Sem mortes em 24 horas, Londres alivia restrições

Primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, flexibiliza lockdown e autoriza encontros de pequenos grupos a céu aberto, além da prática de atividades físicas. Reduções nos números de óbitos e de infecções, no país, coincidiram com o sucesso da vacinação


O sucesso da campanha de imunização contra a covid-19 levou o Reino Unido a iniciar a segunda fase de flexibilização do lockdown. O alívio das restrições sociais coincidiu com um dado que parece confirmar o impacto da vacina: pela primeira vez em seis meses, Londres não registrou, ontem, nenhuma morte provocada pela covid-19. A segunda-feira foi marcada por parques lotados. As novas medidas anunciadas pelo governo do primeiro-ministro Boris Johnson incluem a permissão de encontros em pequenos grupos a céu aberto e de atividades físicas ao ar livre. “Somente graças a meses de sacrifício e esforço podemos dar este pequeno passo em direção à liberdade, hoje, e devemos proceder com cautela”, advertiu Johnson, durante entrevista coletiva transmitida em rede nacional de televisão.
Ante a ameaça de uma variante muito mais infecciosa do coronavírus, detectada no sul da Inglaterra, no fim de 2020, Londres fechou centros de lazer e estabelecimentos comerciais, em dezembro, e decidiu não reabrir as escolas após o recesso de Natal. Até o fechamento desta edição, 30,5 milhões de britânicos tinham recebido a primeira dose da vacina, o equivalente a 60% da população adulta do país.
O Reino Unido administrou, até o momento, as vacinas AstraZeneca/Oxford e Pfizer/BioNTech. Agora, enfrenta uma redução no abastecimento dos fármacos justamente no momento de aplicar a segunda dose — apenas 6 milhões de pessoas foram beneficiadas.
O governo de Johnson espera receber do laboratório norte-americano Moderna, no próximo mês, cerca de 17 milhões de doses. Ontem, o premiê anunciou ter chegado a um acordo com o laboratório GlaxoSmithKline para enviar à Inglaterra as vacinas desenvolvidas pela Novavax. Isso “nos fornece entre 50 e 60 milhões de doses de vacinas fabricadas no Reino Unido”, desde que seja aprovado pelo regulador britânico para uso, afirmou Johnson.
O desconfinamento progressivo, previsto para se estender até o fim de junho, entrou em nova fase, ontem, com a autorização para organizar reuniões de até seis pessoas em locais abertos — como parques ou jardins particulares — e a reabertura de áreas de golfe, tênis e piscinas descobertas, apesar da baixa temperatura da água.
Com trajes completos de neoprene — ou, no caso dos mais corajosos, sem as roupas especiais —, algumas pessoas nadavam desde cedo ao lado de cisnes nos lagos dos parques londrinos. “Não nadamos desde 5 de janeiro, sendo assim temos muita vontade de voltar à água”, disse à agência France-Presse Jessica Walker, enrolada em uma toalha com a bandeira britânica na piscina externa de Hillingdon, no noroeste de Londres. “É muito estimulante, é absolutamente fantástico tanto para a saúde mental quanto a física”, acrescentou, desfrutando de um clima incomumente quente e ensolarado, que à tarde fez proliferarem piqueniques sobre o gramado úmido dos parques.
O próximo passo rumo ao fim do confinamento na Inglaterra está previsto para 12 de abril, com a reabertura de áreas externas de bares e restaurantes, assim como estabelecimentos não essenciais, inclusive salões de cabeleireiro. Permanecem proibidas as viagens ao exterior. Segundo o plano do governo, elas voltarão a ser permitidas, na melhor das hipóteses, a partir de 17 de maio.
As autoridades continuam estimulando o teletrabalho e pedem que a população evite os transportes públicos. Também está legalmente suspensa a ordem para “ficar em casa” no país mais afetado da Europa pela pandemia. Até agora, são mais de 126.600 mortes confirmadas pela covid-19.

Prudência

A polícia londrina insistiu em que “todas as grandes reuniões” continuam proibidas e prometeu atuar rapidamente contra as festas em locais fechados e em encontros com multidões.Ontem, Johnson pediu que não haja muito relaxamento nas medidas e defendeu o respeito às restrições. O premiê advertiu sobre o risco de reimpor um confinamento com graves consequências econômicas e psicológicas.
Ao parabenizar o fato de que no domingo foi registrado “o menor numero de novos contágios em seis meses” (menos de 4 mil) e pela redução nas mortes e instalações hospitalares em todo o país, Johnson alertou que “a onda de infecções segue crescendo” no continente europeu. Ele lembrou que variantes novas e mais resistentas à vacina podem chegar ao Reino Unido.

“Estamos longe de vencer a guerra”, adverte Joe Biden
O governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou a intensificação da campanha nacional de vacinação contra a covid-19, mas pediu para a população não baixar a guarda com as medidas sanitárias diante de uma alta de contágios. “Nosso trabalho está longe do fim. Estamos longe de vencer a guerra contra a covid-19”, disse o presidente na Casa Branca em declarações à televisão.

Presidente do Uruguai é vacinado e descarta quarentena
O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou (foto), recebeu a primeira dose da vacina contra a covid-19 e descartou decretar quarentena obrigatória, apesar do aumento de mortes de pacientes infectados no país. “O governo não vai estabelecer a quarentena obrigatória, porque não crê em um Estado policial”, disse o presidente, em entrevista coletiva na saída do centro de vacinação, onde recebeu a primeira dose da CoronaVac, do laboratório chinês Sinovac. Com 3,4 milhões de habitantes, o Uruguai registra 97.406 infecções e 915 mortes.

Cuba testa segunda vacina anticovid em 124 mil pessoas
Pelo menos 124 mil trabalhadores da saúde em Cuba começaram a receber a vacina Abdala — o segundo imunizante experimental contra a covid-19 que a ilha testa em grupos de risco. “O estudo de intervenção controlada com a vacina Abdala foi aprovado pela agência reguladora cubana (Cecmed) no sábado, 27 de março, e hoje, segunda-feira, estamos iniciando a vacinação”, disse à TV cubana o diretor de Ciência e Inovação do grupo BioCubaFarma, Rolando Pérez. O grupo destacou que 124 mil cubanos de 19 a 80 anos, “com risco elevado” de contrair o coronavírus, vão participar do estudo.