As ações da plataforma de entrega de comida Deliveroo despencaram nesta quarta-feira (31/3) em sua estreia na Bolsa de Valores de Londres, após um IPO que levantou questões sobre seu modelo de negócios e a situação trabalhista de seus entregadores.
O preço das ações chegou a cair brevemente mais de 30% na primeira hora de negociações e sua alta volatilidade causou uma breve suspensão.
Às 8h20 GMT (5h20 de Brasília) o preço caiu 21%, a 3,08 libras (US$ 4,24), bem abaixo do preço do IPO definido no dia anterior - a 3,90 libras -, em uma operação para a qual a empresa já havia revisado em baixa suas expectativas.
Assim, o grupo foi avaliado em 7,6 bilhões de libras (10,5 bilhões de dólares), apesar de inicialmente ter esperado atingir 8,8 bilhões de libras no maior IPO no Reino Unido desde 2011.
A empresa britânica, fundada em 2013 e conhecida por seu aplicativo que permite pedir comida em restaurantes e recebê-la em casa, abriu o capital em Londres às 07h00 GMT (4h00 de Brasília), numa operação inicialmente reservada a investidores profissionais, que será aberta ao público em geral em 7 de abril.
Na opinião de Sophie Lund-Yates, analista da Hargreaves Lansdown, essa queda no preço das ações "não é uma grande surpresa, dado o contexto que envolve a empresa".
"O principal receio gira em torno da regulamentação dos direitos dos trabalhadores", afirma, sublinhando que "o modelo de flexibilização laboral dos entregadores é um pilar fundamental dos planos de sucesso do grupo", afirma.
- Risco de conflito trabalhista -
Os investidores podem decidir prescindir desta ação tendo em vista os riscos que representa para a empresa uma alteração da situação laboral, com ações judiciais em vários países e obrigada a evoluir noutros.
Especialmente porque a Deliveroo ainda não é lucrativa, apesar de um ano de pandemia e confinamentos favoráveis ao comércio eletrônico.
A operação reacendeu o debate sobre a precariedade dos trabalhadores autônomos que se tornaram símbolos da "gig economy" - a economia de pequenos empregos que desempenham um papel crucial no modelo de negócios das plataformas digitais.
O sindicato britânico de trabalhadores autônomos, o IWGB, organiza uma ação em 7 de abril para exigir melhores condições trabalhistas da Deliveroo.
A empresa, que emprega 2.000 pessoas, trabalha com 115.000 restaurantes em 800 cidades ao redor do mundo e tem cerca de 100.000 entregadores.
A viabilidade de seu modelo de negócios agora preocupa até os investidores mais influentes da City.
"A Deliveroo pediu um preço muito alto para uma plataforma de entrega que está perdendo em um setor muito competitivo e com dúvidas sobre suas perspectivas de lucratividade", resumiu Neil Wilson, analista da Markets.com.
Alguns investidores podem ter ficado desencorajados com a decisão do fundador e dirigente do grupo, Will Shu, de optar por um sistema de ações com dois níveis por um período de três anos para manter o controle e ao mesmo tempo ceder parte do capital.
"Este é certamente um resultado decepcionante para um IPO que inicialmente gerou muito entusiasmo", considera Michael Hewson, analista da CMC Markets.
Em seu denso documento de apresentação ao mercado de ações, a empresa não mencionou os famosos critérios ESG (social, ambiental e de governança), que se tornaram quase inevitáveis no mundo dos negócios.
Em vez disso, observou que reservou 112 milhões de libras em 2020 para lidar com as consequências de litígios em andamento. Em particular, os entregadores estão lutando nos tribunais do Reino Unido na tentativa de obter um acordo coletivo.