um momento de plena tensão entre Kiev e Moscou. Na semana passada, a Ucrânia acusou a Rússia de concentrar milhares de tropas em suas fronteiras norte e leste, assim como na Península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.
O governo russo não negou os recentes movimentos de tropas, mas insistiu em que “não ameaça ninguém”. O Kremlin prometeu tomar “medidas” necessárias, no caso de qualquer movimentação militar ocidental na Ucrânia. A escalada verbal e a multiplicação dos confrontos com os separatistas pró-russos acabaram com uma trégua que se prolongou na segunda metade de 2020. Agora, os observadores e diplomatas temem uma retomada do conflito, que começou sete anos atrás. Ontem, o Exército ucraniano anunciou a morte de quatro soldados após uma série de confrontos nas últimas 48 horas. Desde o início do ano, 25 soldados morreram, a metade do total no ano de 2020.