COVID-19

Parlamento Europeu denuncia "necropolítica" de Bolsonaro

Correio Braziliense
postado em 29/04/2021 21:38
 (crédito: Jan Van De Vel/European Union/Divulgação)
(crédito: Jan Van De Vel/European Union/Divulgação)

No dia em que o Brasil ultrapassou a marca dos 400 mil mortos pela covid-19, as críticas à “necropolítica” do presidente Jair Bolsonaro e ao negacionismo na condução da pandemia dominaram ontem os debates do Parlamento Europeu, em Bruxelas. A proposta inicial era fazer uma exposição da crise sanitária na América Latina, mas as discussões colocaram foco na situação brasileira. O eurodeputado espanhol Miguel Urbán, membro do partido Anticapitalistas e do Grupo da Esquerda do Parlamento Europeu, subiu ao púlpito e cobrou uma iniciativa da comunidade internacional. “Por ação ou omissão, a necropolítica de Bolsonaro constitui um crime contra a humanidade que deve ser investigado”, declarou.
Mais tarde, em entrevista ao Correio (leia Duas perguntas para), Urbán defendeu a adoção de medidas retaliatórias à gestão da pandemia pelo Brasil. “A Europa tem que apoiar a investigação contra o governo Bolsonaro; não ratificar o acordo entre Mercosul e União Eurpeia (UE); canalizar auxílios diretos à sociedade civil e às comunidades indígenas brasileiras, sem passar pelo governo negacionista de Bolsonaro; e cancelar todas as dívidas do país, para que o Brasil possa produzir vacinas e avançar na campanha de imunização”, afirmou.
Urbán lembra que fazer frente à pandemia da covid-19 é um desafio global, mas ressalta que o surto em alguns países foi exacerbado depois que governos minimizaram a gravidade da doença, promoveram tratamentos sem base científica, atrasaram deliberadamente a vacinação e evitaram medidas de contenção. “Um desses países foi justamente o Brasil”, ressaltou. O eurodeputado acrescentou que a covid-19 aprofundou as desigualdades estruturais e persistentes no Brasil, e afetou principalmente a vida de grupos em situação de vulnerabilidade. “Mais de 19 milhões de brasileiros e brasileiras passam fome no país, e 116 milhões sofrem de insegurança alimentar. Uma catástrofe humanitária e social”, lamentou.

“Incubadora”

Durante a sessão do Parlamento Europeu, Jordi Solé, outro eurodeputado espanhol, advertiu que a gestão da pandemia por parte do governo brasileiro “pode transformar o Brasil em incubadora de novas cepas” do Sars-CoV-2. Por sua vez, a legisladora portuguesa Isabel Santos citou o “negacionismo irracional” de Bolsonaro como fator agravante e acusou o presidente de “fazer tudo para que a população não seja vacinada”. “Não é um erro, e sim uma irresponsabilidade deliberada”, opinou. O também português Paulo Rangel declarou que o impacto da pandemia foi intensificado “por erros políticos e por visões negacionistas, como é o caso do Brasil” — sem mencionar diretamente Bolsonaro. Leopoldo López, também eurodeputado espanhol e pai do líder opositor venezuelano homônimo, fez questão de destacar “a negação da gravidade por parte dos governantes de alguns dos países com maior população”. (RC)

» Duas perguntas para

Miguel Urbán, eurodeputado espanhol pelo partido Anticapitalistas e membro do Grupo da Esquerda do Parlamento Europeu, em Bruxelas

Como o senhor analisa a condução da política de Bolsonaro no enfrentamento à pandemia da covid-19?
A política de Bolsonaro tem sido marcada por um ataque direito às maiorias sociais do Brasil, à opinião pública, ao meio ambiente e a qualquer um que se coloque à frente de seu projeto político ultraneoliberal. Todas as medidas que ele tomou no contexto da crise da covid-19 apontam nesta direção. Recomendar tratamentos (com hidroxicloroquina) sem base científica, financiando inclusive sua produção; promover aglomerações e reuniões multitudinárias; boicotar a campanha de imunização desde o início da pandemia; ou minar o trabalho e a coordenação do sistema pública de saúde. No lugar do vírus, Bolsonaro declarou guerra à medicina, à ciência e à vida. A pandemia e sua nefasta gestão exacerbaram as lacunas e os problemas sociais que já existiam no Brasil e no mundo.

De que forma o senhor vê a ameaça representada por Bolsonaro a outras nações, no que diz respeito à pandemia?
Bolsonaro é parte dessa minoria perigosa que coloca os benefícios de poucos sobre a vida e os direitos das maiorias sociais e do planeta. Vários estudos assinalam que ele expandiu a pandemia de forma deliberada. O resultado deste projeto necropolítico é que o Brasil se converteu no epicentro da pandemia, com 12% das mortes e 10% dos contágios pelo coronavírus em todo o mundo; é o primeiro país latino-americano com o maior número de óbitos causados pelo coronavírus. (RC)

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