Com a cabeça inclinada para trás, o imã Abdallah Hajjir se submete a um teste de coronavírus por meio de swab nasal do lado de fora de uma mesquita em Berlim. "Negativo!", comemora minutos depois, antes de entrar no recinto para as orações de sexta-feira (23/4).
O teste de detecção oferecido pela prefeitura de Berlim é realizado em frente ao prédio de tijolos vermelhos que abriga a "Casa da Sabedoria".
Neste mês de jejum do Ramadã, as autoridades locais realizam um trabalho de prevenção e informação para os muçulmanos em Berlim e, de forma mais geral, para os imigrantes, especialmente expostos ao vírus.
Em um estacionamento adjacente ao prédio religioso, uma equipe médica - formada por líbios, sírios e armênios - testa os fiéis que se aproximam com seu tapete de oração na mão.
Proteger a sociedade
Para o imã Abdallah Hajjir, oferecer os testes é uma forma "de contribuir" para a luta contra a pandemia.
"Ao proteger os membros da nossa comunidade, protegemos todos aqueles que estão em contato com eles, portanto a sociedade", estima.
Em Berlim, onde vivem 35% das pessoas de origem estrangeira, o maior número de infecções foi registrado nos bairros com maior proporção de população imigrante.
Esses bairros tendem a ter uma taxa de desemprego acima da média e uma alta densidade populacional.
Muitas vezes, vários imigrantes vivem em pequenos apartamentos ou mesmo em abrigos para migrantes com 3, 4 e até 5 pessoas por quarto.
Em outubro, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) alertou que trabalhadores imigrantes de países desenvolvidos estavam "na linha de frente" da crise de saúde.
A organização, que reúne cerca de 40 países desenvolvidos, avaliou que o risco de infecção era "pelo menos duas vezes maior" do que o do restante da população.
Na Alemanha e em outros países, muitos estrangeiros ou pessoas de origem estrangeira trabalham em setores pouco compatíveis com o teletrabalho, como limpeza ou cuidado de idosos, segundo o instituto DeZim.
Em Berlim, aproveitando o ímpeto da campanha de vacinação, as autoridades tentam superar "a grande relutância" de alguns imigrantes contra a vacina, segundo a responsável pelas questões de integração da prefeitura, Katarina Niewiedzial.
"Informações falsas circulam" sobre a vacinação devido à ignorância "que varia de 'eu ficarei estéril' a 'eu terei um microchip implantado'", diz.
Para ela, um imã "com toda a sua autoridade" é aquele que melhor pode "inspirar confiança nas pessoas".
"É claro que tem um impacto completamente diferente quando em um sermão como este menciona a necessidade de proteger vidas", acrescenta.
Berlim também lançou podcasts informativos em mais de dez idiomas, incluindo árabe, curdo e farsi.
A vacinação dos 18.500 refugiados que vivem em alojamentos coletivos, considerados de alta prioridade, apenas começou.
Em frente à mesquita do bairro de Moabit, um pequeno grupo de fiéis desenrola o tapete no asfalto e ouve o sermão do imã, cuja voz transcende as paredes da sala de oração.
Como poucos fiéis têm permissão para entrar no prédio religioso, eles são obrigados a orar do lado de fora, em uma parte da calçada.
E devem fazer abluções antes de chegar à mesquita.
Ali, de 30 anos, que vem todas as sextas-feiras, se recusa a permitir que as restrições arruínem o mês sagrado do Ramadã pelo segundo ano consecutivo.
"É uma pena, não podemos agendar grandes reuniões familiares (para quebrar o jejum), mas felizmente há videochamadas com a família", diz ele pragmaticamente.
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