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Novos pedidos para o fim da violência na Irlanda do Norte

Para evitar o retorno de uma fronteira física entre a Irlanda do Norte e a vizinha República da Irlanda - país-membro da UE -, Londres e Bruxelas chegaram a um acordo para dispositivos especiais conhecidos como o "protocolo norte-irlandês"

Correio Braziliense
postado em 09/04/2021 15:56 / atualizado em 09/04/2021 16:58
 (crédito: PAUL FAITH)
(crédito: PAUL FAITH)

O governo britânico reiterou seu pedido de calma nesta sexta-feira (9/4), após a 10ª noite de confrontos violentos na Irlanda do Norte, onde grupos sindicalisas pediram a interrupção dos protestos após a morte em Londres do príncipe Philip.

Desde que, em 30 de março, um grupo de jovens lançou coquetéis molotov contra uma viatura policial em Londonderry, os atos violentos não param de aumentar, especialmente nas zonas unionistas desta província britânica, onde os efeitos da saída da União Europeia provocaram um sentimento de traição e amargura.

Os incidentes reavivaram o fantasma de três décadas de violento conflito entre republicanos católicos e unionistas protestantes, que deixaram quase 3.500 mortos até a assinatura do acordo de paz da Sexta-Feira Santa de 1998.

Apesar dos pedidos de Londres, Dublin e Washington pelo fim da violência, a capital norte-irlandesa, Belfast, voltou a ser cenário de confrontos na quinta-feira (8/4) à noite.

Em um distrito da zona oeste, a polícia foi alvo de coquetéis molotov e de pedras, quando tentava impedir que centenas de manifestantes republicanos se aproximassem dos unionistas. As forças de segurança usaram jatos d'água para dispersar a multidão.

Mais de 70 policiais ficaram feridos desde o início destes distúrbios sem precedentes em vários anos na região.

No entanto, a inesperada morte nesta sexta-feira (9/4) do príncipe Philip, esposo de 99 anos da rainha Elizabeth II, poderia gerar uma paz temporária para a região.

Após o anúncio de sua morte, surgiram cartazes em Belfast que, em nome de grupos sindicais protestantes, pediam que "os protestos sejam adiados para depois do período de luto" nacional como "demonstração de respeito à rainha e à família real".

- Situação "muito preocupante" -


"A violência não tem nada a ver com a resolução dos problemas", insistiu o ministro dos Transportes, Grant Shapps, que classificou a situação como "muito preocupante".

"Temos que garantir que as pessoas conversem para resolver seus problemas, não por meio da violência", completou.

A irmã de Lyra McKee, uma jornalista morta por tiros de republicanos dissidentes em confrontos em Londonderry em 2019, fez um apelo aos políticos norte-irlandeses para que "retomem o diálogo com aqueles que dizem estar tão descontentes que optam pela violência", alegando que alguns foram "ignorados", enquanto outros "acenderam o fogo".

"Precisamos de uma liderança boa e verdadeira antes que alguém seja morto", suplicou Nichola McKee Corner em uma entrevista ao canal RTE.

Na quinta-feira (8/4), os primeiros-ministros britânico, Boris Johnson, e irlandês, Micheál Martin, uniram-se aos líderes norte-irlandeses, tanto unionistas quanto republicanos, para condenar a violência "injustificável".

A Casa Branca também pediu calma e alegou preocupação. O presidente Joe Biden, orgulhoso de suas origens irlandesas, já havia expressado preocupação com as consequências do Brexit para a paz na região.

- "Paz superficial" -


Desde o acordo de 1998, existe uma "paz superficial", afirmou à AFP Fiona McMahon, uma moradora de Belfast de 56 anos. Mas o conflito "está muito arraigado, não é apenas pelo Brexit", completa.

Ao exigir a introdução de controles alfandegários entre o Reino Unido e a UE, a saída do bloco abalou o delicado equilíbrio entre as comunidades da província.

Para evitar o retorno de uma fronteira física entre a Irlanda do Norte e a vizinha República da Irlanda - país-membro da UE -, Londres e Bruxelas chegaram a um acordo para dispositivos especiais conhecidos como o "protocolo norte-irlandês".

Com o acordo, a província britânica permaneceu sob as normas do mercado único europeu, e os controles alfandegários foram transferidos para o Mar da Irlanda, entre a ilha e o restante do Reino Unido.

Apesar de ser um trâmite basicamente administrativo - reservado apenas para as mercadorias, e não para as pessoas -, o protocolo despertou nos unionistas, apegados à coroa britânica, um sentimento de separação do restante do país e de traição por parte de Londres.

"Há formas políticas de falar do protocolo norte-irlandês", declarou à rede BBC um deputado do partido republicano Sinn Fein, ex-braço político do dissolvido Exército Republicano Irlandês (IRA).

"Não tentemos encontrar justificativas para grupos criminosos que não deveriam existir 23 anos depois do Acordo da Sexta-Feira Santa", completou.

"Não havíamos visto este nível de distúrbios em vários anos em Belfast e em outros lugares", disse ontem o policial Jonathan Roberts, que apontou a participação nos confrontos de jovens de apenas 13, ou 14 anos, "estimulados" por adultos.

Mas nesta sexta-feira considerou que a violência "não foi orquestrada por nenhum grupo", apesar de antes ter mencionado paramilitares. Ele apelou aos pais e líderes comunitários a dissuadirem os jovens de participar dos confrontos.

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