Mercado Financeiro

Opep decide aumentar progressivamente produção de petróleo a partir de maio

A decisão foi tomada apesar das expectativas de que o bloco agiria com prudência

Os países produtores de petróleo vinculados ao acordo Opep+, liderados por Arábia Saudita e Rússia e reunidos em cúpula nesta quinta-feira (1º), decidiram aliviar gradativamente seus cortes na produção a partir do mês de maio.

"A reunião aprovou o ajuste dos níveis de produção para maio, junho e julho de 2021", explicou a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) em nota divulgada no site do cartel após o encerramento da cúpula.

"Decidiu-se aumentar coletivamente o nível atual de produção dos países da Opep+ em maio em 350.000 barris por dia", a mesma quantidade em junho "e em 450.000 em julho", informou o ministério cazaque de Energia em um comunicado.

O cartel também observou "melhorias no mercado apoiadas pelos programas de vacinação" em todo o mundo e "políticas de estímulo nas principais economias", ao mesmo tempo em que destacou a "cautela" necessária diante da "volatilidade observada nos países nas últimas semanas".

A decisão foi tomada apesar das expectativas de que o bloco agiria com prudência.

Dirigindo-se a jornalistas após a reunião, o ministro saudita de Energia, príncipe Abdelaziz bin Salman, disse que a decisão poderia ser revista em reuniões futuras.

Os países produtores de petróleo que integram o acordo Opep+, encabeçados por Arábia Saudita e Rússia, iniciaram nesta quinta sua terceira cúpula ministerial do ano, enfrentando o "mar agitado", embora as campanhas de vacinação tragam esperanças de uma recuperação sustentável da demanda energética.

"A situação mundial está longe de ser homogênea e a recuperação está longe de ser completa", havia dito o ministro saudita no discurso introdutório difundido no site do cartel.

Embora tenha notado "sinais de melhora significativa" do lado da demanda, o ministro lembrou que "o mar continua agitado", enquanto reiterou os méritos da abordagem "cautelosa e moderada" do cartel.

O clube dos 23 produtores deixa de produzir em torno de sete milhões de barris todos os dias e ajusta esse volume mês a mês.

A isso, soma-se um corte de um milhão de barris por parte de Riade, para não inundar o mercado com ouro negro que não poderá ser absorvido, devido aos danos econômicos causados pela pandemia de covid-19.

Sem tal ação, os riscos de saturação das limitadas capacidades de armazenamento e de queda dos preços - em recuperação a cerca de US$ 60 o barril, mas ainda frágeis - são muito reais.

Nos últimos dias, muitos observadores do mercado apostavam em uma manutenção dessa política em maio, ou mesmo em junho.

O mercado também se questiona sobre o futuro do "presente" saudita - o um milhão de barris cortado voluntariamente desde fevereiro.

Quanto à Rússia e ao Cazaquistão, terão, mais uma vez, o direito de aumentar marginalmente sua produção?

O vice-primeiro-ministro russo, Alexander Novak, encarregado de Energia, que também falou no preâmbulo da cúpula, fez um discurso mais otimista do que seu colega saudita, saudando os "resultados" das campanhas de vacinação em todo mundo.

"Vemos que a economia continua se recuperando", acrescentou, ao estimar o déficit atual do mercado em dois milhões de barris por dia.

Depois de um início de ano melhor do que o anterior, a eclosão de uma terceira onda de contágios na Europa e um vírus que está se espalhando em alta velocidade nos mercados em crescimento, como a Índia, abalaram, no entanto, o moral da maioria dos produtores e agitaram os mercados nas últimas semanas.

Em seu último relatório, divulgado em meados de março, a Agência Internacional de Energia (AIE) divulgou estimativas sombrias. Após o choque na saúde, a demanda mundial por petróleo deve levar dois anos para voltar aos níveis anteriores à crise.

O príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman (MBS), também conversou por telefone com o presidente russo, Vladimir Putin, antes da reunião, informou o Kremlin, referindo-se, especialmente, às iniciativas dos dois países em termos de desenvolvimento sustentável.

Discussões também ocorreram na quarta-feira (31/3) entre o lado saudita e a secretária de Energia dos EUA, Jennifer Granholm.

Não sendo membro do acordo, os Estados Unidos continuam sendo os maiores produtores de petróleo do mundo, com 11 milhões de barris produzidos todos os dias.

Perto do meio do dia, os preços do petróleo de referência, Brent e WTI, subiam mais de 2% no início da reunião.

Por Benoît PELEGRIN

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