Centenas de corpos em seus caixões aguardam semanas e até meses para serem cremados em Roma, uma situação dramática devido à lentidão da burocracia que gerou um protesto incomum nesta sexta-feira (16/4) de proprietários de casas funerárias.
"Pedimos à prefeita de Roma (Virginia Raggi) que ponha fim aos numerosos procedimentos atuais para obter rapidamente as autorizações necessárias para a cremação", explicou Giovanni Caccioli, secretário nacional da Federação Italiana de Diretores de Funerárias, entre os organizadores da manifestação em frente ao templo romano de Hércules Víctor, a poucos metros da prefeitura da capital.
Para Caccioli, Roma registra entre 15.000 a 18.000 pedidos de cremação a cada ano, forçando as famílias a empreender uma jornada "tortuosa" entre os administradores do cemitério, a empresa municipal e o cartório de registro do estado civil.
A pandemia complicou estes procedimentos devido ao aumento de mortes e ao acesso limitado aos serviços públicos.
“Esta é uma situação absurda”, denunciou Caccioli, rodeado de colegas que vieram com coroas fúnebres com a frase “Perdoem-nos, mas não nos deixam enterrar os seus entes queridos”.
“Tudo é feito à moda antiga”, lamenta o dirigente que estima atrasos de “35-40 dias”, “situação gravíssima para uma família que acaba de sofrer um golpe”, destaca.
“Não dá para continuar assim (...) A autorização para obter a cremação deve ser emitida em um ou dois dias no máximo”, exigiu.
Nas demais cidades da Itália, é o cartório de registro civil que concede diretamente as autorizações no prazo de 24 a 48 horas.
Maurizio Tersini, de 59 anos, que dirige a agência funerária Le Sphinx, estima que cerca de 1.800 caixões estão esperando em armazéns refrigerados na capital para serem cremados. “Isso nos causa muito sofrimento, para as famílias”, reconheceu.
- A dor dos familiares -
Lorella Pesaresi perdeu o marido em janeiro, após contrair covid quando teve que começar a quimioterapia. “Já se passaram três meses e ainda não cremaram meu marido (...) Não é justo, primeiro a covid e agora isso”, lamentou.
Além dos problemas burocráticos, Roma tem um verdadeiro congestionamento nos cemitérios, algo muito frequente no passado e agravado pelo aumento dos pedidos de cremação nos últimos anos, que passaram de 5.820 em 2006 para mais de 17.000 em 2019.
Por este motivo, as autoridades aprovaram a construção de novos fornos para aumentar a capacidade em 66%.
No momento, os proprietários de casas funerárias transportam cadáveres para outras cidades para cremação, aumentando ainda mais os custos e atrasos em detrimento das famílias dos falecidos.
Esta semana, um italiano optou por expressar sua dor com uma mensagem para sua falecida mãe em vários outdoors por toda Roma com o objetivo de denunciar a escassez de cemitérios.
"Mamãe, perdoe-me por não ter podido enterrá-la ainda", diz a enorme mensagem de 9 por 7 metros instalada por Oberdan Zuccaroli, que perdeu sua mãe de 85 anos em 8 de março devido a um ataque cardíaco.
O dono de uma empresa de cartazes garantiu que vai instalar mais 250 cartazes indignados porque sua mãe ainda não foi enterrada, assim como sua tia, que morreu no dia 9 de janeiro por outras causas além do vírus.
A empresa municipal que administra os cemitérios romanos (AMA) garantiu na segunda-feira à imprensa que teve de lidar com um aumento de 30% nas mortes, de outubro de 2020 a março de 2021.
De acordo com estatísticas oficiais, a pandemia de coronavírus matou mais de 115.000 pessoas na Itália desde que se espalhou em março de 2020.
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